Monumentos de Sorocaba sofrem com vandalismo e abandono

Placas de identificação furtadas, depredações e falta de fiscalização levantam debate sobre preservação do patrimônio histórico da cidade

Por Thaís Marcolino

No Largo do São Bento, onde está a estátua de Baltasar Fernandes, somente metade das placas permanece fixada

Os monumentos históricos possuem grande valor para a história e a cultura de uma cidade, transmitindo conhecimento sobre o local onde se nasceu, mora ou está apenas de passagem. Zelar por esses marcos é manter viva a memória coletiva, mas nem todos colaboram com essa preservação. Não é difícil encontrar monumentos sem placas de identificação ou com sinais claros de vandalismo em Sorocaba. O tema, inclusive, volta e meia é pauta de reportagens no Cruzeiro do Sul. A situação gera o debate: por que não há segurança adequada ou medidas efetivas para evitar ou inibir a ação de criminosos?

O Cruzeiro percorreu, recentemente, três pontos onde a depredação é recorrente. Na Praça da Maçonaria, no Jardim Paulistano, há cinco monumentos, mas apenas um ainda possui identificação: o do Duque de Caxias. Os bustos das demais personalidades continuam no local, porém até mesmo os rostos — em sua maioria feitos de bronze — viraram alvos de furtos.

Na região central, a situação não é diferente. No Largo do São Bento, onde está a estátua do fundador de Sorocaba, Baltasar Fernandes, apenas metade das placas permanece fixada. O espaço foi projetado para abrigar quatro. A espada do bandeirante paulista também já foi furtada; a peça atual é de madeira, mas pintada para imitar metal.

Descendo a rua São Bento, chega-se à Praça Coronel Fernando Prestes. Lá, também não há qualquer identificação no monumento dedicado ao Dr. Braguinha — Joaquim Marques Ferreira Braga. O item fica próximo a um totem de segurança, instalado em 2023, que envia informações para a base da Guarda Civil Municipal (GCM) de Sorocaba. No entanto, a fiscalização remota não tem surtido o efeito esperado.

Um levantamento do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS), divulgado em 2023, apontava que, dos 33 principais monumentos da cidade, 23 estavam com itens furtados ou vandalizados. Em bom estado de conservação, mas necessitando de limpeza ou pequenos reparos, eram apenas dez. Um novo estudo ainda não foi feito, mas não há indícios de que a situação tenha melhorado.

População opina

Para quem mora ou visita Sorocaba, a situação é lamentável. Kauane Gabriele Desene Estavam vive há três anos na cidade e diz não conhecer todos os pontos históricos, mas afirma que, ao passar por um deles, provavelmente não saberá do que se trata por falta de informação. “É triste isso dos furtos, porque eles contam mais sobre o lugar em que a gente mora. Não entendo quem só pensa em destruir algo que é da própria cidade, da sua história”, declara a operadora de produção de 22 anos.

Na visão de Alexandre Humberto Gonçalves Rocha, 74 anos, a segurança é necessária, mas ele não observa rondas nem viaturas com frequência na Praça da Maçonaria. Para o aposentado, os crimes ocorrem, em sua maioria, durante a noite. “Acho que falta fiscalização para o monumento e segurança para as pessoas também. Isso está bem complicado”, desabafa.

Adote Sorocaba

O projeto Adote Sorocaba divide responsabilidades sobre a manutenção e segurança de alguns monumentos. A iniciativa permite que pessoas físicas e jurídicas adotem espaços públicos municipais — como praças, parques e canteiros —, cuidem da manutenção e proponham melhorias em troca do direito de divulgar sua imagem no local.

De acordo com a prefeitura, atualmente há 40 praças sob o Adote Sorocaba. Quando há monumentos nesses locais, a obrigação de manutenção e segurança é do responsável adotante, conforme informou o município.

Nas demais praças e espaços públicos, a manutenção dos monumentos é realizada pela Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo), conforme necessidade e disponibilidade financeira, a partir de apontamentos da Secretaria da Cultura (Secult). O mesmo procedimento é adotado para a troca de placas de identificação danificadas ou ausentes.

Segurança pela prefeitura

Diante das denúncias de insegurança e falta de fiscalização, a prefeitura informou que realiza patrulhamento diário com a GCM. O monitoramento é feito por meio das câmeras do Sistema Smart Sampa Sorocaba, que funcionam 24 horas e são supervisionadas por agentes no Centro de Controle Operacional Integrado (CCOI), vinculado à Secretaria de Mobilidade (Semob).

Entre as ações preventivas, se destacam a Operação Ferro-Velho — que combate a receptação de materiais furtados — e a Operação Delegada, realizada em parceria com o Governo do Estado, permitindo a atuação de policiais militares em horários de folga como agentes municipais.

A prefeitura reforça que a população pode colaborar denunciando atitudes suspeitas pelos telefones 153 (GCM) e 190 (Polícia Militar). Casos confirmados de vandalismo ou dano ao patrimônio público estão sujeitos a penalidades previstas na legislação penal.

Polícia Militar

O Cruzeiro do Sul entrou em contato com a Polícia Militar para questionar quantas pessoas foram presas ou detidas neste ano por depredação ou furto de monumentos. Em resposta, a corporação informou que não há nenhum registro desse tipo desde o início do ano pelo 7º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI).

Na nota enviada, a PM explicou que os principais pontos turísticos e monumentos de Sorocaba têm monitoramento por câmeras da GCM. “Após o registro da ocorrência, a Polícia Militar executa policiamento preventivo nas áreas de incidência criminal, para inibir quaisquer ações que ocasionem desordem pública, danos a patrimônios e práticas criminosas.”