Tarifaço atinge 60% das exportações sorocabanas
Estimativa é do Ciesp, mas impacto pode ser ainda maior. EUA são o 3º país de destino de produtos locais
Pelo menos 60% dos produtos exportados de Sorocaba para os Estados Unidos deverão ser taxados em 50%. A estimativa foi divulgada pelo diretor regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Erly Domingues de Syllos, com base em uma análise dos dados do Comex Stat, sistema do governo federal que reúne estatísticas do comércio exterior brasileiro de bens.
Outro levantamento, realizado pela equipe do economista Geraldo Almeida, aponta um impacto ainda maior: cerca de 80% dos produtos exportados devem ser afetados pela nova tarifa.
O tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros tem ganhado novos desdobramentos a cada dia. Na quinta-feira (31), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) informou que 44,6% das exportações brasileiras para os EUA devem ficar de fora da taxação. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Mdic, o levantamento é preliminar e foi baseado nas exportações realizadas em 2024. A pasta considerou os cerca de 700 itens que constam da lista de exceções e que não serão sobretaxados. Trump também alterou a data de início da medida: as novas tarifas entram em vigor no dia 7 de agosto.
As tarifas impactam diretamente Sorocaba, já que 8,5% das exportações do município têm como destino os Estados Unidos, ficando atrás apenas da Argentina (1º lugar), com média de 30%, e da Colômbia (2º), com média de 14%. Segundo Erly Domingues de Syllos, cerca de 60% dos produtos enviados aos Estados Unidos devem ser taxados em 50%, com base em dados do Mdic. Ainda assim, ele considera que é cedo para conclusões definitivas, pois novas negociações entre os dois países podem alterar o cenário nos próximos dias.
“Em média, acredito que cerca de 40% serão beneficiados com essa nova resolução do governo americano. Ou seja, esses produtos devem voltar à alíquota de 10%, enquanto aproximadamente 60%, caso não haja mudanças, permanecerão com a tarifa de 50%. Então, houve uma melhora, claro, mas ainda é um número altamente significativo”, avaliou Erly. Ele também ressaltou que novas análises devem ser realizadas.
O estudo conduzido pela equipe do professor Geraldo Almeida mostra uma projeção menos otimista. Segundo ele, 80% dos produtos exportados por Sorocaba aos Estados Unidos devem ser afetados pela nova tarifa. “Por exemplo, não devem ser taxadas bússolas, agulhas e outros instrumentos de navegação. Também turborreatores, turbopropulsores e outras turbinas a gás, além de uma série de aparelhos e máquinas elétricas, bombas de ar ou de vácuo, entre outros”, explicou o professor. Já tratores, máquinas e equipamentos agrícolas para colheita, por exemplo, devem sofrer a sobretaxa.
Lei da Reciprocidade
Para Geraldo Almeida, é importante observar também o movimento do governo brasileiro, que pode adotar medidas semelhantes por meio da chamada Lei da Reciprocidade. Ele lembra que, atualmente, o Brasil importa mais dos Estados Unidos do que exporta, o que também pode gerar impactos adicionais para Sorocaba se surgirem novas tarifas.
“A Lei da Reciprocidade pode prejudicar Sorocaba mais do que a própria taxação do Trump. É preciso tomar muito cuidado. As negociações estão acontecendo, mas esse ponto deve ser observado com atenção”, alertou.
O mesmo posicionamento foi reforçado por Erly de Syllos. “Foi unânime. O setor da indústria, o setor do agro, todos os segmentos, de um modo geral, orientaram o governo federal a não colocar reciprocidade, porque senão daí a briga vai ficar ainda maior”, ressaltou o diretor do Ciesp.