Aumento e reposição salarial geram discussão

Reajuste de salário de secretários de Sorocaba deveria ter passado pela Câmara, diz especialista

Por Vanessa Ferranti

Ministério Público analisa se aumento salarial em Sorocaba violou princípios legais

O aumento e as reposições salariais de agentes políticos foram alvo de discussões no último mês na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Isso porque os secretários municipais de Sorocaba passaram a receber, desde março deste ano, 27,4% a mais. Os subsídios subiram de R$ 17.617,80 para R$ 22.460,22 ù uma diferença de R$ 4.842,42. O aumento não passou pela Câmara.

Em Itapetininga, o prefeito, a vice-prefeita e os secretários municipais tiveram uma reposição salarial de 2,49%, aprovada pela Câmara. O projeto de lei, de autoria do Executivo, foi acatado em regime de urgência, durante uma sessão extraordinária. Conforme o texto da lei complementar, o reajuste é retroativo a 1º de maio e corresponde à inflação acumulada entre os meses de janeiro e abril de 2025, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE.

De acordo com o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), a fixação de subsídios, a revisão geral anual ou qualquer reajuste (inclusive aumento real) deve ser autorizado por lei específica, no sentido formal. Nesse contexto, o advogado Luiz Antonio Barbosa, especialista em administração pública, explica que, para aplicar um aumento ou reposição salarial, o Executivo deve elaborar um projeto de lei, que deve ser submetido à votação do Legislativo.

“Aumento sempre por lei específica. Não precisa ser lei complementar ù pode ser uma lei ordinária. Às vezes, a Lei Orgânica do Município exige lei complementar, mas não é regra. Não pode ser por decreto. O aumento pode ser real ou por reposição inflacionária; independentemente da forma, é preciso uma lei específica. Ela deve ser sancionada, pois há impacto no orçamento”, disse Barbosa.

Em Sorocaba, até fevereiro, os secretários recebiam R$ 17.617,80 mensais, conforme a Lei nº 12.211, de 4 de agosto de 2020, válida para a legislatura de 2021 a 2024, sancionada ainda na gestão de Jaqueline Coutinho. No ano passado, a Câmara não votou o reajuste salarial dos secretários, e o valor permaneceu o mesmo.

No entanto, a Prefeitura de Sorocaba se baseou no parágrafo único do artigo 32 da Lei Orgânica do Município, que diz: “no caso da não fixação, prevalecerá a remuneração do mês de dezembro do último ano da legislatura, sendo este valor atualizado monetariamente pelo índice oficial”.

Com base nessa justificativa, foi aplicado o reajuste. Contudo, o advogado especialista observa que o artigo 32 menciona apenas o prefeito, o vice-prefeito e os vereadores, sem incluir os secretários municipais.

“O artigo 28 determina que os subsídios do prefeito, vice-prefeito, secretários e vereadores devem ser fixados pela Câmara Municipal em cada legislatura para a subsequente. Ou seja, os vencimentos dos secretários deveriam ter sido fixados no ano anterior. Já o artigo 29 estabelece que os subsídios do prefeito, vice-prefeito e vereadores devem ser pagos em parcela única, sem qualquer acréscimo. E o artigo 32 trata exclusivamente da fixação da remuneração do prefeito, vice-prefeito e vereadores. Portanto, não há qualquer menção aos secretários. A remuneração dos secretários deve ser definida por meio de lei de iniciativa do prefeito. Não é possível fazer esse reajuste sem a existência de uma lei.”

A ausência de projeto de lei pode gerar sanções ao prefeito, que pode ser responsabilizado até mesmo por improbidade administrativa, considera Barbosa.

Já no caso de Itapetininga, segundo o advogado, o trâmite foi regular, pois houve a elaboração de um Projeto de Lei Complementar, com aprovação pela Câmara. “Tem um projeto, com justificativa e exposição de motivos. Vai para a Câmara, eles aprovam, e então retorna para sanção. Esse é o trâmite correto.”

Ministério Público

O aumento de salários dos secretários municipais de Sorocaba gerou uma representação no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que está em andamento na Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social para apurar os fatos. A Promotoria considera que a medida pode ter violado princípios legais, uma vez que o reajuste não teria passado pela aprovação da Câmara. A prefeitura foi notificada em 12 de maio e, assim, tem até 12 de junho para apresentar defesa. A representação foi feita pela vereadora Fernanda Garcia (PSOL).

Em nota enviada ontem (3), a Prefeitura de Sorocaba informou que “recebeu o ofício do Ministério Público sobre o assunto, cuja atualização monetária para secretários foi feita com base na Lei Orgânica do Município (LOA), o que será detalhadamente explicado dentro do prazo estabelecido.”