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Abuso sexual

Número de mulheres que acusam cuidador de residências terapêuticas de abuso sobe para 9

O suspeito foi preso nesta segunda-feira (3)

07 de Fevereiro de 2025 às 11:10
Vinicius Camargo [email protected]
As delegadas responsáveis pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), esclarecem informações sobre o caso
Delegadas Sílvia Elmara Monteiro (esq.) e Renanta Zanin (dir.) apresentaram novos detalhes do caso (Crédito: Vinicius Camargo )

*Atualizada às 14h40

O número de mulheres que acusam um cuidador de uma rede de casas terapêuticas de Sorocaba de abuso sexual subiu para nove. Na segunda-feira (3), quando o homem foi preso, eram quatro. As vítimas têm entre 37 e 64 anos. Novas informações sobre o caso foram divulgadas pelas delegadas Renata Zanin, titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), e Sílvia Elmara Monteiro, assistente da Delegacia Seccional, em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (7).

Segundo Renata, o instituto para o qual o homem trabalhava administra 16 residências em Sorocaba. Ele atuava como folguista em algumas delas, e a violência teria acontecido em ao menos três das residências visitadas pela Polícia Civil -- todas ficam no bairro do Éden.

A quantidade de vítimas pode aumentar ainda mais, pois as moradoras das demais unidades seguem sendo entrevistadas pelos investigadores ou pelos próprios funcionários.

A titular da DDM informa que cada casa abriga cerca de dez moradoras. Elas são oriundas de hospitais psiquiátricos fechados e beneficiárias de auxílio financeiro do governo federal. Todas convivem com problemas psiquiátricos como esquizofrenia, TDAH, bipolaridade, dentre outros.

As denúncias

As desconfianças começaram quando uma das moças que recebia atendimento teve crises, por acreditar estar grávida, e precisou ser internada. Em uma conversa com a responsável legal pela residência, ela relevou que foi abusada pelo cuidador. A funcionária, então, iniciou diálogos com todas as outras atendidas, para verificar se elas também haviam sido violentadas, e mais uma confirmou. Diante das descobertas, ela abriu um boletim de ocorrência em 23 de janeiro de 2025. Imediatamente, a DDM iniciou as investigações.

No decorrer da apuração, mais duas assistidas afirmaram terem sido abusadas e, com isso, um novo BO foi feito dia 28. As primeiras denunciantes têm entre 37 e 56 anos. De acordo com os registros, todas são diagnosticadas com esquizofrenia. Três disseram que o acusado tocou em suas genitálias, enquanto a quarta afirmou ter sido estuprada.

Logo após as denúncias, o funcionário foi demitido. Além disso, a Polícia Civil pediu para a Justiça um mandado de prisão preventiva, que foi cumprido na segunda-feira (3).

Mais vítimas

Depois da prisão, os investigadores começaram a visitar as residências, para conversar com as mulheres. De acordo com Renata Zanin, outras cinco revelaram abusos e o número de vítimas subiu para nove. Dentre elas, há uma idosa de 64 anos. A delegada informa que sete já foram ouvidas e duas ainda não, pois ambas têm dificuldades para falar devido às suas condições. “A oitiva tem de ser muito especial, para conseguirmos identificar o que aconteceu com elas, e, da mesma forma, tentar acolhê-las da melhor maneira possível”.

Nesses casos, segundo Sílvia Elmara Monteiro, delegada assistente da Seccional, os abusadores se aproveitam justamente da situação das vítimas para cometer os crimes. Isso porque acreditam na incapacidade delas de denunciar e, consequentemente, na impunidade. “O agressor escolhe esse tipo de vítima. Pela vulnerabilidade, pela dificuldade, algum problema mental que elas têm, ele vai desacreditá-las, falar que é a palavra delas contra a dele”, diz.

Violência psicológica

Conforme Renata, o acusado coagia as pacientes de formas distintas. “Para uma delas, ele disse: ‘Olha, se você fizer alguma coisa comigo, eu te dou um brinco, um anel’. Em outros momentos, ele simplesmente tocava essas mulheres de forma agressiva e violenta. Com outras, ele tentava conversar”, cita. Apesar das diferentes abordagens, completa a delegada, todas elas também apresentam sinais de violência psicológica. “No momento em que começam a falar, elas explodem e tem crises de choro. Uma delas falou assim: ‘Eu só consegui falar porque sei que ele está preso agora e não vai fazer mal para mim’. Então, elas ficaram guardando tudo isso, provavelmente, por duas, três semanas”, conta.

Investigações continuam

Até o momento, além de sete denunciantes, a Polícia Civil já ouviu a representante legal e a conselheira técnica da residência terapêutica. Ao final do inquérito, o cuidador também prestará depoimento. Os investigadores já pediram a conversão da prisão de temporária para preventiva. Agora, um dos focos é descobrir há quanto tempo ele agia. Embora ainda não tenha essa informação, Renata acredita que os abusos começaram pouco antes do registro do primeiro boletim de ocorrência. Outra objetivo é identificar se há mais vítimas.

Todos os casos, com ou sem ato sexual, são tratados como estupro de vulnerável. “Apesar de não ter conjunção carnal em todos, a lei considera estupro os atos que ele praticou. Qualquer ato contra a vítima configura estupro, não necessariamente precisa ter a conjunção carnal”, explica a titular da DDM.