Motivação e positividade deixam mais leve o tratamento do câncer infantil

Por Cruzeiro do Sul

Andressa e a filha Ana


Crianças que enfrentam o câncer infantil precisam de uma força ainda maior para a superação da doença. A confiança e a positividade da família são ferramentas que auxiliam o paciente durante o tratamento. Além da fé dos parentes, outras motivações tornam a caminhada mais leve.

A psicóloga do Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), Evelin de Araújo, explica como esses incentivos são fundamentais para o tratamento. “A parte psicológica é muito importante, porque eu sempre falo para os pais, a criança que vem com uma família mais otimista, que tem fé, o paciente parece até que se desenvolve melhor, o processo é mais fácil, parece que tem menos interferências, menos problemas do que uma família que não recebe suporte.”

O hospital também incentiva os pacientes e os familiares para esse momento de fé. “Nós temos algumas visitas religiosas que são fixas, que é diferente da capela, que é quando alguém vem para uma família específica. A gente tem a pastoral da saúde, outras religiões vêm semanalmente fazer visita nos quartos para acolher essa parte da fé de cada paciente, de cada família.”

Outra maneira de o Gpaci estimular os pacientes é com o apoio dos voluntários, para animar o dia a dia e os corredores do hospital. “A gente também tem os voluntários da recreação, que nós chamamos de doutores-palhaços, mas nem todos vêm oficialmente vestidos assim. Alguns vêm de super-heróis e de princesas; eles adoram. E tudo isso muda o astral e o dia, não só da criança, mas da família e mais ainda de quem trabalha aqui.”

Além do apoio dos profissionais e dos parentes, a criança também conta muitas vezes com o carinho do ídolo para tornar o processo mais leve. “A gente sabe de pacientes que quando estavam fora, jogavam futebol, então, recebemos, às vezes, times e jogadores. Já teve um paciente que foi abrir um jogo do Palmeiras, tinha um que era muito fã do Corin­thians, era um tratamento difícil e nós conseguimos uma camiseta e uma mensagem dos jogadores para ele. O pessoal da Magnus, do São Bento, também vem visitar aqui, isso dá uma alegria para as crianças. Essa força externa também faz muita diferença.”

Mais que esporte

A paixão e a admiração podem ajudar nessa situação. Um exemplo é o caso de Teodoro Mantovani Pedroso Teixeira, um palmeirense sorocabano de seis anos que com leucemia foi até o Allianz Parque e, após entrar no gramado e conhecer grandes ídolos, como Dudu, teve uma melhora significativa no tratamento um tempo depois. “O Palmeiras se tornou um símbolo de esperança e celebração da vida para gente”, conta Nathália Mantovani Molina Pedroso, a mãe do pequeno Teo, como é carinhosamente chamado.

Thiago Fernando Pedroso Teixeira, pai de Teo, publicou no X (antigo Twitter) que se os jogadores vissem poderiam dar oi para o filho. O tuíte chegou ao conhecimento de um dos idealizadores do Palmeiras Cast, gerando mais de 360 mil interações. A história de Teo chegou então até a equipe interna do clube paulista, que entrou em contato com a família, perguntando se o torcedor gostaria de entrar no campo. Por ser um pouco tímido, preferiu a arquibancada. Mas só foi ver a dimensão do Allianz, os mascotes e o gramado que a ideia mudou.

Ele então desceu sem os pais para o palco principal, mas de mãos dadas com o Dudu, ponta-esquerda na época, e também teve várias interações com o mascote Porco Gobbato e demais atletas do elenco de 2023. Após viver esse momento inesquecível, um ano e cinco meses depois, Teo bateu o sino no Gpaci de Sorocaba, em novembro do ano passado, simbolizando a vitória da família. Hoje, o sorocabano está na fase de remissão do câncer, por isso ainda tem de tomar alguns cuidados pelos próximos anos.

Família precisa de suporte

Ao receber o diagnóstico, a família também passa por um momento difícil junto ao paciente. Andressa Caroline Machado, de 28 anos, é mãe de Ana Júlia Aleixo de Camargo, de 9 anos, a menina foi diagnosticada com um tumor de tronco cerebral, em 20 de junho de 2022. Desde então, a família está aprendendo a lidar com a doença. “Foi bem difícil, porque é uma coisa que a gente não espera. Nós achamos que nunca vai acontecer, mas infelizmente aconteceu. Porém, graças a Deus, tivemos apoio de todos, da família, do pessoal daqui também, que são muito acolhedores. Isso fez com que a gente se sentisse mais tranquilo”, conta a cabeleireira.

Ana Júlia ficou em cadeiras de rodas durante o tratamento, mas não se deixou abalar com esse desafio. “Minha filha era uma criança sempre muito ativa que gostava muito de brincar, de correr. Então, isso foi o que mais a abalou. Ela falava: ‘Mãe, eu quero andar, eu quero brincar, eu quero correr’; pois, ela fazia tudo isso e do nada parou.”

Embora não pudesse andar, Ana Júlia arrumou um jeito de se divertir com os colegas do Gpaci. A psicóloga, Evelin, conta que a menina se arrastava no chão do hospital para poder brincar com as crianças. “Quando a Ana chegou aqui, ela se arrastava no chão, ela não andava, e hoje ela corre e anda normal, então para mim isso é um exemplo da família não ter se entregado, de ter lutado. Ela sempre foi muito otimista, ela descia da cadeira para ir brincar, feliz, sorrindo. Ela não se entregou porque não podia andar.”

Depois de quase três anos de tratamento, a menina voltou a andar, mas ainda precisa passar por cautelas pelos próximos anos.

Já Vera Viana, de 34 anos, mãe de Rafela Viana, de 9 anos, passou por outra adversidade. A filha precisou ficar reclusa um ano em um quarto do Gpaci, sem contato com outras crianças. A assistente administrativa se culpava pela doença da filha. “Até no começo, eu me questionava. A gente acha que a gente fez alguma coisa errada. Porque como mãe, eu me culpei muito. Mas não tem explicação, nenhuma ciência. Então, eu entreguei para Deus, era para eu passar por isso. Hoje a minha fé está inabalável.”

A avó de Rafaela foi necessária para essa virada de pensamento de Vera. “No dia que eu descobri, minha mãe falou assim, para mim: ‘Deus não vai deixar você passar por nada que você não consiga. Deus não vai deixar você sofrer’. E eu falei, eu entendo, mas e se for para eu passar por uma coisa que a gente não está pronto para aceitar? Então, eu só pedi para Deus me ajudar a aceitar o que eu tivesse de passar e que ela não sofresse. Que é só isso que eu peço sempre!”

Após quase dois anos do diagnóstico, a previsão do tratamento é até março. No entanto, assim como todos os pacientes de câncer infantil, a menina deve continuar com as precauções. (Lavínia Carvalho
programa de estágio)