Dezembro Verde expõe alta de abandono e maus-tratos contra animais na região

Por Cruzeiro do Sul

Casais chegam a acolher quase 40 animais em casa: 90 cães e gatos em situações graves resgatados só em 2024

Dezembro é referência no combate ao abandono e à violência contra animais. A lei aprovada em 2015, de autoria dos deputados Maurici (PT) e Alex Madureira (PL), segundo a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, institui o período como símbolo da causa por coincidir com o Dia Internacional do Direito dos Animais, celebrado na quarta-feira (10). A iniciativa também leva em conta o aumento recorrente dos abandonos no fim do ano, quando muitas famílias viajam e deixam de cuidar de seus pets.

Em Araçoiaba da Serra, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), a rotina de famílias que acolhem animais evidencia a dimensão do problema. No município, os aposentados Marina Yamashita e Jair Ribeiro cuidam de 39 cães e gatos na própria casa. “Os abandonos aumentam muito no fim do ano, quando as famílias querem viajar. Também vemos muitos casos de maus-tratos por falta de conscientização. No nosso círculo isso é debatido, mas há muita gente que simplesmente não enxerga o problema”, conta Marina.

Ela explica que o número ideal seria de cerca de 20 animais, mas a demanda crescente fez esse total quase dobrar. A maior dificuldade, segundo ela, é o atendimento veterinário, especialmente em casos que exigem cirurgias ou internações. “Temos alguma ajuda da prefeitura com parte da ração e contamos com contribuições de amigos no Instagram, que cobrem de 25% a 30% das despesas. Todo o restante sai da nossa aposentadoria”, relata.

Mesmo sem condições de acolher novos animais, os pedidos não param. Em um dos casos recentes, uma cadela prestes a dar à luz foi encaminhada pela prefeitura durante um temporal. O casal concordou em oferecer lar temporário, mas complicações no parto exigiram três cirurgias e resultaram em filhotes com problemas de saúde. O custo chegou a quase R$ 5 mil — parte coberta por doações, mas a maior parcela paga pelos aposentados.

Em Sorocaba, o veterinário Miguel Bonachi relata que, na região onde atua, não houve aumento expressivo de resgates neste período, embora em outras áreas da cidade o abandono cresça tradicionalmente no fim do ano. Segundo ele, sinais de maus-tratos geralmente são visíveis: animais muito magros, lesões de pele, sangramentos e doenças não tratadas estão entre os indícios mais comuns.

Em situações de emergência, Miguel orienta que o resgate seja feito com cuidado, já que a dor pode tornar o animal agressivo, e que o encaminhamento para atendimento veterinário seja imediato.

Entre os problemas de saúde mais comuns em pets abandonados estão doenças de pele, tumores e zoonoses, enfermidades que podem ser transmitidas aos humanos. O veterinário reforça que a ausência de castração agrava o quadro, pois aumenta o risco de tumores de mama e de próstata, além de contribuir para ninhadas numerosas que acabam abandonadas.

Para evitar novos casos, Miguel destaca a importância da adoção responsável, que deve considerar espaço disponível, dedicação diária e condição financeira para manter vacinação, castração e alimentação adequadas.

Com a proximidade das festas e das férias, ele lembra que o abandono tende a aumentar. Tutores que pretendem viajar precisam se planejar: ao levar o animal, é essencial verificar se o local aceita pets. Caso contrário, a alternativa é buscar um hotel confiável ou apoio familiar.

A clínica em que atua também presta apoio a ONGs e protetores independentes, oferecendo descontos em consultas e internações para animais resgatados.

Já a Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema) de Sorocaba, informa que a fiscalização de maus-tratos é realizada de forma permanente pela equipe da Seção de Proteção e Bem-Estar Animal. Segundo a prefeitura, o tema é prioridade.

De janeiro a novembro deste ano, o município recebeu e investigou 1.601 denúncias de maus-tratos, das quais 60% foram confirmadas. Nesse período, 90 cães e gatos foram resgatados do interior de residências devido à gravidade das situações — a maioria na zona norte. Após o resgate, os animais passam por avaliação veterinária, recebem cuidados, são vacinados, castrados e microchipados antes de serem disponibilizados para adoção pelo programa “D + uma chance. Adote uma Vida!”.

Quando o animal não corre risco imediato, a Sema notifica o tutor e orienta sobre as medidas para regularizar a situação, garantindo bem-estar.

A prefeitura reforça que, com o período de festas e férias, o abandono tende a aumentar. Por isso, campanhas como o Dezembro Verde buscam conscientizar a população sobre guarda responsável e planejamento antes de viagens. A orientação é evitar decisões por impulso e organizar alternativas, como hospedagens especializadas ou apoio de familiares.

Maus-tratos são considerados crime e casos de abandono estão sujeitos a multa de R$ 3 mil por animal, conforme a Lei Municipal nº 9.551, de 4 de maio de 2011. Denúncias podem ser registradas pela central de atendimento da prefeitura, no site da plataforma 156 (24 horas), pelo telefone 156, ou pelo WhatsApp (15) 99129-2426, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Em fins de semana e feriados, o atendimento é feito pelo telefone 153, da Guarda Civil Municipal (GCM).

(Maria Clara Campos - Programa de estágio)