Cidadão denuncia vereadores por omissão em CPI da Saúde e MP encaminha para a polícia

De acordo com o denunciante, os vereadores que não apoiaram a criação da CPI deixaram de exercer um ato de ofício previsto no artigo 31 da Constituição Federal e na Lei Orgânica do Município

Por Da Redação

A investigação teve início em 2022 após suspeitas de fraudes na contratação de uma Organização Social (OS)

Um morador de Sorocaba protocolou uma denúncia formal contra vereadores da cidade que se recusaram a assinar o Requerimento nº 9/2025, que propunha a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis irregularidades graves na área da saúde municipal. A representação, enviada ao Ministério Público, alega que a omissão dos parlamentares pode configurar crime de prevaricação e ato de improbidade administrativa, já que envolve a recusa de cumprir um dever constitucional de fiscalização. Em nota, o MP informa que "a representação foi protocolada na promotoria de Justiça Criminal de Sorocaba e após análise, foi enviada à Delegacia de Policia para instauração policial." A denúncia foi feita na quarta-feira passada (25).

De acordo com o denunciante, Manoel João Soares, os vereadores que não apoiaram a criação da CPI deixaram de exercer um ato de ofício previsto no artigo 31 da Constituição Federal e na Lei Orgânica do Município, que determinam como atribuição do Poder Legislativo o dever de fiscalizar os atos do Executivo. A denúncia ressalta que a negativa dos parlamentares não foi acompanhada de justificativas técnicas ou legais, o que, segundo o documento, indicaria possível motivação pessoal ou política — hipótese que, se confirmada, se enquadraria no artigo 319 do Código Penal, que trata do crime de prevaricação.

A iniciativa para instaurar a CPI buscava investigar denúncias de corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro, contratação direta ilegal, frustração de licitação e outros possíveis crimes ligados à gestão de contratos públicos na saúde. Ainda segundo o denunciante, a falta de apoio para o requerimento nº 9/2025 fere os princípios constitucionais da administração pública, como legalidade, moralidade e impessoalidade, previstos no artigo 37 da Constituição Federal e no artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992).

Ficam excluídos da denúncia os vereadores Dylan Dantas, Tatiane Costa, Roberto Freitas, Izídio de Brito, Iara Bernardi, Fernanda Garcia, Raul Marcelo e Henri Arida — este último, porém, chegou a apoiar o pedido, mas depois retirou sua assinatura.

O Ministério Público avaliou a denúncia, cruzando informações com os registros oficiais da Câmara e agora uma investigação formal contra os parlamentares mencionados pode ser iniciada a partir da instauração policial.

O que estava na mira da CPI

O foco principal da CPI era a análise de contratos firmados entre a Prefeitura e a Organização Social ACENI, que assumiu a gestão da UPA do Éden, da Unidade Pré-Hospitalar Oeste e de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade. Parte desses contratos foi firmada sem licitação entre 2021 e 2024, totalizando R$ 123,7 milhões, e julgada irregular pelo Tribunal de Contas do Estado. Os indícios de fraudes foram reforçados pela Operação Copia e Cola da Polícia Federal, deflagrada em abril deste ano, que apreendeu cerca de R$ 2 milhões em espécie, veículos de luxo e armas, além de determinar o bloqueio de R$ 20 milhões em bens dos investigados.

Além dos contratos, a proposta da CPI também incluía denúncias de má gestão e precariedade no atendimento nos CAPS, com relatos de negligência no cuidado a crianças e adolescentes. Conselheiros tutelares e membros da sociedade civil apontaram a falta de profissionais qualificados e situações de risco à integridade de pacientes em tratamento psiquiátrico. Ainda assim, a proposta da CPI foi ignorada pela maioria da Câmara, gerando questionamentos sobre o compromisso dos parlamentares com a fiscalização do Executivo.