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Pesquisa mostra acesso de jovens a álcool e outras drogas em Sorocaba

10 de Novembro de 2018 às 07:20
Ana Claudia Martins [email protected]

Pesquisa mostra acesso a álcool e outras drogas Resultados de pesquisa são apresentados em evento realizado na Câmara de Sorocaba. Crédito da foto: Emidio Marques

Pesquisa realizada com 1.632 estudantes de 14 a 18 anos de 15 escolas estaduais de Sorocaba revela que 47,12% ou 769 deles já experimentaram algum tipo de droga lícita ou ilícita. O estudo mostrou ainda que 15% dos alunos (246) tiveram sua primeira experiência com as drogas entre 14 e 15 anos. E o álcool é a droga lícita mais experimentada pelos estudantes, ou seja, 40,68% ou 664 já consumiram, apesar da venda de bebida alcóolica ser proibida para pessoas com menos de 18 anos. A pesquisa mostra ainda que a maior motivação dos estudantes para usar algum tipo de droga é a curiosidade, segundo 37,25% dos alunos que responderam o questionário on-line sobre o tema. Além disso, o estudo mostra que a influência dos amigos é decisiva no consumo de algum tipo de droga pelos estudantes. Entre todos os entrevistados, a resposta “um amigo ofereceu” foi a mais dita pelos estudantes: 27,63% ou 451, e a maioria disse que só usa algum tipo de droga quando sai com os amigos.

Os resultados da pesquisa “Prevenção do uso e abuso de álcool e outras drogas na infância e adolescência” foi tema de uma audiência pública, que ocorreu na manhã de ontem, na Câmara de Sorocaba. A audiência, que contou com a apresentação dos dados feita pela professora e pesquisadora Valéria Lisboa, foi presidida pelo presidente da Casa, o vereador Rodrigo Manga (DEM), cuja principal bandeira de atuação é o combate às drogas. O estudo foi realizado pelo grupo Coalizão Sorocaba, que realiza ações em Sorocaba para reduzir de forma sustentável os índices de abuso de substâncias químicas em níveis populacionais.

Além da pesquisadora, também participaram do evento o dirigente regional de Ensino de Sorocaba, o professor Marco Aurélio Bugni, a médica psiquiatra e membro do Coalizão, Maria Clara Suarez, a diretora técnica de saúde e coordenadora do Coalizão, Ana Cecília Fogaça, e ex-usuários de drogas, entre outros.

Segundo a pesquisadora Valéria, os resultados da pesquisa serão utilizados para propor ações de prevenção e combate ao uso de drogas lícitas e ilícitas entre os estudantes, com o objetivo de prevenir ou adiar ao máximo possível a idade inicial de experimentação de drogas na infância e juventude.

Quadro envolve garotos e garotas

Pesquisa mostra acesso a álcool e outras drogas Professora e pesquisadora Valéria Lisboa apresenta os dados. Crédito da foto: Emidio Marques

Segundo a pesquisa apresentada na audiência pública da Câmara Municipal pela professora Valéria Lisboa, dos 1.632 alunos ouvidos 802 (49,14%) são do sexo feminino 45,22% e a maior parte (738) está no 2º ano do ensino médio. Além disso, quase a totalidade dos alunos pesquisados disse que sabe o que é droga, o que representa 1.494 estudantes, ou 91,54%. Do total de participantes, 769 (47,12%) disseram que já experimentaram algum tipo de droga, sendo que a experimentação para a maior parte (15% ou 246 alunos) ocorreu entre 14 e 15 anos. Além disso, 7,5% disseram terem experimentado algum tipo de droga na faixa etária entre 13 e até 2 anos, o que representa 87 (11 a 13 anos), 18 (8 a 10 anos), 10 (5 a 7 anos) e 6 (2 a 4 anos).

Já entre os tipos de drogas mais experimentadas, o álcool lidera entre 664 alunos ou 40,68% deles, seguido pelo narguile (466 / 28,55%), maconha (434 / 26,59%), tabaco (375 / 22,97%), haxixe (101 / 6,18%) e cocaína (84 / 5,14%). Os estudantes foram ouvidos no período de maio a setembro deste ano.

Curiosidade e influência dos amigos

A curiosidade é o principal motivo para a maior parte dos alunos (37,25%) que já experimentaram algum tipo de droga, seguido de 18,01% que disseram ter experimentado por ser bom, 16,79% que afirmam ter usado para relaxar e esfriar a cabeça, 15,87% por lazer, 11,64% por causa dos amigos, e 2,39% para conseguir ser aceito pela turma. Além disso, a maioria dos entrevistados (451 alunos ou 27,63%) disse que experimentou algum tipo de droga porque um amigo ofereceu, seguido de 384 (23,53%) que afirmaram terem comprado. Outros 175 (10,72%) disseram que pediram para alguém comprar e 143 (8,76%) tinham em casa.

Sobre a frequência de uso, a maioria disse que usa só de vez em quando, o que representa 420 estudantes (25,74%), seguido de 70 (4,29%) que afirmam que usam todos os dias da semana, 11 (4,11%) todo o fim de semana, e 48 (2,94%) uma vez por semana.

Em relação aos padrões sociais de uso, a maior parte dos alunos disse que usa algum tipo de droga somente quando sai com os amigos, o que representa 24,88% do total. Os demais disseram que usam em festas e em baladas (22,30%), sozinhos (14,74%), na casa dos amigos (13,85%) e na rua (13,76%). E questionados se têm informações sobre os efeitos negativos do uso de drogas, a maioria disse que sim (1.182 ou 73,55%) contra 325 (20,22%) que disseram que não.

Ex-usuário começou a usar drogas aos 12 anos

O ex-usuário de drogas, João Lopes, 59 anos, que participou da audiência política e já fez palestras para jovens internos da Fundação Casa, conta que experimentou drogas aos 12 anos e que depois se tornou usuário compulsivo. “Eu comecei aos 12 anos com o álcool, claro, e depois já fui direto para a maconha”, diz. Ele afirma ainda que experimentou por conta dos amigos. “Se os amigos usam não tem jeito, você vai usar também, isso é fato”, aponta.

Lopes conta ainda que na época não tinha qualquer informação em casa ou na escola sobre as consequências do uso de drogas e que por conta disso acabou se tornando um usuário e virou dependente químico. “Consumi drogas por 30 anos e acabei perdendo tudo: família, imóvel, carros, e fui morar na rua”, afirma. Segundo ele, é muito importante o jovem ter informações sobre a consequência do uso das drogas e apoio para falar sobre o assunto, seja em casa ou na escola.

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