Pacientes reclamam de superlotação e demora no atendimento das UPAs e UPHs

Para serem avaliadas pelo médico, pessoas aguardam até quatro horas; prefeitura usa aumento no quadro de viroses para justificar

Por Vanessa Ferranti

Na UPH Zona Leste, a lotação e o tempo de espera fazem com que algumas pessoas desistam do atendimento

Longas esperas e superlotação. Esta é a realidade das pessoas que buscam atendimento médico nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e nas Unidades Pré-Hospitalares (UPHs) de Sorocaba. Há casos em que os pacientes esperam até quatro horas pelo atendimento médico. Por isso, há quem desista e volte para casa.

Muitas pessoas que fizeram contato com o Cruzeiro do Sul dizem que o problema é recorrente. Além da demora, reclamam que não são bem recebidas — relatam episódios de indiferença por parte de alguns profissionais e até mesmo dentro de consultórios médicos.

No domingo (18), por exemplo, por volta das 19h30, uma leitora entrou em contato com o Cruzeiro, por meio do WhatsApp, para contar que havia pessoas aguardando atendimento médico na UPA do Éden desde as 16h.

A mulher, que terá a identidade preservada, disse ainda que desde as 17h nenhum adulto — incluindo os atendimentos prioritários — era chamado. “O descaso é total. Funcionários, incluindo a coordenadora, respondem que não podem fazer nada, pois quando pegaram o plantão, às 19h, a unidade já estava lotada.”

Na manhã de ontem (19), a equipe do Cruzeiro esteve na UPA do Éden. Por volta das 9h, a unidade de saúde também estava lotada. Uns pacientes ocupavam todos os bancos, outros estavam em pé dentro do imóvel e alguns aguardavam do lado de fora.

Frederico Estevam, 43 anos, reclamava de problema na visão e esperava há uma hora e meia pelo atendimento médico. “Estou com um problema no olho, dor, vermelhidão, como se tivesse algum corpo estranho. O atendimento deveria ser mais ágil.”

Moisés Henrique Pereira, 43, sofreu um acidente de moto e passou pela UPA do Éden na sexta-feira (16). Na ocasião, chegou à unidade por volta das 19h e saiu após a meia-noite. Por recomendação médica, retornou ontem. “Na sexta-feira, não estava muito cheio, mas a demora foi lá atrás. Tinham poucas funcionárias efetivas e muitas estagiárias. Hoje tem bastante gente, as pessoas estão sendo chamadas, mas o problema é lá dentro.”

UPH Zona Oeste

A demora no atendimento não é um problema exclusivo da UPA Éden. Também na manhã de ontem, o Cruzeiro visitou outras três unidades: UPH Zona Oeste, UPH Zona Leste e UPH Zona Norte. Todas estavam lotadas.

Com sintomas de virose, o ajudante geral Michel Campos Ferreira, 38, aguardava atendimento na UPH Zona Oeste havia quatro horas e, há cerca de uma hora e meia, tinha passado pela triagem. “Aqui é sempre essa demora”, afirma.

Alguns minutos após conversar com a equipe de reportagem, ele chegou a questionar a demora, mas não obteve retorno. Neste momento, outro paciente, que aguardava há duas horas, foi chamado. Diante da situação, o Cruzeiro procurou um funcionário para saber o que havia acontecido. Ao verificar, ele informou que, após Michel passar pela triagem, a enfermeira não deu continuidade no atendimento e, por isso, a ficha dele não seguiu para o consultório médico. Depois do mal-entendido, às 10h42, Michel finalmente passou pela porta que dá acesso aos consultórios.

Outro paciente, Marcos Rogério de Proença, 48, esperava há três horas no local. “Estou com dor no corpo, febre e vômito. Não consegui ir trabalhar hoje. Passei agora na triagem. Está complicado.”

UPH Zona Leste

Na UPH Zona Leste, a situação era a mesma: unidade lotada e demora no atendimento. Uma jovem, que pediu para não se identificar, estava com um problema no maxilar. Segundo a balconista, ela aguardou uma hora apenas para fazer a ficha no guichê. Duas horas depois, ainda com dor, desistiu e voltou para casa sem ser atendida. “Da última vez também fiquei horas aqui e não fui atendida”, contou antes de deixar a UPH.

UPH Zona Norte

O casal Leonardo Augusto da Silva, 22, e Júlia Stefanie dos Santos, 21, reclama da indiferença ao receber o atendimento médico. Com sintomas gripais, Leonardo foi até a UPH Zona Norte e disse que não foi bem atendido. “O atendimento, até chegar na doutora [médica], depois da triagem, foi demorado. Porém, a doutora foi muito rápida. Ela nem olhou na minha cara.”

O rapaz diz que tem alergia a alguns medicamentos, como o dipirona e, mesmo assim, após avisar sobre o problema, teve o remédio aplicado na veia. Com isso, ficou aguardando no local para verificar se não teria alguma reação. “Não prestam atenção, acham que estamos aqui para pegar atestado. Se estamos no hospital é porque realmente estamos ruins. Falta empatia”, emenda.

Júlia, por sua vez, conta que há algumas semanas levou a filha na UPH Zona Oeste e também não foi bem acolhida. “Fiquei quatro horas dentro do hospital. Falta empatia, falta respeito, falta muita coisa”, dispara.

 

Prefeitura fala em aumento nos quadros de virose e problemas respiratórios


Em nota, a Secretaria da Saúde (SES) de Sorocaba alega que acompanha de forma contínua e próxima a situação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da cidade, mantendo o monitoramento constante dos fluxos de atendimento e das demandas espontâneas.

Segundo a pasta, nas últimas semanas observou-se aumento na procura por atendimentos nas quatro UPAs, especialmente por quadros de síndromes respiratórias, viroses, traumas leves e dores diversas. “Esse crescimento na demanda está diretamente relacionado, entre outros fatores, às mudanças climáticas, ao tempo seco e à queda brusca de temperatura que, historicamente, elevam a incidência de doenças respiratórias e agravos clínicos, sobretudo em idosos, crianças e pessoas com comorbidades.”

Apesar do aumento da demanda, ainda de acordo com a SES, não há, até o momento, a confirmação de qualquer surto epidemiológico na cidade. “A equipe da Vigilância em Saúde segue atenta e ativa na análise dos indicadores locais”, acrescenta.

Sobre o tempo de espera para atendimento, destaca que a situação está diretamente vinculada à classificação de risco, realizada no momento da triagem. “Casos considerados de menor gravidade podem aguardar mais tempo, pois os mais urgentes e críticos são priorizados, conforme os protocolos nacionais de classificação, como o de Manchester.”

Sobre a UPA Zona Oeste, a Secretaria da Saúde ressalta que a unidade passa por processo de transição administrativa entre organizações gestoras. “Para mitigar possíveis efeitos dessa transição, a prefeitura reforçou as equipes técnica e administrativa, com convocação de servidores públicos em caráter excepcional.”

Em relação à falha relatada no registro de ficha após a triagem, a SES aponta que se trata de caso pontual, motivado por instabilidade momentânea no serviço de internet da unidade. “A situação foi identificada e corrigida pela equipe, com a devida regularização do atendimento.”

Por fim, a Secretaria da Saúde reforça que toda manifestação pode ser formalizada pela Ouvidoria da Saúde (via telefone 156 ou site da Prefeitura) para que seja devidamente apurada com seriedade e transparência.