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Mobilidade

Aumenta a participação no mercado de trabalho de pessoas com 60 anos ou mais

Segundo um levantamento da Fundação Seade, a Região Metropolitana de Sorocaba registra na última década uma alta de 56,3%

16 de Janeiro de 2025 às 21:00
Vinicius Camargo [email protected]
De acordo com a consultora de RH, Vera Vaz, o mercado se conscientizou sobre a importância desta mão de obra
De acordo com a consultora de RH, Vera Vaz, o mercado se conscientizou sobre a importância desta mão de obra (Crédito: ACERVO PESSOAL )

A participação de pessoas com 60 anos ou mais aumentou de 5,9% (1,4 milhão de idosos) em 2014 para 8,3% em 2023 (2,2 milhões) na força de trabalho (empregados e desempregados) no Estado de São Paulo. Nesse período, a parcela de idosos na força de trabalho de ocupados também subiu de 6,2% para 8,6%. A quantidade geral de trabalhadores passou de 21,6 milhões para 24,5 milhões, 2,9 milhões a mais (13,4%). Desse total, 754 mil são empregados mais velhos. Os dados são de um levantamento da Fundação Seade.

Na última década, o número de idosos na força de trabalho avançou 60,1% no interior do Estado. O percentual é maior do que o registrado na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), onde a alta foi de 56,3%. Considerando somente os ocupados, o cenário se repete: ampliação de 57,6% (1,1 milhão) no interior e de 54,2% (1 milhão) na RMSP, em 2023.

Houve, também, crescimento da taxa de participação de idosos na força de trabalho, passando de 23,8% em 2014 para 26,6% em 2023. Esse indicador corresponde à proporção de pessoas com 60 anos ou mais no mercado de trabalho, seja ocupadas ou desempregadas, em relação ao total de paulistas dessa faixa etária.

Segundo a pesquisa, a quantidade de funcionários com 60 anos ou mais em empregos formais (celetistas, estatutários e militares) aumentou de 432 mil para 627 mil. Contudo, a aceleração foi maior entre outras formas de ocupação. Em 2014, 916 mil idosos atuavam sem carteira assinada ou fora do funcionalismo público e das forças de segurança (67,9% do total). Esse contingente se expandiu para 1,5 milhão em 2023 (70,2%).

O estudo ainda mostra os índices de contratações por setores econômicos. Em dez anos, a participação desse público caiu na agricultura (de 5,9% para 4,4%), no comércio (de 16,6% para 13,3%) e na indústria (de 13,6% para 13,3%). Houve alta na construção (de 9,5% para 10,8%) e nos serviços (de 54,4% para 58,2%).

Conjunto de fatores

Para Alexandre Loloian, economista e chefe da Divisão de Estudos de Mercado de Trabalho da Seade, a ascensão de idosos contratados ou em busca de emprego se deve a um conjunto de fatores. O primeiro é o prolongamento da expectativa de vida, uma questão demográfica. Conforme previsão da Fundação, em 2035, a população com 65 anos ou mais deverá superar a de menores de 15 anos. Com isso, as empresas terão mais profissionais experientes à disposição. “Tem menos gente nascendo e, portanto, menos gente chegando à idade adulta para entrar no mercado de trabalho. Isso faz com que os negócios, daqui para frente, tenham cada vez mais dificuldade de só escolher jovens para empregar. (Assim), vão ter de contar com as pessoas de mais idade”, informa.

A consultora de RH Vera Vaz também observa essa mudança. De acordo com ela, antes, empresários costumavam estabelecer limite de idade para contratações. Com o passar do tempo, completa, se conscientizaram da capacidade dos mais velhos e deixaram esse requisito de lado.

Outro fator é a preferência. Segundo Loloian, mesmo com benefício previdenciário suficiente para uma vida de qualidade, várias pessoas continuam trabalhando porque gostam. “A grande maioria __ é claro que existem sempre exceções, não é uma regra para todo mundo __ chega nas fases mais avançadas da vida, 70, 75 anos, em pleno vigor, ou com vigor razoável para desempenhar atividades compatíveis com a idade”. Em outras situações, acrescenta ele, a queda nos atendimentos após a aposentadoria demanda a permanência no ofício.

Crescimento de outras formas de ocupação

O avanço de outras formas de ocupação em detrimento de empregos formais também ocorre por diversas razões. Conforme o representante da Seade, os jovens são os que mais exigem carteira assinada devido ao intuito de se aposentar. Além disso, eles têm maior responsabilidade financeira em casa e na família. No caso dos idosos, essa incumbência é menor. Dessa forma, analisa Loloian, eles conseguem ser autônomos ou empregadores mais facilmente, os dois tipos de atividades mais comuns entre a terceira idade. A lista de aspectos favoráveis ao empreendedorismo nessa etapa da vida inclui outros dois: “São os idosos que têm os recursos financeiros e o conhecimento não só do mercado, mas também técnico para abrir um negócio próprio”, aponta o especialista.

De acordo com ele, a criação de novos modelos de contrato depois da reforma trabalhista e da pandemia de Covid-19 também reduziu as contratações convencionais. Há, ainda, um fator econômico e geográfico que influencia esse cenário. O economista aponta que, em áreas mais urbanas, principalmente os setores de serviços e comércio, recrutam muitos funcionários temporários e intermitentes (freelancers). Assim, não precisam registrá-los.

 

Benefícios dessa contratação

Para a consultora de RH Vera Vaz, o recrutamento de idosos tem várias vantagens. A principal é a vasta experiência. “Eles têm uma bagagem gigantesca de conhecimento, muita vivência no mercado, muito a contribuir”, afirma. Segundo ela, esse grupo também é dedicado, produtivo e, ao contrário dos jovens, tende a ficar no emprego por mais tempo. 

 

Trabalho como fonte de realização

Como constatado por especialistas, muitas pessoas da terceira idade gostam de trabalhar. O auxiliar de padeiro Agostinho Mion Filho, de 76 anos, é uma delas. Aposentado há 13 anos, ele ainda desempenha a função em uma unidade do supermercado Bom Lugar, em Sorocaba. Na cidade, a rede tem oito funcionários com 60 anos ou mais. Ele conta que o valor da Previdência Social supre todas as suas necessidades. Mesmo assim, segue trabalhando por não gostar de ficar “acomodado” em casa.

No mercado, o tédio não toma conta, pois Agostinho se distrai, conversa com os colegas e se move bastante. Segundo ele, continuar profissionalmente ativo beneficia até mesmo a sua saúde física e mental. “Você fica estressado dentro de casa, não tem movimentação. Agora, trabalhando, não; você faz aqui, faz ali, está sempre se mexendo e não fica pensando em coisas fora do normal.”

Com uma rotina puxada, o idoso acorda às 4h45 para entrar no mercado às 7h. Apesar disso, não fica cansado. Pelo contrário. “Tenho uma disposição ‘lascada’”, diverte-se.

Essa energia é compartilhada pela auxiliar de limpeza Arlete Bueno de Oliveira, 61, funcionária do mesmo local. Embora vá se aposentar em 2025, não pretende sair da empresa logo, por se sentir realizada na função e para conseguir concretizar planos. “Eu não me vejo em casa sozinha”, justifica. Assim como o colega de equipe, ela diz não ter nenhum problema de saúde e acredita que é por manter-se ocupada.

Arlete ainda deixa um recado para as novas gerações, e tem propriedade para falar, devido à sua experiência. “Tem de ter amor, carinho, saber o que está fazendo e dar o seu melhor.” 

 

 

 

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