Autor de livro sobre depressão doa parte da renda às Apaes

Obra de pedagogo e psicanalista une debate sobre saúde mental e solidariedade

Por Cruzeiro do Sul

Luís Afonso (quarto da esquerda para a direita) com membros da diretoria das Apaes de Sorocaba e Votorantim


O pedagogo e psicanalista Luís Afonso, de 40 anos, lançou recentemente o livro “Depressão: Um Silêncio Destruidor”, com a proposta de ampliar o debate sobre saúde mental e, ao mesmo tempo, contribuir financeiramente com instituições de apoio a pessoas com deficiência. Cerca de 40% da renda arrecadada com a venda da obra tem sido destinada a quatro unidades da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) — Sorocaba, Votorantim, Iperó e Boituva —, cidades com as quais o autor possui vínculos profissionais e pessoais.

A publicação surgiu após um episódio que chamou a atenção do autor no final de 2024: o suicídio de uma mulher conhecida por sua atuação religiosa em Pernambuco. Segundo Afonso, os comentários feitos nas redes sociais após o caso revelaram a persistência de estigmas sobre a depressão e a forma como a doença é interpretada em ambientes religiosos. “Os comentários me deixaram muito chateado, a ponto de eu me perguntar por que autores conhecidos não escreveram um livro contando de forma simples, explicando sobre a doença, mostrando pessoas que a superaram, onde buscar ajuda, entre outras coisas que só quem passa por isso gostaria, de verdade, de ouvir ou ler”, afirma.

A ideia do livro foi concebida na noite de 31 de dezembro de 2024, durante um culto de virada de ano. “Ardeu em meu coração o tema ‘Depressão: Um Silêncio Destruidor’. Passei alguns dias juntando matérias que já tinha, com escritas novas e todo o restante, pois a intenção era ser somente um e-book de 60 páginas”, relata. Após a publicação digital, o retorno dos leitores motivou a impressão do livro físico, lançado de forma independente. Sem contrato com editoras e visando reduzir custos, o autor organizou o lançamento em um restaurante local, o que também facilitou o acesso do público.

“Foi daí que decidi doar 40% do valor das vendas, a serem distribuídos entre as Apaes. Inclusive, não posso deixar de agradecer à empresa Celdan, pelo apoio do seu Celso Braca, que abraçou de imediato a ideia de ser patrocinador do lançamento do livro e também apoiou a proposta das doações. Não mencioná-lo seria tirar parte da conquista”, explica. A escolha das instituições se deu por afinidade com as cidades e pelo trabalho que já acompanhava. “Como pedagogo, no momento de estágio, pude perceber a dificuldade dessa inclusão que as crianças com autismo enfrentam e as lutas constantes dos pais. Quando ainda estava na Marinha, tive o prazer de morar em Iperó, Sorocaba e Boituva. Já quando deixei as Forças Armadas, tive o prazer de residir em Votorantim”, conta.

O autor também mantém contato frequente com as instituições beneficiadas. Em julho deste ano, ele ministrou uma palestra com o tema “Cuidando de quem cuida” para os colaboradores da Apae de Votorantim. Para ele, esse envolvimento direto faz parte do propósito da obra: “Ao compartilhar o desejo de realizar essa doação com cada instituição da Apae, fui muito bem recebido por cada diretor. No dia do lançamento, tive o prazer de tirar fotos com alguns e tornar esse momento verdadeiramente marcante.”

Afonso destaca que o maior desafio enfrentado foi a resistência que ainda existe dentro de algumas comunidades religiosas e sociais em reconhecer a depressão como uma condição que exige cuidado especializado. “Ao longo dos anos, sempre vi a doença sendo tratada de forma errônea: falta de Deus, falta do que fazer, culpa do diabo, entre outros tabus. Remar contra a maré nunca é confortável ou fácil”, afirma.

O livro aborda temas como o sofrimento silencioso, a importância de pedir ajuda e a relação entre espiritualidade e saúde mental. “A dor que você sente agora não define o seu valor, nem o seu futuro; peça ajuda, porque sua vida importa e merece continuar”, escreve em um dos trechos.

Além da publicação, Luís Afonso atua como psicanalista e conduz o projeto social “Saúde Emocional a Todos”, realizado mensalmente com pessoas em situação de rua. Segundo ele, o trabalho já contribuiu para que 49 pessoas fossem recuperadas e passassem a viver em novas condições sociais. “Esse projeto nasceu no Rio de Janeiro e ainda hoje venho aperfeiçoando-o com os cursos já realizados, como aromaterapia, programação neurolinguística (PNL), Florais de Bach e dependência química.”

O autor, natural do Rio de Janeiro e atualmente residente em Sorocaba, é formado em teologia, letras libras, pedagogia e psicanálise, com pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista (TEA), Atendimento Educacional Especializado (AEE) e psicopedagogia. Ele planeja novas publicações na área de saúde mental e educação. Um segundo volume de “Depressão: Um Silêncio Destruidor” já está em desenvolvimento, além de um e-book voltado para profissionais da educação.

Ele também pretende aprofundar, em livros futuros, o papel da espiritualidade como apoio em situações de sofrimento. “A fé pode reacender a chama da esperança, mostrando que há algo maior, que sua vida tem propósito e valor”, diz. Para ele, espiritualidade e ciência não se excluem: “É fundamental lembrar: ter fé não significa deixar de procurar ajuda médica ou psicológica. A fé e a ciência podem caminhar juntas. Deus age também através dos profissionais de saúde, dos medicamentos, quando necessários, e do apoio terapêutico.” (Murilo Aguiar - programa de estágio)