Brasileiros nos EUA se preparam para furacão
Brasileiros que vivem nos Estados Unidos estavam ontem (9) em alerta máximo com a aproximação do furacão Milton. Classificado na categoria 4, a combinação perigosa de ventos devastadores, tempestades e chuvas torrenciais que podem causar inundações e destruição em áreas vulneráveis. Com ventos que podem chegar a 210 km/h, o fenômeno é comparável a outros grandes furacões que já deixaram cicatrizes na história recente do país.
A partir das ordens de evacuação emitidas em diversas regiões costeiras, em partes da Flórida, Geórgia e Carolina do Sul, muitos brasileiros se preparavam ontem para o pior, enquanto outros tentavam deixar as áreas mais perigosas. A situação gerou preocupação entre os imigrantes, turistas e moradores que, em muitos casos, estão vivenciando pela primeira vez a experiência de enfrentar um desastre natural dessa magnitude.
O furacão se formou no Golfo do México e se intensificou devido às altas temperaturas das águas na região, com ventos de até 250 km/h. O presidente Joe Biden alertou que a tempestade pode ser a pior a atingir a Flórida em um século.
Milton avançava ontem em direção à costa da Flórida, com ventos máximos sustentados a 215 km/h. A previsão era do furação tocar o solo do Estado norte-americano no fim da noite de ontem ou na madrugada de hoje (10), de acordo com o boletim do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês) divulgado às 15h de ontem (horário de Brasília).
Organização
A preparação para um furacão envolve uma série de etapas que, para muitos brasileiros, são inéditas. Estoques de água potável, comida não perecível, medicamentos e materiais de primeiros socorros estão entre os itens prioritários para quem vai enfrentar a tempestade em casa. Além disso, as autoridades recomendam o reforço de janelas e portas, com o uso de tapumes, para minimizar os danos causados pelos ventos.
O paulistano e cientista da Universidade de Miami, Eric Spinetti, mora com a esposa e uma filha. Ele falou sobre o desafio de se adaptar a essa realidade: “É o segundo furacão que a gente presencia. No ano passado, eu, minha esposa e minha filha, não vivemos nenhum furacão perto. Semana passada tivemos o Helene, que deu um susto, ventou muito, mas foi bem longe e esse Milton já está sendo bem diferente, porque a gente vem acompanhando. Ele evoluiu muito rápido, no final de semana passou de uma categoria 2 para 3, 4, 5, e está nesse momento chegando no limite do que a atmosfera terrestre pode produzir”, observa Spinetti.
Além da preocupação com a vida e danos materiais, há também o impacto emocional. Muitos brasileiros relatam o estresse de lidar com a incerteza, a espera prolongada e o medo do desconhecido.
Orlando
Lara Queriquelli de Agostini é natural de Indaiatuba e mora em Orlando, área vulnerável e afetada pelo furacão, e decidiu seguir as recomendações para se proteger do fenômeno natural. “Os preparativos geralmente são distribuição de sacos de areia para colocar nas portas e evitar a entrada de água, principalmente para quem mora no térreo. A minha maior preocupação é com o vento que possa trazer alguns objetos na janela, então, em algumas casas eles colocam uma proteção, aqui em casa minha varanda é de vidro, só tirei os objetos da varanda e guardei dentro de casa”, conta Lara sobre os preparativos para a chegada do furacão.
O governo dos Estados Unidos também instrui a carregar todos os aparelhos portáteis (como celulares), encher a banheira de água, porque “se faltar água, podemos, pelo menos, dar descarga no banheiro”, conta Lara.
Giovanna Vettorazzo morou em Sorocaba por 15 anos e mora atualmente em Ocala, na Flórida. Segundo ele, furacões passam pela região com bastante força. “O governo toma medidas preventivas para qualquer lugar que esteja na rota do furação. Como onde eu moro será mais fraco, as únicas medidas que eu e minha família tomamos foram estocar água potável e encher a nossa banheira de água caso ocorra uma interrupção no fornecimento de água. Também compramos comida não perecível caso tenha interrupção de energia e colocamos itens de jardim ou móveis de piscina dentro da garagem”, relata Giovanna.
Segundo ela, geralmente o governo avisa sobre desastres naturais com tempo de antecedência. “Muitas pessoas entram em desespero e compram mais água e comida do que necessário e isso causa um caos desnecessário em filas dos mercados e postos de gasolina. Depois disso, o mercado parece uma cena de guerra com as prateleiras vazias.”
Giovanna mora em Ocala e trabalha em Orlando, a cerca de um hora de carro. “Teve muito trânsito para voltar para casa, 4 horas para andar 60 milhas. Muitas pessoas estão ficando sem gasolina na estrada e os postos perto da estrada já estão sem gasolina”. De acordo com ela, o que preocupa mais são os tornados que podem formar durante a tempestade, arrancando telhados das casas ou derrubando árvores em cima das casas. O marido dela é bombeiro e paramédico e está trabalhando em esquema de plantão.
Incerteza
Meteorologistas preveem que o furacão Milton possa perder força ao longo das próximas 48 horas, especialmente à medida que ele avança para o interior do país. No entanto, antes disso, as áreas costeiras da Flórida e Geórgia devem enfrentar o pior da tempestade, com risco de inundações severas, destruição de infraestruturas e longos períodos sem energia elétrica.
O meteorologista americano John Morales se emocionou ao comentar do fenômeno durante entrevista a uma televisão dos Estados Unidos. “É simplesmente um furacão incrível, incrível, incrível. Ele caiu 50 milibares (unidade de medida de pressão atmosférica) em dez horas. Peço desculpas, isso é simplesmente terrível”, disse Morales com a voz embargada após uma breve pausa.
Enquanto esperavam ontem pela chegada do furacão, brasileiros continuavam acompanhando atentamente as atualizações meteorológicas e ajustando seus planos de acordo com as orientações das autoridades. O governo dos Estados Unidos, por sua vez, já mobilizou equipes de emergência e recursos para garantir a segurança dos moradores, com a expectativa de que a recuperação pós-furacão possa ser longa e desafiadora. (João Frizo - programa de estágio)