Geadas causam perdas e impactam lavouras

Feirantes que atuam na Ceagesp de Sorocaba relatam dificuldades

Por Cruzeiro do Sul

Produtores de alface, couve, abobrinha e banana prata ficam no prejuízo

Feirantes que atuam na Ceagesp de Sorocaba relatam dificuldades no abastecimento e aumento nos preços de hortifrútis após as geadas que atingiram a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) entre o final de junho e o início de julho. Com a chegada do inverno, as temperaturas caíram significativamente em alguns municípios. Segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo, nesse período, os municípios da RMS que registraram as menores temperaturas foram: Itapetininga (-0,73 C), Tietê (0,36C), São Miguel Arcanjo (0,6C), Tatuí (0,7C), Sarapuí (1,7C), Porto Feliz (3,01C), Sorocaba (3,62C) e Itu (4,15C). A queda acentuada provocou a formação de gelo em plantações, afetando diretamente regiões com forte produção agrícola.

A geada ocorre quando a temperatura do ar próximo ao solo atinge valores iguais ou inferiores a 0C, fazendo com que a umidade se transforme em cristais de gelo sobre as superfícies. Em lavouras, especialmente de hortaliças folhosas, o fenômeno pode queimar as folhas, causar o rompimento de tecidos e inviabilizar a colheita. Com o frio, culturas mais sensíveis _ como couve, brócolis, alface e abobrinha _ foram as mais atingidas. A menor oferta nas roças já impacta diretamente os preços e a qualidade dos produtos vendidos no entreposto.

“A geada fez estrago. A verdura não fica bonita igual no calor”, contou Noel José dos Santos, feirante de Piedade e dono da banca Verduras do Campo. Apesar de não plantar diretamente, ele compra a produção de vizinhos da zona rural. “Eles não têm estrutura para proteger tudo. Perdem parte da colheita, e o que sobra nem sempre dá pra trazer. Além disso, agora é período de férias escolares. Com menos movimento, as vendas caem.”

Renato Francisco Dias, também de Piedade, perdeu quase toda a produção de folhosas e legumes. “Foi geral: alface, brócolis, couve, abobrinha. A couve ainda dá para limpar e aproveitar, mas o resto foi perda total. Mesmo assim, não dá para subir muito o preço porque o cliente já consome menos com o frio. A gente tenta equilibrar.”

A queda nas temperaturas também impactou a rotina de comerciantes de Sorocaba. Lourival Ferreira Paduim, conhecido como Lori, da banca Paduim, explica que as frutas também sofrem com o frio, especialmente a banana-prata. “Ela precisa de calor e chuva. Quando vem a geada, não se desenvolve bem. Fica feia, pequena. A banana-nanica ainda resiste melhor, mas a prata perde bastante valor comercial. E como a produção cai, o preço sobe pra compensar.”

A banca de Lori é abastecida em parte por Sete Barras, no Vale do Ribeira, região que também foi atingida por geadas nas últimas semanas. “A gente tem que subir um pouco o valor aqui também. Não tem como fugir. Mas o cliente sente, então vamos ajustando aos poucos”, acrescentou.

Para alguns feirantes, o impacto das baixas temperaturas atinge também diretamente as vendas. César Augusto Dias, da Hortifruti Dias, afirma que o movimento na feira despenca nas primeiras semanas do frio. “Todo ano é igual. Dá a primeira frente fria, o pessoal some. Depois acostuma e começa a voltar, mas a perda já foi”, afirmou.

César trabalha apenas com frutas, especialmente banana, e lembra de anos anteriores em que geadas causaram prejuízos ainda maiores. “Teve um ano, acho que 2018, que derrubou até o pé de banana no Vale do Ribeira. Agora não foi tanto, mas já afetou. E verdura é mais sensível ainda. Às vezes nem precisa geada. Só a queda de temperatura já mela tudo no campo. Não dá nem pra colher.”

Segundo os feirantes, o abastecimento pode começar a se normalizar nas próximas duas semanas, desde que novas frentes frias não avancem sobre a região. (Murilo Aguiar - programa de estágio)