Infecções por dengue caem em Sorocaba

Clima seco reduz casos, mas cuidado e prevenção seguem essenciais; sorotipo 2 predomina em 2025

Por Thaís Marcolino

Menos chuvas entre maio e outubro reduzem a proliferação do Aedes aegypti

Sorocaba registrou 119 casos de dengue em julho, sem nenhuma morte confirmada no período. Os dados representam uma queda de 83% em relação a junho, quando o município contabilizou 721 infecções e sete óbitos pela doença. O levantamento foi realizado pelo Cruzeiro do Sul com base nos boletins epidemiológicos divulgados semanalmente pela Secretaria da Saúde (SES) de Sorocaba.

Segundo especialistas, essa redução já era esperada, uma vez que o ciclo reprodutivo do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, tende a diminuir durante os meses mais secos, entre maio e outubro. No entanto, isso não significa que os cuidados devem ser deixados de lado.

A infectologista pediátrica Priscila Helena dos Santos explica que a sazonalidade da doença ocorre geralmente no primeiro semestre do ano _ período de verão e outono _ devido ao aumento das chuvas e à maior facilidade de proliferação do mosquito. E, de fato, Sorocaba enfrentou um pico de infecções nesse intervalo.

Em janeiro, foram registrados 339 casos. Em fevereiro, o número saltou para 816. Março marcou um aumento expressivo de 293%, totalizando 3.228 infecções, número que se manteve igual em abril. Já em maio, os registros chegaram ao ápice, com 4.391 casos confirmados. Após esse pico, os números caíram drasticamente nos meses seguintes.

“Apesar de ser esperada a redução dos casos no segundo semestre, infelizmente ainda observamos registros durante o chamado período intersazonal. Isso se deve às mudanças climáticas e à presença contínua de criadouros no ambiente doméstico”, alerta a infectologista. Ela reforça a importância da população manter a vigilância e eliminar recipientes que possam acumular água parada.

De acordo com o boletim mais recente, divulgado na quinta-feira (31), Sorocaba soma 14.095 casos de dengue em 2025, sendo 14.042 autóctones (transmitidos na própria cidade), 44 importados e nove indeterminados. Ao todo, foram confirmadas 29 mortes: 12 ocorreram em unidades públicas, 10 em privadas e sete em domicílio. Outras quatro seguem em investigação pelo Instituto Adolfo Lutz, que pode levar até três meses para concluir a análise, conforme a demanda.

Óbitos

Em janeiro, apenas uma morte foi registrada. Em fevereiro, nenhuma. Já entre março e maio, houve uma escalada: quatro óbitos em março, seis em abril e oito em maio. Junho registrou sete mortes e, em julho, não houve nenhuma confirmação.

Dos 29 óbitos confirmados até o momento, 15 (52%) foram de mulheres e 14 (48%) de homens. A maioria das vítimas ù 19 (79%) ù apresentava comorbidades, fator que pode agravar a evolução da doença. A média de idade foi de 68 anos.

Sorotipo 2

Em 2024, Sorocaba registrou 46.786 casos de dengue. Naquele ano, o aumento começou já em janeiro, culminando em março com a decretação de situação de emergência pela Prefeitura. Segundo a infectologista, a diferença nos picos de infecção entre os dois anos está relacionada às variações climáticas, com chuvas mais intensas e precoces em 2024.

“No ano passado, ainda em dezembro de 2024, os casos já estavam em alta, e o pico de transmissão foi mais precoce. Já em 2025, observamos uma circulação mais intensa do sorotipo DENV-2, enquanto em 2024 o DENV-1 predominava. A curva de transmissão deste ano atingiu o ápice em abril”, detalha.

A médica lembra que a introdução de um novo sorotipo aumenta a chance de reinfecção e pode gerar uma resposta imunológica mais agressiva, elevando o risco de casos graves. Em 2024, o sorotipo 3 também foi identificado em Sorocaba. Embora não seja o mais letal, é apontado como o de maior poder de infecção. Em março daquele ano, uma idosa morreu após contrair a doença.

Sintomas e cuidados

Os principais sintomas da dengue incluem febre de início súbito, dor de cabeça, dores no corpo e mal-estar. Os sinais de alarme, como náuseas, vômitos, dor abdominal, sangramentos e desmaios, indicam agravamento e exigem atenção médica imediata.

“Com os surtos recorrentes na cidade, a reexposição ao vírus tem provocado casos mais graves”, observa a infectologista. Ao apresentar dois ou mais sintomas, a recomendação é procurar atendimento médico, seja na rede pública ou privada.

Em março, durante o primeiro pico de casos de 2025, a Secretaria da Saúde implantou o Centro de Hidratação e Monitoramento de Dengue (CHMD) na Santa Casa, voltado a pacientes com comorbidades encaminhados por UPAs, UBSs e demais unidades de saúde. O centro foi desativado em maio, após atender cerca de 3.400 pessoas.