Marginal direita: Cetesb libera e MP entra com ação para proibir

Área de vegetação está incluída em futuro parque linear "Dr. Armando Pannunzio"

Por Vanessa Ferranti

Projeto prevê 1.800 metros de extensão na nova via entre rua Padre Madureira e al. Batatais

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) informou que ingressou com uma ação civil pública ambiental contra a Prefeitura de Sorocaba, para suspensão da obra da marginal direita do rio Sorocaba, após a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) autorizar a construção por meio de licença emitida em 18 de junho.

O traçado da avenida fica dentro da área onde está previsto o Parque Linear “Dr. Armando Pannunzio”. O MP observa que embora o parque tenha sido criado por lei municipal em 2008, passados 17 anos ele ainda não foi implantado. Segundo o MP, a construção da avenida e de uma área de lazer nesse local comprometeria os atributos ambientais da unidade de conservação, violando normas constitucionais e legais. A ação foi protocolada ontem (3) pelo promotor Jorge Marum.

A Cetesb informou que, com relação à possível inserção da marginal direita na área do parque linear, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) havia afirmado que não há conflito existente. A companhia observou que como parte das exigências para compensação ambiental “haverá a execução de um projeto de arborização no parque linear”.

Segundo o projeto da marginal, a via terá dois sentidos de circulação, separados por um canteiro central, além de calçadas e uma ciclovia. O trecho será de 1.800 metros, entre a rua Padre Madureira e alameda Batatais.

A obra deve ser executada com empréstimo de um banco de fomento. De acordo com a prefeitura, em posicionamento anterior, a marginal direita consta no planejamento municipal há mais de 40 anos e está descrita no Plano Diretor.

No entanto, ambientalistas e representantes de instituições e movimentos não concordam com a obra devido à eliminação da área verde na margem do rio. Para o geógrafo Rodrigo Barchi, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade de Sorocaba (Uniso) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Democracia, Ecologias e Cotidianos Escolares (Gedece) da instituição, a aprovação da Cetesb para a obra foi um equívoco. Segundo ele, a margem direita do rio Sorocaba é uma floresta urbana e o seu desmatamento trará grandes prejuízos para o rio e para a população.

“Corremos o risco de termos um rio muito semelhante com os rios que são afluentes do São Francisco porque o regime de chuvas é cada vez mais irregular, o calor é cada vez mais intenso, então, o risco de nós termos um rio que vai ter uma flutuação cada vez mais constante, cada vez mais extrema, entre sua cheia e sua vazante, pode, inclusive, prejudicar a existência do próprio rio, e prejudicar a existência do próprio rio vai prejudicar, inclusive, todo o regime hídrico do próprio Estado de São Paulo”, considera.

Ainda conforme o professor, a construção da marginal direita irá ampliar problemas. “Vai ampliar a questão do calor urbano, vai aumentar o problema da questão do próprio alagamento do rio, porque as várzeas, elas são as regiões para onde o rio transborda, mas elas também são regiões umedecidas, onde boa parte dessa água é captada pelo solo, e impermeabilizando com a construção da marginal, essa água não vai ser permeada, essa água não vai ser captada pelo solo, e então nós vamos ter risco de enchentes ainda maiores.”

Próximas semanas

A Secretaria de Parcerias de Sorocaba (Separ) informou que, conforme os procedimentos do licenciamento ambiental, a prefeitura entregou à Cetesb todos os documentos solicitados, que compõem o Estudo Ambiental Simplificado, bem como aqueles necessários para demais autorizações.

A construção deve ser iniciada nas próximas semanas em área delimitada, de acordo com a Separ. “A obra se encontra licitada, por meio da Concorrência Pública, resultado de processo criterioso que seguiu todas as etapas legais e técnicas ù desde os planos diretores anteriores até a aprovação do novo Plano Diretor, formalizado pela Lei Municipal nº 13.123/2025, após ampla participação social em audiência pública. Como a implantação do viário é consequência de um planejamento de décadas, não se trata simplesmente uma decisão da atual gestão.”

A Separ também informa que a prefeitura desenvolve ações para a efetiva implantação do Parque Linear do Rio Sorocaba, que fará parte “de um complexo que se chamará Parque Metropolitano de Sorocaba, englobando ainda o Parque Porto das Águas, Parque das Águas e Jardim Botânico”.

O parque linear seguirá o mesmo conceito adotado na margem esquerda, “onde as intervenções urbanas coexistem com o ambiente natural”, diz a secretaria.