Fim de contrato com bilheteria libera acesso ao público sem cobrança no zoo de Sorocaba

Por Beatriz Falcão

Quinzinho de Barros está localizado na rua Teodoro Kaisel, 883, Vila Hortência, zona leste

O Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, localizado na Vila Hortência, zona leste de Sorocaba, está com entrada gratuita para a população. A medida não é promoção, mas consequência do vencimento do contrato com a empresa de bilheteria. O acordo se encerrou no fim de agosto e, desde então, não há cobrança de ingressos.

A situação, no entanto, não foi amplamente divulgada. Na entrada do zoológico, não há aviso: o portão está simplesmente aberto, com uma equipe apenas monitorando a entrada dos visitantes. Para muitos, o acesso gratuito foi uma surpresa. É o caso da freelancer Nicolle Bastos, 21 anos, e do repositor Paulo Henrique Pereira Gonçalves, também de 21.

“Essa é a minha segunda vez aqui, fazia muito tempo que eu não vinha. A última vez, eu ainda era criança. Porém, já acho o preço do ingresso acessível e acredito que o valor ajude a manter a infraestrutura do local”, comenta Nicolle.

Em nota, a Prefeitura de Sorocaba informou que a situação é temporária, já que a contratação de uma nova empresa para a bilheteria está em andamento. A expectativa é que as tratativas sejam concluídas nos próximos dias, sem data definida. “Durante este período, a entrada do público está liberada gratuitamente e funcionários da Sema [Secretaria de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal] estão no local orientando a entrada”, informa.

Ainda segundo a nota, a empresa era responsável apenas pela bilheteria. Assim, as demais estruturas do espaço não foram afetadas. O Cruzeiro do Sul questionou possíveis impactos, mas não obteve resposta.

Possíveis prejuízos

Para o advogado Luiz Antonio Barbosa, especialista em gestão pública, o único prejuízo é financeiro. Segundo ele, a ausência de cobrança não gera dilema jurídico, mas representa perda de receita para o próprio parque, que utiliza os valores arrecadados na manutenção e nos insumos destinados aos animais. “O zoológico tem muitos gastos: a alimentação dos animais, que é volumosa, conservação dos espaços, limpeza e funcionários. Sem entrada de dinheiro, a qualidade começa a cair, comprometendo o espaço”, opina.

Debate sobre concessão

A questão reacende o debate sobre a privatização. No ano passado, uma comissão de estudos foi criada para avaliar a concessão do Quinzinho de Barros à iniciativa privada, nos moldes do programa Sorocaba Business. Com o avanço das análises, porém, a comissão concluiu que se trata de um objeto mais complexo, e a Sema passou a presidir o grupo. O tema foi tratado em reportagem do Cruzeiro do Sul em abril deste ano.

Ao ser questionada sobre o andamento, a Sema informou que não há prazo ou cronograma definidos. “Caso o grupo de estudo entenda pela viabilidade da concessão do zoo, todos os trâmites legais serão realizados e divulgados, com consulta pública, definição das diretrizes pela Sema e encaminhamento para aprovação legislativa”, explica.

Para o advogado Luiz Antonio Barbosa, a concessão seria positiva. Ele cita exemplos de museus internacionais que cobram ingressos e reinvestem os recursos em conservação, além de gerar turismo e movimentar a economia local. “Muitas vezes pensamos que cobrar ingresso afasta o público, mas não é verdade. O preço precisa ser praticado com bom senso, sem extrapolar”, pondera.

O advogado também lembra do Zoológico de São Paulo, concedido em 2021, onde houve melhorias na infraestrutura, desde limpeza até novos habitats. “Acredito que o mesmo deve ser feito aqui, até porque o poder público não tem braço para tudo e acaba deteriorando espaços que poderiam valorizar a cidade e gerar economia”, afirma. “Por que cito museus internacionais? Porque eles conseguem conservar dois séculos de história. Enquanto isso, temos prédios de 300 anos no Brasil caindo aos pedaços. Mas, volto a repetir, os preços devem ser praticados com consciência.”

Proposta positiva

Na manhã de ontem (10), o Cruzeiro do Sul conversou com visitantes do Quinzinho de Barros sobre a possibilidade de concessão. Para a cuidadora Isabelle Pedroso, 29 anos, a proposta pode trazer bons frutos. “O Quinzinho é uma ótima opção de lazer para a família, é acessível. Existem aspectos a melhorar, como a limpeza. Muitas pessoas pedem novas espécies, mas antes é preciso saber se a infraestrutura suporta, porque não adianta trazer um animal sem oferecer todo o cuidado que ele merece”, afirma.

Ela também cita o Zoológico de São Paulo como comparação: “O valor lá é muito maior, assim como o espaço e a variedade de espécies, mas não é acessível. Em Sorocaba, o ingresso custa no máximo R$ 8.”

Já Nicolle Bastos e Paulo Henrique também veem pontos positivos no zoo de Sorocaba, principalmente pela acessibilidade. Sobre a concessão, acreditam que pode ampliar o espaço e trazer novidades. “Seria muito legal se tivesse uma atividade interativa com os animais, por exemplo, alimentar um macaco com acompanhamento da equipe”, sugere Nicolle.