Família de motoboy acidentado processa empresa de ônibus para custear tratamento

Depois de três meses internado, rapaz continua preso a uma cama, em casa; tratamento mensal custa R$ 5 mil

Por Vinicius Camargo

Tiago sofreu traumatismo craniano encefálico; agora, alimenta-se por sonda, usa fraldas e depende de ajuda para tudo

A Semana Nacional do Trânsito, neste ano, trouxe o tema: “Paz no trânsito começa por você”; e, em 2025, o tema será: “Desacelere. Seu bem maior é a vida”. A semana ocorre entre os dias 18 e 25 de setembro, conforme previsto no artigo 326 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), e tem por objetivo alertar os cidadãos sobre a importância de se respeitar a sinalização de trânsito, como não avançar o sinal vermelho, não exceder na velocidade, ter cuidado ao passar por trechos urbanos, onde há travessias de pedestres, entre outras. No entanto, entre todas, a principal delas, conforme previsto na legislação, é a de que o mais forte deve proteger o mais fraco sempre.

Neste ano, o jornal Cruzeiro do Sul trouxe notícias sobre a situação de Sorocaba no ranking de mortes no trânsito, números preocupantes que colocam a cidade como líder nesse índice. Muitas famílias convivem com o drama da perda de um ente querido, mas há outras tantas que enfrentam o drama do dia a dia de cuidar de um familiar que, por conta de um acidente de trânsito, vive hoje em uma cama ou numa cadeira de rodas e precisa de cuidados especiais e de alimentação específica para sobreviver. Os custos desse tipo de cuidado geralmente são altos.

Um exemplo desse drama é o da família do motoboy Tiago Henrique Moreira Rodrigues, de 26 anos, que pede na Justiça que uma empresa de transporte rodoviário de Sorocaba ajude no custeio do tratamento e do home care dele. O morador de Sorocaba ficou acamado após se envolver em um acidente com um ônibus da empresa em abril de 2024. O gasto mensal com os cuidados do rapaz é de cerca de R$ 5 mil. Sem condições de pagar todo esse valor, parentes dele começaram a fazer rifas e vender itens pessoais. Eles também cobram suporte do Poder Público.

Na Justiça

O advogado dos familiares, Caio Norwig Galvão, de 27 anos, solicita indenização por dano material e moral, lucro cessante — pela impossibilidade de trabalhar — e pensão para Thiago. Ele ainda busca conseguir pensão para o filho da vítima, de três anos. A Justiça analisa o processo.

Segundo Galvão, a empresa chegou a propor um acordo, mas as tratativas não avançaram. Questionada pela reportagem, a empresa disse não comentar sobre ações em andamento.

O caso

A ocorrência foi registrada no dia 9 de abril, no Parque Paineiras, onde Tiago morava. Ele trafegava pelo cruzamento da rua de sua casa — Eliza Stefani Ramos — com a rua Roque da Silva, quando bateu na lateral do ônibus. Segundo a mãe dele, Isaura Moreira Camilo, de 53 anos, a preferencial era do filho. O motorista do coletivo, segundo os familiares, teria avançado sem olhar em volta e acabou por atingir a motocicleta do rapaz. Isaura conta que a colisão ocorreu logo após o jovem sair para trabalhar.

Tiago sofreu traumatismo craniano encefálico, perfuração dos dois pulmões e fraturas nas costelas. Foram três meses internado, sendo 25 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Desde a alta, em julho, o jovem está acamado. Ele se alimenta por sonda, usa fraldas e depende de ajuda para tudo. Faz uso de dez medicamentos e toma quase 20 comprimidos diariamente.

“São muitas perguntas sem respostas. Não sabemos o que (qual função) vai voltar, se vai voltar, só o tempo vai dizer”, desabafa a mãe.

Custo alto

De acordo com Isaura, as secretarias municipal e estadual da Saúde não fornecem a alimentação nem as fraldas. Ela também diz não ter encontrado nenhum dos medicamentos na farmácia de alto custo, administrada pelo Governo do Estado de São Paulo. Dessa forma, a família precisa comprar tudo. A mãe também paga uma cuidadora para auxiliá-la a dar banho no filho, por exemplo, pois não consegue fazê-lo sozinha. Os custos mensais com todos esses recursos necessários ao tratamento ficam em torno de R$ 5 mil. A lista de gastos ainda inclui a compra de duas camas hospitalares, somando R$ 8 mil.

Com o intuito de cuidar integralmente do rapaz, Isaura o levou para morar na casa dela e precisou parar de trabalhar. E o salário do marido — padrasto do jovem — é a única renda disponível. Sem condições de arcar com todas as despesas, a família faz rifas e vende objetos pessoais para arrecadar dinheiro. “Estou pensando em colocar até a televisão na rifa”, conta.

Para resolver a situação enfrentada pela família, a mulher pede que o Poder Público repasse os remédios, a comida líquida e as fraldas, bem como disponibilize uma enfermeira para atender Tiago diariamente. Ela ainda cobra aumento na frequência das sessões de fisioterapia e fonoaudiologia oferecidas pelo município. Hoje, elas acontecem a cada 20 ou 30 dias. “Ele precisa, pelo menos, duas vezes na semana, só que a gente não tem condições”.

Doações

Os parentes do sorocabano estão aceitando doações. Quem tiver interesse em contribuir pode contatar Isaura pelo telefone (15) 99762-8585 ou levar os itens ao escritório do advogado Caio Galvão, na rua Goiás, 126, Centro.

 

Órgãos públicos dizem que ajuda depende de critérios técnicos

Em nota, a Secretaria da Saúde (SES) de Sorocaba informa não ter identificado pedido administrativo referente ao caso de Tiago Henrique Moreira Rodrigues, mas alega estar empenhada em oferecer o “melhor suporte possível”, dentro dos limites legais e orçamentários vigentes. A pasta diz haver possibilidade de fornecimento de alimentação enteral — para pacientes que não conseguem ou não devem se alimentar por via oral — e fraldas descartáveis. Porém, esses benefícios estão sujeitos ao cumprimento de critérios técnicos e legais. Para acessar esses serviços, a secretaria orienta a família a procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima, onde será orientada sobre as etapas seguintes.

Ainda conforme a SES, atendimentos de reabilitação, como fonoaudiologia e fisioterapia, seguem condutas e orientações médicas individualizadas para cada paciente. “A Secretaria da Saúde entende a preocupação da família em relação à frequência dos atendimentos e informa que o caso de Tiago será revisado de forma criteriosa”. O comunicado acrescenta que a possibilidade de ampliação das sessões dependerá de avaliação técnica das necessidades dele. Outro critério a ser considerado é a disponibilidade de profissionais habilitados na rede municipal.

Segundo a pasta municipal, a disponibilização de enfermeira para acompanhamento diário também depende de avaliação específica da real necessidade clínica. Esse requerimento deve ser formalizado diretamente em uma UBS. “O Município disponibiliza suporte domiciliar por meio do programa Melhor em Casa (Médico da Família), destinado a pacientes que se enquadram em critérios definidos, após uma análise aprofundada do estado de saúde”, completa.

A SES acrescenta que possui dois dos medicamentos usados por Tiago na Farmácia Municipal — furosemida e carbabezepina.

O que diz o Estado

Já o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Sorocaba afirma disponibilizar fralda e dieta enteral. Além disso, segundo o órgão, os medicamentos quetiapina, gabapentina, baclofeno, risperidona, atropina 0,5% e propantelina gel — também utilizados pelo rapaz — estão disponíveis na rede estadual de remédios especializados. Esses itens, acrescenta o DRS, são concedidos quando a solicitação está dentro do protocolo. A orientação sobre a documentação necessária para obtê-los deve ser buscada em uma Farmácia de Medicamentos Especializados (FME).(V.C.)