Busca por chocolate e bacalhau movimenta o Sábado de Aleluia

Diferente do dia anterior, Cruzeiro do Sul registra grande movimento na região central de Sorocaba

Por Tom Rocha

Mercado Municipal recebe grande número de pessoas em busca dos ingredientes para o almoço de Páscoa

O Sábado de Aleluia — data litúrgica católica derivada da Sexta-Feira Santa e, algumas vezes, adotada como ponto facultativo por alguns — foi bem diferente do registrado no dia anterior (18), pelo Cruzeiro do Sul. No comparativo, praticamente todas as ruas e avenidas da região central estavam lotadas, especialmente no Centro, com muitas pessoas aproveitando o comércio que estava de portas abertas. Os chocolates e ovos de Páscoa e o bacalhau estavam na mira e nas mãos das pessoas.

No Centro, muitas pessoas passeando e fazendo compras, entre elas, a estoquista Cleusa Silva, 55 anos. De passagem por Sorocaba para visitar a família, ela fez questão de cumprir com duas tradições: seguir os ritos religiosos e dar ovos de Páscoa para seu netinho, o pequeno Heitor, 4 anos. “Esta data significa muito para mim. Sou muito religiosa e faço questão de seguir o que o catolicismo prega”, diz. “Vim para a cidade ver meus familiares e aproveitar esta data tão querida com as pessoas mais próximas.” Cleusa mora em Goiânia, Goiás, e veio passar o feriadão com os parentes, que moram em Sorocaba — quase 900 quilômetros de distância.

“Procuro passar os valores cristãos nesta época também, pois se isso não acontecer, a data perde o sentido”, analisa a estoquista, que fez questão também de dar os tradicionais chocolates para o neto — feliz, segurando duas sacolas de ovos de Páscoa. “A gente parcela aqui, economiza ali e tudo dá certo, graças a Deus”, comenta.

A tradição de consumo de alimentos na Páscoa é tão forte que, mesmo fora das “datas certas”, as pessoas aproveitam. É o que explica Tereza Hanna, 80, proprietária de uma banca no Mercado Municipal. “Ainda estou vendendo muito bacalhau. As pessoas estão comprando, mesmo que a data já tenha passado [Sexta-Feira Santa]. É um alimento que sempre sai bem todo o ano.”

A banca, além de bacalhau, também vende uma grande variedade de grãos e queijo. Tereza não aponta diferenças neste ano em especial e diz que as compras se mantiveram no patamar esperado.

Tradição que vem de Portugal

O bacalhau, que não é o nome do peixe fresco, e sim do processo de conservação (sal e secagem), feito com partes de vários outros peixes, se popularizou como substituto da carne em muitos países, especialmente entre os portugueses, por motivos práticos e históricos: era fácil de conservar. O peixe, salgado e seco, podia ser armazenado por longos períodos, o que o tornava ideal em épocas em que não havia refrigeração. E Portugal, um país católico e colonizador do Brasil, trouxe essa tradição.

Na Sexta-Feira Santa, por ser uma data de luto, reflexão e penitência, a Igreja Católica orienta os fiéis a evitarem o consumo de carnes vermelhas, consideradas símbolo de celebração, prazer e luxo. Em vez disso, recomenda-se o consumo de peixes, que são vistos como alimentos mais simples e humildes.

Ao longo do tempo, o bacalhau, mesmo sendo um peixe que ganhou status de prato nobre, ainda manteve seu lugar nas tradições religiosas, especialmente nesta época. A maioria do bacalhau consumido no Brasil é importado da Noruega, Portugal, Canadá e Islândia.