Aposentados buscam os Correios para informações sobre descontos

Pensionistas procuram explicações, mas enfrentam lentidão no atendimento

Por Cruzeiro do Sul

Idosos enfrentam longas filas e espera para contestar cobranças indevidas no benefício

Em meio ao vai e vem apressado do centro de Sorocaba, na rua São Bento, aposentados e pensionistas do INSS enfrentam um ritmo bem diferente: o da espera. Na tarde de ontem (24), por volta das 13h, a agência dos Correios estava cheia. Desde o fim de maio, o local passou a oferecer atendimento presencial para quem quer verificar e contestar descontos indevidos nos benefícios previdenciários, e o volume de procura tem sido alto.

Sentado em uma das cadeiras de espera, o aposentado Luiz Antônio Bagatino, 68 anos, observa a movimentação com dúvida.

“Vim ver se tem algum desconto no meu benefício. Ainda não identifiquei nada, vou verificar agora. Mas estou aqui há mais ou menos uma hora. Só tem idoso aqui, e muitos ficam sentados por horas. A coisa devia ser mais rápida.”

Apesar da lentidão, ele reconhece a importância da ação. “Acho que essa iniciativa ajuda sim os pensionistas. É o meio mais fácil que encontrei para ver se tenho algum direito. Mas acredito que não vou conseguir tirar todas as dúvidas hoje.”

Descontos inexplicáveis e prejuízo acumulado

Alguns beneficiários foram ao local já cientes de que algo está errado. É o caso de Maria José Nascimento Silva, 62 anos, que descobriu descontos mensais indevidos. “Achei um desconto desde 2020. Peguei o papel no INSS: são 12 meses de 45 reais, é normal, foi o que me falaram. Tem que devolver esse dinheiro pra mim. Eu fui assaltada.”

Ela contou que chegou às 11h da manhã e, três horas depois, ainda não havia sido atendida. “Estou aqui desde às 11 horas. E já são 14h. Operada do quadril, sentada esse tempo todo... e está muito devagar. A fila para e volta, o atendimento também... Tem hora que simplesmente param de chamar.”

O drama se repete na fala de Lourival Bezerra de Lima, 85 anos, que teve boa parte do salário comprometido com empréstimos que afirma nunca ter autorizado. “Você imagina: pagava uma parcela de 250, outra de 175, outra de 67... aí fizeram também um empréstimo de 450, outro de 350. E nunca assinei nada. Mas todo mês vinha descontado.”

Lourival chegou a receber menos de 100 reais por mês. “Teve mês que recebi só 62 reais. Era pra eu receber 1.300, 1.400... e só recebi 600 em outros meses, mas não é o certo. Quem é que não precisa de dinheiro hoje?”

Dúvidas, silêncio e pouca informação

Outros beneficiários estiveram no local sem saber ao certo o que procurar. A dona de casa Neusa Campos, 69 anos, foi levada pela filha. “Eu não tive desconto nenhum, eu acho. Eu não faço nada, quem faz tudo pra mim é minha filha. Não estou muito por dentro.”

Daniel Cardoso, 68 anos, chegou com a recomendação de um amigo. “Vim ver o ‘roubo’. Nunca assinei nada, mas vim. Sei lá quem vai resolver isso aí. Só queria ver se tem alguma coisa.”

O sentimento de desorientação também apareceu na fala de Neusa Maria Clemente Sampaio, 72 anos, que procurava informações sobre o benefício do marido falecido. “Tô na área. Vai ter alguma coisa, se Deus quiser. Disseram que tinha algo desde 1990, mas ele se aposentou em 1983. Nem no advogado eu fui, disseram que não adianta.”

Neusa acredita que pode ter direito a algo, mas não sabe ao certo o quê. “Vim saber do dele. Já faz uns oito meses que ele faleceu. Acho que tenho direito de pegar alguma coisa.”

O que dizem os Correios e o INSS

Desde 30 de maio, os Correios iniciaram, em parceria com o INSS, um serviço para acolher denúncias de descontos não autorizados em benefícios previdenciários. A medida vale para cerca de 4.700 agências em todo o Brasil, incluindo as unidades de Sorocaba.

O atendimento permite: Consulta a débitos e entidades associadas; Contestação de valores e acompanhamento via protocolo (com resposta em até 15 dias úteis).

Não é necessário agendamento. Basta apresentar um documento oficial com foto. O serviço é gratuito e contínuo, não há prazo final para recorrer.

Até ontem (24), mais de 2,5 milhões de pessoas já haviam buscado atendimento, segundo o Ministério da Previdência. O governo também alerta: não há atendimento em domicílio. Se alguém se apresentar como funcionário do INSS ou dos Correios em casa, é golpe. (João Frizo - programa de estágio)