Casal é preso por manter criança em cárcere privado em Sorocaba
Menina vivia reclusa, sem frequentar escola e sem acompanhamento médico
Um casal foi preso em Sorocaba, no Jardim Santa Esmeralda, acusado de manter a própria filha de 6 anos em cárcere privado. A menina vivia isolada dentro de casa, sem contato com outras crianças, nunca havia frequentado escola ou recebido acompanhamento médico regular e teria sido alimentada exclusivamente por meio de seringas, com líquidos preparados no liquidificador. A prisão foi realizada pela Polícia Civil, por meio da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), na manhã de desta quinta-feira (4).
A menina tinha sido resgatada pelo Conselho Tutelar na última sexta-feira (29). Ao chegar ao local, os conselheiros confirmaram a presença da menina e enfrentaram resistência do casal em entregá-la. “Havia o pai e a mãe, e houve muita relutância em entregar essa criança. Por fim, conseguiram, junto com a mãe, levar a menina para o Conselho Tutelar”, explicou a delegada da DDM, Renata Zanin, responsável pelo caso.
Segundo ela, a mãe negou ter sofrido violência doméstica, embora vizinhos tenham relatado que era obrigada a se vestir com roupas masculinas e estava com o cabelo raspado. A criança foi acolhida e permanece em abrigo desde a sexta-feira.
Após ser comunicada do caso, a Polícia Civil representou pela prisão temporária do casal e pelo mandado de busca e apreensão. A Justiça deferiu os pedidos, que foram cumpridos na quinta-feira.
Estado de saúde da criança
A menina passou por exames médicos. “O que ficou constatado até agora é uma infecção no sangue, uma infecção urinária e um aprofundamento no peito, que eles não sabem se é por falta de deglutição — porque a menina nunca comeu nada sólido — ou se é alguma outra intercorrência que precisa ser analisada”, detalhou a delegada.
Ainda de acordo com Renata Zanin, após cinco dias de acolhimento, a criança começou a aceitar água no copo, um avanço em relação ao padrão anterior de alimentação.
A polícia também apura se a menina apresenta doenças ou atrasos cognitivos decorrentes da reclusão, ou se essas condições já existiam previamente. “Tudo isso será analisado até o final dos 30 dias de prisão, quando teremos uma conclusão mais profunda sobre os crimes que serão imputados”, afirmou a delegada.
Conselho Tutelar
A conselheira tutelar Ligia Guerra da Cunha Geminiani afirmou que não havia denúncias anteriores sobre este caso. Disse ainda que a menina nunca socializou com outras crianças, não conhecia o ambiente externo e não se alimenta sozinha.
Ligia informou que a família extensa da garota (outros parentes) teve o último contato quando ela tinha apenas nove meses. Até então, segundo a conselheira, a criança não apresentava problemas de saúde, apenas intolerância à lactose, conforme relato dos parentes. Por esse motivo, ela passará por avaliação de diversos profissionais para um diagnóstico completo.
A partir de agora, a criança ficará sob o serviço de acolhimento da rede de proteção.
Situação jurídica
Por enquanto, o casal vai responder por cárcere privado, com agravante de maus-tratos contra a criança, informou a delegada. Novos delitos podem ser incluídos conforme avancem as investigações e os exames médicos.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Sorocaba informou que “a criança foi resgatada por meio de uma denúncia e atendida pelos órgãos competentes, como o Conselho Tutelar de Sorocaba, que tomou todas as providências cabíveis para garantir a segurança da vítima, que agora está abrigada junto ao serviço de acolhimento institucional”. (João Frizo - programa de estágio)