Eles são o futuro

Crianças e jovens opinam sobre Sorocaba e o que esperam para os próximos anos

Por Thaís Marcolino

A geração mais jovem, que em poucos anos será protagonista e testemunha das mudanças, também tem muito a dizer.

Com mais de 723 mil habitantes, Sorocaba coleciona opiniões em cada esquina. Do trânsito que desafia a paciência aos elogios pelas oportunidades de trabalho, a maior parte dessas vozes costuma vir dos adultos. Mas o que pensa quem ainda está aprendendo a desenhar o próprio caminho e sonhar com o futuro? A geração mais jovem, que em poucos anos será protagonista e testemunha das mudanças, também tem muito a dizer. O Cruzeiro do Sul ouviu integrantes do grupo escoteiro Baltazar Fernandes sobre o que pensam da Sorocaba atual e como imaginam a cidade daqui 5, 10 ou 15 anos – e algumas respostas soaram surpreendentemente maduras, quase “de gente grande”.

É o caso da adolescente de 14 anos Roberta Beatriz Vitório Ferreira da Silva. Ela reconhece que a cidade enfrenta problemas de violência, o que demanda alguns cuidados no dia a dia, mas considera que os índices são menores do que em outros municípios, como a capital paulista. “Por mais que a zona norte seja considerada uma parte mais ‘perigosa’ da cidade, onde eu moro é muito bom. Em toda cidade que a gente for vai ter um índice de criminalidade, mas aqui é menos do que em cidades grandes, tipo São Paulo”, observa a moradora do Parque São Bento.

No geral, Roberta sente orgulho de ter nascido em Sorocaba e da própria cidade. Mesmo com o crescimento que a transformou em metrópole regional, continua mantendo ca­racterísticas de interior “raiz”. “A gente ainda tem a cultura de ficar até tarde brincando na rua ou então conversando no portão até altas horas. Tem hospitais perto e até redes de fast-food que outras cidades do interior não têm”, comenta.

Aos 18 anos, os pontos positivos ainda se destacam, mas já se misturam com problemas e desafios, segundo Emerson Fogaça dos Santos. “Sorocaba tem coisas boas na parte cultural, como o Mosteiro de São Bento, a Praça do Canhão, áreas verdes como o Parque das Águas. Até a própria Prefeitura tem um espaço verde muito bom. Mas eu sinto que a área urbana (prédios) está crescendo muito e acaba deixando de lado essa parte da natureza”, analisa.

Emerson também reconhece que, apesar das oportunidades, há desafios que poderiam ser resolvidos a curto prazo e facilitariam o dia a dia de quem circula pela região central, como a falta de sinalização adequada. “Eu acho um pouco bagunçado, sempre me confundi. Tem que fazer mais orientação, mais placas seriam uma boa”, desabafa o morador da Vila Jardini, na zona oeste.

Já seu colega de escotismo, Alexandre Henrique de Castro Bueno, define Sorocaba como “original” e “divertida”. Com 10 anos de idade e morador do bairro Brigadeiro Tobias, ele conta que gosta bastante dos parques. “As crianças podem brincar, os adultos podem ver a biodiversidade e, por que não, brincar com as crianças também?”, diz.

Católico, Alexandre tam­bém se encanta com a arquitetura antiga das catedrais, igrejas e capelas. “Pra falar a verdade, eu gosto até mais das coisas antigas do que das novas, mas gosto muito das novas também”, comenta o lobinho.

O que o futuro reserva?

As idades e percepções dos entrevistados são diferentes, mas todos concordam que Sorocaba vai continuar crescendo. Nos últimos 10 anos, o aumento da população foi evidente, e a expectativa é de que na próxima década essa tendência se mantenha.

Emerson não tem dúvidas de que, em pouco tempo, a cidade chegará a um milhão de habitantes. Por isso, defende um planejamento adequado para acomodar todos que decidirem fincar raízes por aqui. Ele pondera que as construções de casas e prédios devem ser feitas de maneira coerente e sugere ampliar as áreas de lazer e descanso, essenciais para a qualidade de vida. Além disso, reforça a importância de investir em arborização e biodiversidade para garantir um ambiente saudável.

Daqui cinco anos, Alexandre terá 15. Apesar do curto intervalo de tempo, ele imagina que Sorocaba estará mais moderna em 2030, sobretudo nos parques. Porém, espera que, em meio ao avanço tecnológico, “até para criar algo que ainda não existe”, os prédios históricos sejam preservados e tombados, e não derrubados.

Roberta, por sua vez, traz a mobilidade como prioridade. Ela gostaria que o transporte público melhorasse, especialmente com a retomada da linha férrea, que ajudaria tanto no deslocamento das pessoas quanto no comércio. O projeto Trem Intercidades Eixo Oeste, que prevê ligar Sorocaba a São Paulo em até uma hora, está em andamento pelo governo estadual.

 

O escotismo como formação de cidadãos

Quando se fala em escotismo, a primeira imagem que vem à mente costuma ser de aventuras e contato com a natureza. Mas, nos encontros, crianças, jovens e até adultos desenvolvem habilidades de convivência e cidadania. É o que explica o diretor técnico do grupo escoteiro Baltazar Fernandes, Sandro Henrique Torrenzan Gentili.

“A gente quer entregar um cidadão que consiga enxergar as necessidades das pessoas, o que é importante para ele e para a cidade onde mora. Colocamos nesse pessoal o pertencimento à cidade, o amor por ela e o desejo de deixá-la cada vez melhor”, diz. “Tudo que eles aprendem agora, pequenos, vai dando frutos ao longo do tempo. Talvez a semente não floresça tão rápido, mas em algum momento vai florescer”, complementa.

O grupo escoteiro Baltazar Fernandes, do qual Sandro é diretor, conta com 102 integrantes, entre adultos, pais e crianças. Em 2025, a comunidade, fundada pelo reverendo Mateus Benvenuto, comemora 60 anos. “A gente acolhe as famílias, as pessoas e apoia os jovens para que eles tenham uma vida melhor”, conclui.