Itavuvu: começo da história de Sorocaba virou sinônimo de crescimento urbano

Avenida é a maior da cidade, com 14 km, e tem comércios, shopping center e centro de pesquisas

Por Tom Rocha

Via liga a zona norte à rodovia Castelo Branco e tem trânsito intenso nos horários de pico

Itavuvu, que em tupi-guarani pode significar “pedra grande”, é a maior avenida da cidade de Sorocaba em extensão, com 14 quilômetros. A antiga estrada, historicamente usada pelos índios, se tornou na era urbana um espaço ocupado por empresas de comércio, serviços e lazer. A via corta vários bairros da zona norte e é uma das mais movimentadas da cidade.

Estima-se que mais de 25 mil veículos transitem pela avenida diariamente, além de ser um grande corredor comercial que tem indústrias, hipermercados, grandes lojas e shopping center.

Logo no começo da Itavuvu está a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Zona Norte, que realiza em média 18 mil atendimentos mensais. Adam Teilor, 49 anos, instalou um carrinho de cachorro quente na frente da UPH há sete meses, e confirma o que já se sabe: o local é um dos mais movimentados de Sorocaba. “Tem um horário com mais gente ainda. Entre 17h30 e 19h, é até difícil se locomover por aqui. E enquanto a cidade parece ‘dormir’ depois, um pouco mais tarde, para lá (ele aponta em direção às ruas Comendador Oeterer e Hermelino Matarazzo, que conduzem ao centro e zona sul), aqui tudo ainda está muito vivo e pulsante”, comenta.

O início

O aposentado Cláudio Morales, 84 anos, mora na rua Padre José Maurício, uma das primeiras travessas do começo da avenida, desde 1958. Ele comemorou o primeiro título do Brasil da Copa do Mundo (nesse ano) na avenida Itavuvu.

“Ainda era tudo de terra. Andava-se muito ainda de carroça. Só havia um ‘punhadinho’ de casas ali onde seria a Vila Carol e mais nada. Tudo foi muito devagar para se desenvolver por aqui, mas quando a coisa engrenou, tivemos tudo por aqui”, avalia. Agora, Morales reclama da quantidade de veículos na avenida. “São muitos carros e motos demais, todas barulhentas, ainda para piorar. O trânsito aqui é terrível, não posso sair mais por aí dirigindo”, lamenta o aposentado, apontando para sua Santana Quantum estacionada na garagem.

A Secretaria de Mobilidade de Sorocaba (Semob) informa que a avenida Itavuvu é monitorada por meio de radar e câmeras, há lombadas e demais sinalizações verticais e horizontais de trânsito. Em 2024, foram registrados 136 acidentes de trânsito na via. “A equipe da Semob tem acompanhado a evolução da circulação de veículos e pedestres na avenida Itavuvu, sempre ajustando tempos semafóricos, executando melhorias na sinalização e dispositivos de segurança para os pedestres, da mesma forma que realiza, em tempo real, o monitoramento por câmeras da via”, explica em nota.

Seguindo adiante na avenida, há o Centro Esportivo Dr. Artidoro Mascarenhas, mais conhecido como Dr. Pitico (nome de um ex-prefeito da cidade), localizado no meio da rua Anselmo Rolim (que parece outra avenida), e que se liga com a avenida Ipanema, a via “irmã” da Itavuvu, outra das principais da zona norte, e que juntas somam os maiores trechos de ciclovia de Sorocaba. Mais à frente, há outra via importante, a alameda Augusto Severo (continuação da rua Vicente Paes Filho), que também faz uma ligação direta com a Ipanema.

Quem viu muito desenvolvimento na avenida também foi Wellington Moraes da Silva, 30 anos, vendedor técnico. Ele morou com sua família em um sobrado na altura do numeral 2.735 da Itavuvu, na região onde a rua Atanázio Soares — outra das principais vias da zona norte — se encontra com a avenida.

“Quando mais jovem, passei uma infância muito boa aqui. Tinha menos comércio, não tinha ciclovia e algumas vezes a prefeitura fechava a avenida aos finais de semana (ele se refere a um programa chamado Via Viva, que fechava alguns locais para a circulação da população aos fins de semana), e mais importante, tinha menos carro, então dava para aproveitar mais por aqui”, aponta Wellington.

“Mesmo quando começou a aparecer mais comércio, ficou bom ainda. Tinha muito posto de gasolina, locadoras de filmes”, analisa o vendedor, que morava com a família na zona oeste antes de se mudar com os pais para a casa na Itavuvu. Eles são naturais de Carapicuíba e vieram para Sorocaba em 1993. “Aqui foi um ótimo lugar para se instalar. Esse BRT foi uma ótima inovação”, considera. Ele se refere ao Corredor Itavuvu do Sistema BRT, com 6,1 km e 12 estações de embarque e desembarque.

Shopping e bairros

Houve um impacto significativo na avenida com a instalação do Shopping Cidade Sorocaba em 2013, na altura do numeral 3.373. Já perto do meio da avenida, Everton José de Almeida, dono de um restaurante na altura do numeral 6.776, vê com alegria e esperança a região se desenvolver. “Eu tinha um restaurante no bairro Habiteto e há um ano me mudei para cá. Com a Toyota e o Parque Tecnológico, além de outros empreendimentos se instalando aqui, o movimento melhorou e só cresce”, afirma. Ele vê possibilidades para a região da cidade crescer ainda mais, caso a avenida seja duplicada em toda a sua extensão (a Itavuvu se torna pista simples a partir do numeral 5.960) e o trânsito melhore, pois aqui o fluxo é intenso”, analisa.

O Habiteto o qual Everton se refere é o nome informal do bairro Ana Paula Eleutério. Outro perto dali é o Herbert de Souza, onde fica a base dos bombeiros da avenida Itavuvu. Na região também há uma unidade do Senai, com cursos de construção civil, gestão, logística e metalurgia.

Seguindo em frente na avenida, na altura do numeral 8.857, chega-se à praça Bruno Abreu Tigani, onde está localizada a Paróquia Cristo Rei. Há um terreno da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, com construções literalmente em ruínas; e o chamado marco zero de Sorocaba, de pedra, marcado por pichações.

A diarista Cristina José Pinto, 59 anos, mora há poucos metros dali, na altura do numeral 8.901. Ela tem somente mais um vizinho à frente, e depois a avenida segue apenas terrenos desocupados, algumas chácaras distantes e empresas. Cristina nasceu na mesma casa em que mora. “Gosto dos meus vizinhos, e nessa avenida a gente encontra de tudo. Não tenho razão de reclamar daqui onde moro”, afirma. Ela ressalta que gostaria que houvesse mais sinalização na via e que fosse duplicada. “Tudo na vida dá para melhorar, né?”

Um pouco mais adiante, há a ponte Moshin Yabiku, e depois o Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS), na altura do número 11.777, que concentra 45 empresas, 16 startups e 11 instituições de ensino e pesquisa, cujos projetos “buscam disseminar a cultura da inovação e empreendedorismo para o desenvolvimento sustentável da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS)”, informa a prefeitura.

A avenida Itavuvu termina na empresa Toyota e junto à rodovia Castelo Branco (SP-280), uma das principais rodovias paulistas. A montadora mantém um centro de logística e está em expansão.

História

A avenida Itavuvu é simbolicamente onde Sorocaba começou. Em 1598, Afonso Sardinha e Clemente Álvares estiveram no Morro de Araçoyaba (popularmente conhecido como “Morro de Ipanema”) à procura de ouro. Encontrando minério de ferro, mas pensando ter encontrado ouro e outros metais preciosos em abundância, comunicaram a descoberta ao governador-geral dom Francisco de Souza, que criaria ali, em 1599, a Vila de Nossa Senhora do Monte Serrat, mandando mineiros explorarem as redondezas e para ali transferindo, inclusive, a sede de seu governo.

Não havendo ouro, porém, logo dom Francisco de Souza retiraria-se para São Paulo. Contam os relatos, também, que em 1611, o pelourinho existente junto ao Morro do Araçoyaba foi transferido para a região do Itavuvu, onde se constituiria a Vila de São Felipe do Itavuvu.

Embora inicialmente a vila não tenha se consolidado devido aos constantes ataques de índios, pode-se dizer que o bairro Itavuvu é a mais antigo do município em ocupação. Baltazar Fernandes se mudou em 1654 para o local com os seus familiares e escravos. Anos mais tarde, um despacho do governador Salvador Corrêa de Sá y Benevides transferiu em meia légua de distância o pelourinho do Itavuvu, criando a Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba, dando início à formação urbana inicial de onde Sorocaba cresceu.