Demolição impacta região com animais

Remoção desencadeou uma onda de aparições de animais como ouriços, ratos e escorpiões

Por Cruzeiro do Sul

Desativado desde 2018, local foi um marco da zona industrial

A demolição da antiga fábrica da Campari, localizada em Sorocaba, tem causado impactos inesperados na vizinhança. Segundo uma funcionária de uma loja de conveniência na avenida Carlos Reinaldo Mendes, situado nas proximidades, a remoção da estrutura desencadeou uma onda de aparições de animais como ouriços, ratos e outros pequenos mamíferos.

Com a movimentação de terra e a remoção dos entulhos, é comum que animais que viviam no local busquem refúgio em áreas próximas. No entanto, trabalhadores da região afirmam que a situação está se tornando preocupante. Além do incômodo gerado pela presença de bichos silvestres, há também o temor pelo aumento de pragas urbanas, como ratos e escorpiões, o que pode representar riscos à saúde pública.

Graciela Regina Ferri, funcionária de uma loja de conveniência, relata que a presença desses animais tem sido constante e crescente desde o início da demolição. Ela destaca que, além dos roedores, outras espécies começaram a aparecer com frequência.

“A gente está tendo rato, cuiara, escorpião. Teve dengue aqui porque está chovendo muito e o mato está crescendo mais. Sem contar que a gente tem ouriço, tatu, raposa. Eu tenho até foto dos ouriços que passam por aqui. São bichinhos da fauna, mas, por causa dessa construção, estão vindo tudo para cá, e não dá para continuar desse jeito”, afirma.

Para Graciela, o problema se agrava com a falta de manutenção na área, especialmente devido ao crescimento do mato, que serve de abrigo para esses animais. Segundo ela, a última vez que o mato foi cortado na região foi no ano passado, antes das eleições.

“O mato foi cortado no meio do ano passado, mas como choveu muito depois disso, cresceu tudo de novo. Desde que começaram a derrubar a fábrica, os bichos silvestres começaram a aparecer. Mas os ratos sempre permaneceram porque o mato está grande. A gente precisa de ajuda urgente. Precisamos que o prefeito mande cortar esse mato aqui e, se possível, mande alguém buscar os bichinhos, porque eles estão tudo largados e morrendo por aqui”, desabafa.

Resposta

A empresa responsável pelo terreno é o Tauste Supermercados. Em nota, ela afirma que tem realizado serviços regulares de limpeza e roçagem, com a última ação ocorrendo no final de janeiro. “Quanto à presença de animais, não temos conhecimento nem registros de ocorrência”, diz a empresa.

Ainda destaca que a demolição prevista contribuirá para eliminar possíveis locais de proliferação de pragas. “É importante ressaltar que há diversas áreas verdes no entorno da região, que podem atrair animais”, conclui.

Impactos ambientais

São diversos os registros de animais selvagens ao longo da zona urbana por todo o Brasil e, certamente, pelo mundo. Segundo o site Artemis Ambiental, para estas ocorrências existem pelo menos duas principais explicações: 1) fuga em busca de refúgio, ocorrência registrada principalmente em épocas de seca, onde as queimadas são mais frequentes; 2) busca de alimento fácil, já que há oferta pelas ruas, em lixeiras, ou até mesmo colocados por moradores. Todavia, ao longo de muitos anos, a principal explicação que leva a ocorrência cada vez mais frequente de animais selvagens no interior dos centros urbanos é o desmatamento, diz o site.

É preciso estabelecer políticas públicas que visem alinhamento sobre o crescimento da população, a necessidade de urbanização de áreas, a sustentabilidade e conservação das espécies da flora e da fauna. “Além das questões de gerenciamento ambiental e planejamento urbano é importante salientar também algumas ações que precisam ser tomadas pela população ao se deparar com estas situações”, informou Deise Miola, bióloga do site Artemis Ambiental.

Ainda, há recomendações ao encontrar um animal selvagem: tomar distância. A bióloga Deise explica que da mesma forma que você pode se sentir inseguro, ele também deve estar. Grandes movimentos ou barulhos podem deixar o animal mais agitado, com medo, gerando assim maiores riscos de acidentes. A segunda orientação é procurar por serviços de resgate, pessoas habilitadas para fazer o salvamento. Se o animal não estiver ferido, possivelmente ele será resgatado e solto na própria região, já em seu habitat natural.

Além disso, nunca se deve alimentar animais silvestres, por mais que seja considerada uma boa ação, os animais não estão acostumados aos nossos alimentos, e principalmente aos nossos condimentos. Dar um pão, biscoito ou até mesmo uma fruta a um animal selvagem além de estar introduzindo alimentos fora de sua dieta comum, estamos ferindo o ciclo natural de vida dele, do instinto pela busca, pela caça. “Assim ele acabará sendo motivado à busca pelo alimento fácil, e estará cada vez mais próximo das áreas urbanizadas, o que pode se tornar um problema. Tanto pela possibilidade de reprodução desordenada quanto pelo risco de se tornarem vetores de doenças”, conclui Deise.

O que diz a prefeitura?

Diante das reclamações dos moradores e trabalhadores da região, a reportagem procurou a Prefeitura de Sorocaba para esclarecimentos. Em resposta, a Zoonoses informou que realiza monitoramento periódico no local e que enviará uma equipe para verificar as condições atuais do espaço.

No entanto, até o momento, não há informações sobre ações concretas para o controle da fauna silvestre que se deslocou para a área urbana ou sobre medidas emergenciais para o corte do mato, uma das principais queixas da população.  (João Frizo - programa de estágio)