Buscar no Cruzeiro

Buscar

Publicação sem base científica sobre eficácia de kit Covid gera polêmica

15 de Abril de 2021 às 00:01
Marcel Scinocca [email protected]

Publicação sem base científica sobre a eficácia de kit Covid gera polêmica Postagem na rede social gerou discussões, polêmicas, manifestações e questionamento. Crédito da foto: Reprodução

Um material publicado nas redes sociais da Prefeitura de Sorocaba - e também distribuído à imprensa -, ontem (14), com relação à eficácia do chamado “kit Covid” gerou discussões, polêmicas, manifestações e questionamento de instituições da cidade. O trabalho é fruto de um monitoramento telefônico feito pela Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES). O material chegou a ser reeditado após divulgação de que seria um estudo. O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) recebeu vários pedidos de investigação sobre a questão.

Conforme a divulgação, o trabalho feito pela SES monitorou 123 pacientes com sintomas da doença, após 10 dias do início do tratamento com os medicamentos azitromicina e ou ivermectina. Desses, segundo o material, 122 apresentam-se curados em domicílio, após o período de transmissibilidade.

Esse acompanhamento verificou “taxa de letalidade de 0,81% entre os pacientes monitorados. Atualmente, o índice de letalidade é de 2,7% na cidade de Sorocaba, abaixo da taxa estadual, que é de 3,2%”, diz a SES. Até o momento, 1.113 pacientes optaram pelo tratamento precoce na cidade.

Nas redes socais houve muita polêmica, com dezenas de questionamentos sobre a legalidade e a carência de mais informações sobre o trabalho. Houve ainda a exclusão do texto após a publicação e repercussão negativa. O material foi republicado. O título anterior que trazia “Estudo preliminar aponta 99% de eficácia do tratamento precoce”, foi substituído por “Levantamento preliminar aponta excelentes resultados entre pacientes monitorados com sintomas da Covid-19 que fizeram tratamento precoce em Sorocaba”.

A reportagem questionou a Prefeitura de Sorocaba sobre a participação de alguma instituição nos trabalhos. Outro questionamento foi sobre as informações dos pacientes, se eles tinham comorbidades, por exemplo. Outra questão estava relacionada sobre os dados da pesquisa, se eles serão tornados públicos. “Trata-se de monitoramento telefônico realizado pela Secretaria da Saúde com pacientes com sintomas da Covid-19, após 10 dias do início do tratamento. Não se trata de estudo científico”, diz o Executivo em resposta. “Foi monitorada pela Secretaria da Saúde amostra de 123 pacientes, de diferentes características, gêneros e idades, que tiveram receitados os medicamentos que compõem o tratamento precoce”, continua.

Sobre os posts em redes sociais, a SES declarou que “ao ver que a publicação gerou dúvidas sobre a eficácia dos medicamentos do tratamento, e não do levantamento preliminar realizado, a publicação foi refeita, esclarecendo sobre os resultados preliminares”. “Não há gastos públicos com esses medicamentos, uma vez que houve a doação dos mesmos pela iniciativa privada”, lembra.

MP recebe representações

O Ministério Público recebeu seis representações contra a Prefeitura de Sorocaba, alegando irregularidades na realização e na publicação e do monitoramento. A promotora Cristina Palma é a responsável pela análise do material recebido. “Pretendo tomar alguma providência, sim. O que foi divulgado não parece ser uma pesquisa clínica, um estudo técnico. Eu fico bastante preocupada dele gerar uma falsa segurança e até aumentar a epidemia na cidade. Isso é preocupante e precisa de alguma tipo de providência”, avalia.

As representações foram feitas por cidadãos e por membros da Câmara de Sorocaba. Sobre essas representações no MP, a Prefeitura de Sorocaba afirmou que não houve notificação sobre o tema.

OAB e Simesul cobram explicações

Após a publicação do monitoramento relacionado ao “kit Covid”, a reação foi imediata. Além das redes sociais, instituições também se manifestaram, incluindo a subseção de Sorocaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Sindicato dos Médicos de Sorocaba e Cidades da Região (Simesul).

A OAB local quer saber qual a fonte das informações e se possuem base científica, “para que a população não seja ludibriada”. A instituição quer o Executivo informe, além da fonte, qual a metodologia utilizada, incluindo protocolo de aprovação em comitê de ética em pesquisa. Entre outros pontos como justificativa, a instituição cita as mudanças no texto divulgado pela Paço. O ofício assinado pelo advogado Márcio Leme, presidente da OAB, é direcionado ao prefeito Rodrigo Manga (Republicanos).

Já o Simesul voltou a questionar a eficácia do tratamento precoce contra a Covid-19, implantado pela Prefeitura de Sorocaba. “Além disso, a entidade ressalta que o suposto estudo realizado e divulgado pelo Poder Público, nesta quarta-feira (14), não pode ser levado em consideração, pois foi feito de forma preliminar e com amostragem muito baixa”, diz material divulgado à imprensa.

“O Simesul deixa claro ainda que estudos com maior abrangência, principalmente os ensaios clínicos randomizados, têm apontado justamente o contrário: o tratamento com os medicamentos do chamado kit Covid, entre eles a azitromicina e a ivermectina, não são eficazes para combater a doença”, acrescenta. A Prefeitura de Sorocaba comete um grande erro ao divulgar à população um estudo preliminar e sem credibilidade científica, especialmente em um momento tão crítico da pandemia. Isso é uma temeridade”, conclui. O material é assinado pelo médico Eduardo Luis Cruells Vieira, presidente do Simesul. (Marcel Scinocca)