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Coleta seletiva é retomada em Votorantim

Coopervot suspendeu recolhimento durante 15 dias, devido ao acúmulo de material em seu galpão

03 de Fevereiro de 2024 às 22:01
Vanessa Ferranti [email protected]
O problema foi ocasionado pela diminuição do número de cooperados, depois da queda nos preços dos materiais recicláveis
O problema foi ocasionado pela diminuição do número de cooperados, depois da queda nos preços dos materiais recicláveis (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (2/2/2024))

 

A Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis de Votorantim (Coopervot) voltou a fazer a coleta seletiva nas residências do município, após uma pausa de 15 dias, devido ao expressivo acúmulo de materiais em sua sede. O problema foi ocasionado pela diminuição do número de cooperados, depois da queda nos preços dos materiais recicláveis. O desafio foi intensificado com o temporal que afetou a região de Sorocaba em janeiro, dificultando ainda mais a execução das atividades.

O serviço de coleta da cooperativa foi retomado na segunda-feira (29). A equipe da Coopervot iniciou a arrecadação pelos bairros Vila Amorim, Votocel, Parque São João, Jardim Icatu, Parque Bela Vista e Jardim Paraíso. Amanhã (5), o caminhão passará na Vila Nova, Vila Irineu, Vila Dominguinho, bairro da Chave e Barra Funda. Na terça-feira (6), será a vez do Jardim Archila, Jardim Toledo e Jardim Rodrigues. A coleta em outros bairros também deve ser retomada a partir da próxima semana.

Segundo a presidente da cooperativa, Marlene Barros Dias, a Copervot contava com 30 cooperados. Após a queda do preço dos materiais, apenas 14 permaneceram na unidade. “As pessoas desistiram de trabalhar. Precisamos parar por um período de fazer a coleta seletiva para podermos desacumular isso daqui”, ressaltou, referindo-se ao acúmulo de material na sede da Coopervot.

Renda prejudicada

Ainda conforme Marlene, o preço do papelão prensado, por exemplo, foi um dos mais prejudicados. O material, que em épocas boas já chegou a custar R$ 1,00 o quilo, atualmente está entre R$ 0,10 e 0,30.

Com o valor baixo para a venda, a renda dos cooperados também foi prejudicada. Antes da queda, os trabalhadores retiravam cerca de R$ 1.500,00 a cada 17 dias. Hoje, o valor caiu pela metade. “Para tirarmos R$ 800,00 precisamos trabalhar muito mais. O que fazíamos em uma carga, precisamos fazer em duas”, declarou Marlene.

Luiz Carlos Alberto Pereira tem 60 anos e trabalha há 14 na Coopervot. Foi por meio da cooperativa que o trabalhador conseguiu proporcionar os cuidados necessários para a sua família. Mesmo com as dificuldades, ele garante que irá continuar na função. “O nosso ramo é cuidar do meio ambiente e vamos lutar até o fim. Não vamos desistir e nem abrir mão da cooperativa. Mesmo com poucas pessoas, estamos fazendo o possível. Retornamos agora com a coleta, fomos à luta e estamos conseguindo”, disse Pereira.

Aos 42 anos de idade, Celso Roberto Dias dos Santos já é cooperado há seis anos. Ele ressalta a importância de novas pessoas na cooperativa para que o problema relacionado ao acúmulo de material não se repita. “Todo mundo está ajudando, estamos limpando e precisando de pessoas para trabalhar aqui para nos dar uma força”.

Pessoas interessadas em trabalhar na Coopervot podem procurar a cooperativa. A sede está localizada na avenida Jaziel Azeredo Ribeiro, 680, em Votorantim.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) de Votorantim informou que tem auxiliado a Coopervot por meio da cessão do terreno e do galpão utilizado como centro de triagem de materiais recicláveis. O governo municipal também oferece prensa hidráulica, balança, micro-ônibus para transporte dos cooperados e dois caminhões de coleta. O segundo veículo, com capacidade para 40 metros cúbicos, foi entregue em abril de 2023.

O custeio da água, energia elétrica, combustível e óleo também é feito pela municipalidade, assim como as despesas com troca de pneus e manutenção dos veículos da cooperativa.

Problema nacional

A queda dos preços dos materiais recicláveis ocorre há mais de um ano e afeta todo o Brasil. Segundo informações divulgadas pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), o quilo de papelão, principal material comercializado em São Paulo, por exemplo, atualmente vale cerca de R$ 0,15. Uma das razões, segundo o movimento social, é a isenção de impostos na importação de materiais recicláveis vindos de outros países.

Segundo o Governo Federal, as alíquotas do Imposto de Importação para resíduos de papel e vidro estavam estabelecidas em 0%. Já no caso das importações de resíduos plásticos, a tarifa aplicada era de 11,2%.

Em julho, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que faz parte da estrutura do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), decidiu elevar para 18% as alíquotas do Imposto de Importação cobradas sobre a entrada no Brasil de resíduos de papel, plástico e vidro. Segundo o órgão, a medida tem como objetivo fortalecer a cadeia nacional de reciclagem de resíduos sólidos e minimizar impactos nocivos desses materiais ao meio ambiente brasileiro. Apesar da medida, atualmente, os preços continuam em queda no País.

Queda nos preços também afeta cooperativas em Sorocaba

Barracão da Coopereso também está saturado, mas o motivo é a falta de comprador, diz a presidente, Miraci - FÁBIO ROGÉRIO (2/2/2024)
Barracão da Coopereso também está saturado, mas o motivo é a falta de comprador, diz a presidente, Miraci (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (2/2/2024))

A queda nos preços dos materiais recicláveis também afeta cooperativas de Sorocaba. A Cooperativa de Egressos e Familiares de Egressos de Sorocaba (Coopereso), localizada no Jardim Zulmira, é um exemplo. A cooperativa também está com o barracão lotado. Diferente de Votorantim, a unidade tem pessoas para trabalhar, no entanto, muitas empresas teriam deixado de comprar os materiais.

“Hoje eu estou com o barracão saturado e não é porque eu não tenho gente fazendo a separação, não é porque eu não tenho pessoas para fazer a coleta, eu não tenho é quem compre esse material”, esclareceu Miraci Cugler, presidente da Coopereso. Miraci explica, ainda, que diversas empresas adquiriram muito material no período da pandemia e agora congelaram as compras. “Na pandemia eles compraram muito material, os preços estavam ótimos nessa época, estocaram muito material. Hoje as grandes empresas precisam dar fim nesse material para fazer novas compras, mas está difícil”.

Para tentar resolver essa situação, a presidente da cooperativa declara que recorreu à administração municipal. De acordo com Miraci, um barracão foi solicitado ao prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), para que a cooperativa possa receber mais material. “Têm vidas que dependem disso, então, solicitamos mais um espaço ao poder público, ao prefeito diretamente, o qual falou que vai nos atender com uma resposta positiva porque ele sabe que os cooperados não pararam de trabalhar, estão ali o tempo todo fazendo a parte deles. Não partiu da cooperativa o desinteresse, o que aconteceu foi uma situação nacional e está refletindo em todo mundo”, enfatizou Miraci.

A Coopereso também ressalta a importância do apoio da população e pede para que os moradores de Sorocaba separem os materiais recicláveis em boa quantidade e assim solicitem a coleta. “O lixo que é levado para os aterros está indo com material reciclável. O morador não está fazendo mais questão de separar. São poucos os que têm essa consciência. Não estamos fazendo um serviço social só para o cooperado, só para os egressos, fazemos também a parte do meio ambiente no município”, enfatiza a presidente da Coopereso.

A conta não fecha

Aurea diz que a Coreso continua vendendo seus materiais. No entanto, em razão do baixo valor, a conta não fecha - FÁBIO ROGÉRIO (2/2/2024)
Aurea diz que a Coreso continua vendendo seus materiais. No entanto, em razão do baixo valor, a conta não fecha (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (2/2/2024))

A Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso), com bases na Vila Colorau e no Parque Vitória Régia, responsável pela coleta seletiva nas regiões leste, oeste e norte, também enfrenta desafios devido a queda dos preços. A situação nessa unidade é um pouco diferente. De acordo com a presidente da cooperativa, Aurea Aparecida Bueno, os materiais da unidade estão sendo vendidos, no entanto, em razão do baixo valor, a conta não fecha. Afinal, além dos cooperados, é preciso pagar água, luz e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) do imóvel.

“Continuamos trabalhando porque precisamos sobreviver. Tem material que foi a R$ 0,05 o quilo, caixinha de leite mesmo, a tetra, quase ninguém quer pegar porque o preço está muito baixo. Papel misto R$ 0,10 o quilo. Então, esse tipo de material não paga hora de prensista, não paga energia, então, tudo isso vai gerando dívidas que temos que pagar. É complicado”, relatou.

Além disso, Aurea ressalta mais um empecilho, o temporal ocorrido há duas semanas na cidade. A chuva alagou a cooperativa e danificou o teto do imóvel. Por conta do incidente, a equipe permaneceu dois dias sem fazer a coleta. Após muito trabalho, os cooperados conseguiram organizar o barracão e a cooperativa retomou as atividades logo em seguida. Já a restauração das calhas foi solicitada à Prefeitura.

A Coreso realiza a coleta seletiva em três regiões da cidade, no entanto, a população também pode levar o material até o Ecoponto da unidade, que funciona 24 horas. O barracão está localizado na rua Encarnação Rando Castelucci, 70, na Vila Colorau. Pessoas interessadas em trabalhar, também podem procurar a unidade.

Prefeitura apoia

Em reposta a questionamento do Cruzeiro do Sul sobre o apoio prestado às cooperativas de reciclagem, a Prefeitura explicou que “o Município reconhece o papel fundamental das cooperativas na proteção do meio ambiente e na geração de renda para muitos sorocabanos, destacando que a queda do preço do material reciclado não se restringe a uma situação local, de Sorocaba, mas é verificada também no cenário nacional, o que reforça a necessidade urgente de políticas públicas nacionais para o setor”.

Além disso, a administração municipal disse que vem oferecendo apoio ao segmento e possui acordo de cooperação para a coleta seletiva no município, por meio da Coreso e da Coopereso. “O Município já cedeu dois barracões e cinco caminhões -- com motoristas -- para a execução do serviço, para cada uma dessas cooperativas”, informa o Poder Executivo, acresentando que esses recursos são essenciais para que as cooperativas sigam realizando o trabalho.

Por fim, a Prefeitura explicou que está em trâmite a implantação de um novo sistema de coleta e gestão de resíduos para o município, por meio de parceria público-privada, na qual está previsto o atendimento a toda a cidade de Sorocaba, ao mesmo tempo em que mantém parcerias com as cooperativas parceiras. “Este modelo considera os princípios da universalização, prestação de serviço com qualidade e eficiência, minimização e redução nos impactos ambientais, conforme preconiza as leis 12.305/2010 e 11.445/2007. Atualmente, a etapa do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) já foi concluída e o Município prossegue com todos os trâmites necessários para viabilizar a implantação de um novo sistema de coleta e gestão de resíduos para o município”, .

A administração municipal disse que estão em andamento alguns estudos com a finalidade de verificar a viabilidade de um novo espaço para a Coopereso. Sobre os problemas ocorridos da sede da Coreso há poucos dias devido à chuva forte, a Prefeitura que devem ter início ainda neste mês, a manutenção da calha do barracão. (Vanessa Ferranti)

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