O perigo da adultização e de quem está do outro lado, na rede

Por Thaís Verderamis

Lei proibiu que estudantes utilizem o celular nas escolas

Recentemente, a internet voltou à atenção para um assunto importante: a adultização. O termo se refere a crianças com comportamentos, atitudes, responsabilidades ou papéis sociais de pessoas adultas, em casa, na escola, na sociedade ou on-line, onde o perigo é muito maior. Em janeiro deste ano foi aprovada a Lei Federal nº 15.100, que proíbe o uso de celular e aparelhos eletrônicos portáteis nas instituições de ensino. A medida gerou um grande debate e a discussão se tornou ainda mais relevante nos dias de hoje.

O comportamento adulto em crianças é um risco sério, segundo a presidente da Comissão de Direitos Infantojuvenis da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Sorocaba, Juliana Saraiva. “Dentro desse contexto tem ainda a questão da sexualização da criança, principalmente da menina, que de forma precoce acaba utilizando roupas, acessórios, maquiagens inapropriadas, dançando músicas extremamente sensualizadas e isso acaba colocando essa criança em risco, principalmente quando nós falamos na questão do abuso sexual, conhecido como pedofilia”, explica.

Incentivar o comportamento e publicar no meio digital, segundo a psicopedagoga Daniela Mendes, é expor as crianças em um ambiente perigoso. “Crianças e adolescentes não devem ter vida pública nas redes sociais, pois nunca sabemos quem está do outro lado da tela. Quando o conteúdo é compartilhado sem critérios de segurança e privacidade, ele pode ser facilmente distorcido, manipulado e utilizado de forma criminosa por predadores em redes internacionais de pedofilia e pornografia, expondo-os a riscos graves de violência e abuso”, considera.

A advogada Juliana ressalta a necessidade de que os celulares fiquem afastados das crianças e adolescentes durante as aulas. “A proteção é um trabalho conjunto da sociedade, da escola e dos pais. Se a criança e o adolescente passam um período na escola, longe da possibilidade de monitoramento pelos pais, existe a segurança que durante o período escolar eles estarão totalmente protegidos contra riscos digitais”, afirma. A proibição garante ainda que não haja a produção de conteúdos envolvendo cyberbullying, compartilhamento de conteúdos ofensivos, perseguições, ou produção de conteúdos que incentive a adultização.

Juliana diz que a ferramenta não é ruim, só é preciso saber utilizar. “É certo que a tecnologia por si só, ela não é uma vilã. Amplia o nosso acesso às informações, estimula a criatividade, traz facilidades no nosso dia a dia, inclusive aproxima pessoas, até mesmo por questões territoriais, geográficas. Eu acredito que o maior desafio é justamente o equilíbrio entre o uso, a quantidade e a segurança.”

Para a advogada, “os pais não poderiam, de maneira alguma, dar essa autonomia para uma criança acessar a internet, principalmente durante os primeiros seis anos de vida”. Após essa idade, ela sugere que seja apresentada para as crianças de forma supervisionada e acompanhada.

Já na adolescência, não há como impedir o acesso, mas é possível guiar, “Para que esse uso seja de maneira adequada, a família deve, primeiro, definir as regras bem claras quanto horário de uso, locais permitidos e o tipo de conteúdo. Tem que acompanhar e dialogar. Então, não basta só vigiar. É preciso conversar sobre o que elas estão vendo e fazendo on-line e aqui inclui o fato da educação, por exemplo, sexual. Explicar aquilo que pode, aquilo que não pode e, de maneira bem clara apresentar os riscos de forma concreta, com casos reais. Isso é muito importante”, considera Juliana.