Golpes digitais causam prejuízo e desinformação

Polícia pede que vítimas registrem ocorrências, pois nova modalidade de crime apresenta, até o momento, número reduzido de queixas

Por Tom Rocha

Desconfiar de mensagens suspeitas e evitar clicks em links desconhecidos são algumas dicas

Com a popularização das redes sociais e aplicativos digitais de fintechs (instituições financeiras que só funcionam no ambiente on-line), abriu-se uma brecha para aproveitadores realizarem todos os tipos de golpes. Com a primeira, é fácil obter dados pessoais e até sensíveis de potenciais vítimas que, inadvertidamente, colocam informações pessoais excessivas em seus perfis e, com o segundo, a facilidade de obter dinheiro mediante ameaça está literalmente a um clique.

Dos diversos relatos de golpes que circulam pelos grupos de redes sociais, um que chegou ao conhecimento dos sorocabanos é o de ameaças de sequestro e exigência de Pix. A Polícia Civil de Sorocaba informa, por meio de nota, que “não têm sido registrados muitos casos desse tipo de golpe em Sorocaba. Trata-se de uma modalidade de crime que, até o momento, apresenta ocorrência pontual e isolada, com número reduzido de registros nos boletins de ocorrência, principalmente nos últimos meses”.

A polícia, no entanto, reforça que todo e qualquer caso em que haja efetivo prejuízo à vítima deve ser formalmente registrado, com o maior número de informações disponíveis, para que seja possível iniciar a investigação e buscar a identificação dos autores. “Muitas vítimas de golpes recorrem, num primeiro momento, às redes sociais para alertar amigos e familiares, o que pode contribuir para a prevenção de novos casos. No entanto, esse alerta não substitui o boletim de ocorrência, que é o instrumento que permite que a Polícia Civil possa, de fato, investigar o caso”, alerta a corporação.

“O boletim de ocorrência é fundamental, pois além de orientar e embasar o trabalho investigativo, é o documento oficial que poderá ser utilizado, por exemplo, em processos de indenização ou reembolso, quando houver prejuízo financeiro à vítima”, acrescenta a polícia.

As autoridades também informam que a Delegacia Eletrônica disponibiliza a opção de registro on-line, com a mesma validade e importância do boletim presencial. O procedimento é simples: basta acessar ao site da Delegacia Eletrônica, preencher os dados solicitados e enviar o relato. O sistema é intuitivo e acessível. Após o preenchimento, o boletim é analisado e validado por um delegado de polícia, sendo posteriormente encaminhado à unidade responsável pela apuração.

“Reiteramos, portanto, a importância do registro do boletim de ocorrência. Somente com essa formalização é possível dar início ao trabalho investigativo. A Polícia Civil conta com a colaboração da população para combater esse e outros tipos de crimes”, finaliza a nota da Polícia Civil de Sorocaba.

O Cruzeiro do Sul também questionou a Secretaria de Segurança Pública a respeito dos casos — como funciona a investigação de crimes dessa natureza; se a Polícia Civil tem registrado aumento no número de boletins de ocorrência relacionados a esse tipo de golpe; se a Polícia Militar tem sido acionada com frequência por vítimas ou testemunhas durante essas ligações; e quais medidas imediatas a corporação orienta que sejam tomadas nesses casos. A pasta informou que esse recorte está apenas disponível via Lei de Acesso à Informação (LAI).

 

COMO SE PROTEGER?

É fundamental que todos estejam atentos às tentativas de golpe e sigam estas orientações:

1) Desconfie de mensagens suspeitas
Não forneça informações pessoais em resposta a e-mails ou mensagens de origem desconhecida que solicitem dados financeiros ou pessoais.

2) Evite clicar em links desconhecidos
Links suspeitos podem direcionar você a sites fraudulentos ou instalar programas prejudiciais no seu dispositivo.

3) Não abra arquivos anexos
Anexos em mensagens fraudulentas geralmente contêm programas executáveis que podem roubar suas informações ou causar danos ao computador.

4) Verifique a autenticidade
A Receita Federal utiliza exclusivamente o Portal e-CAC (Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte) e o site oficial como canais seguros de comunicação.

5) Combate a fake news: pense antes de compartilhar
A disseminação de informações falsas em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, facilita o trabalho dos golpistas. Antes de compartilhar qualquer mensagem verifique a fonte (mensagens com informações alarmantes ou urgentes geralmente são falsas), questione o conteúdo (desconfie de mensagens com erros de português, textos muito sensacionalistas ou promessas milagrosas), converse sobre o tema (oriente familiares e amigos a sempre verificarem informações antes de repassá-las). O combate às fake news começa com cada um de nós.

 

Operação ‘Olho no Pix’

 

Órgãos estaduais e federais se movimentam para tentar barrar ou contornar os golpes digitais. No fim do ano passado, por exemplo, o Governo de São Paulo suspendeu as inscrições estaduais de 2.128 empresas identificadas como parte de esquemas fraudulentos envolvendo os chamados golpes do Pix.

A operação, batizada de “Olho no Pix”, revelou que as empresas foram criadas com nomes similares aos de órgãos públicos e redes de varejo para enganar consumidores e aplicar fraudes financeiras, incluindo golpes relacionados ao pagamento do IPVA.

A operação, comandada pela Secretaria da Fazenda e Planejamento de São Paulo (Sefaz-SP), contou com a participação da Diretoria de Fiscalização (Difis) e da Diretoria de Gestão, Atendimento e Conformidade (Diges). A investigação, conduzida pelos auditores da Assistência Fiscal de Monitoramento e Inteligência (AFMI) e da Delegacia Regional Tributária da Capital (DRTC-III), apontou que os fraudadores se aproveitavam da facilidade do Balcão Único para abrir empresas fictícias e direcionar pagamentos via Pix e boletos a contas fraudulentas.

Do total de 2.128 empresas suspensas, apenas uma solicitou o seu restabelecimento, ficando sujeita ao aprofundamento das verificações fiscais. Com a ajuda de ferramentas de learning machine, foi implementada funcionalidade que bloqueia automaticamente pedidos de abertura de empresas com indícios de irregularidade, além de incluir contadores responsáveis em uma lista restritiva. 

 

Bancos mudam alguns protocolos de segurança

 

Em março deste ano, para combater golpes e fraudes, os bancos mudaram alguns protocolos de segurança: verificação de dados de usuários do Pix com informações da Receita Federal. Conforme o Banco Central, é uma medida de segurança. As instituições financeiras devem verificar os CPFs, de pessoas físicas, e CNPJs, de empresas. Os cadastros que estiverem irregulares devem ter as chaves Pix excluídas. Os CPFs que podem sofrer a restrição são aqueles com situação cadastral “suspensa”, “cancelada”, “titular falecido” e “nula”. E os CNPJs com situação “suspensa”, “inapta”, “baixada” e “nula”. Os bancos e financeiras que desrespeitam as decisões levam multa a partir de R$ 50 mil. 

 

Central de golpes em Porangaba

 

Em janeiro deste ano, policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) descobriram uma central de golpes em um sítio na área central de Porangaba, distante 93 quilômetros de Sorocaba. No local, sete homens e duas mulheres, entre 18 e 38 anos, foram presos em flagrante. As equipes ainda apreenderam três veículos, dez notebooks, 12 celulares e diversos fones de ouvido com microfones.

Investigadores receberam informações de que criminosos envolvidos com roubo e furto a banco estariam fazendo reuniões em uma chácara no município. No endereço, um dos suspeitos foi atender a porta e, quando viu que eram policiais, correu e alertou as demais pessoas que estavam na casa. As equipes entraram e prenderam nove suspeitos, sendo que outros dois conseguiram fugir por uma área de mata.

No momento do flagrante, os golpistas estavam em ação, então deixaram os notebooks ligados, o que permitiu a identificação de planilhas com nomes e dados pessoais das vítimas, bem como informações sobre as contas bancárias.

Conforme as investigações, os presos fingiam ser funcionários de instituições bancárias para ligar aos clientes e induzi-los a realizar transferências via Pix. O líder da quadrilha havia sido preso em 2018 em operação da Polícia Federal contra fraudes. Outros três envolvidos também tinham passagens criminais por estelionato, receptação, porte ilegal de arma, corrupção de menores e associação criminosa. Além disso, uma das mulheres era procurada pela Justiça.