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Memória

Urna eletrônica foi um avanço para o processo eleitoral

Justiça Eleitoral organizou cursos e treinamentos para ensinar a população a usar a nova tecnologia

08 de Junho de 2024 às 23:39
Vinicius Camargo [email protected]
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. (Crédito: JCS)

Lázaro Paulo Escanhoela Júnior era o juiz eleitoral de Sorocaba no ano da primeira eleição com urna eletrônica. Segundo ele, hoje advogado, a informatização foi criticada por muitos, pois acreditava-se que os eleitores teriam dificuldade para votar na máquina. Pensando nisso, a Justiça Eleitoral organizou cursos e treinamentos para ensinar a população a usá-la. Lembra Escanhoela Júnior, sete juízes realizaram as ações em associações de locais como associações de bairro e escolas.

De acordo com ele, apesar dos problemas em urnas durante a votação e na totalização dos votos, para uma primeira experiência, a efetividade da eleição superou as expectativas.“Foi fantástica”, resume.

Após o primeiro turno, a Justiça Eleitoral aprimorou alguns aspectos para evitar complicações no segundo. Escanhoela Júnior lembra que houve, inclusive, uma alteração no trânsito para as urnas serem levadas em segurança até o Recreativo. “A polícia criou um corredor só para presidente de mesa com máquina e disquete”.

Com esse aprimoramento, ao contrário da demora no primeiro turno, Sorocaba concluiu a contabilização dos votos em 2º lugar, entre as 57 cidades que usaram a urna pela primeira vez. A cidade terminou às 19h47, menos de dez minutos depois de Florianópolis, a primeira colocada, que finalizou às 19h10. Essa informação consta no livro O Voto Informatizado: Legitimidade Democrática, de Paulo César Bhering Camarão. Devido à agilidade, o município recebeu até um prêmio do TRE.

Rapidez e segurança

Para o ex-juiz eleitoral, a urna eletrônica melhorou o processo eleitoral como um todo. Isso porque o equipamento proporcionou celeridade no ato de votar, assim como sanou as dificuldades de identificação do eleitor e do voto. Com as cédulas, às vezes, era difícil identificar os votos, por conta de marcações confusas nos papéis. A digitalização também trouxe segurança e rapidez para a apuração do resultado.

Segundo Escanhoela Júnior, a partir da mudança, fraudes comuns nessa etapa, como a da “formiguinha”, acabaram. Nesse golpe, ele explica, pessoas entravam para votar com um papel semelhante à cédula. Após pegarem o documento oficial, elas o escondiam, preenchiam o falso e depositavam na urna de lona. Em seguida, assinalavam no verdadeiro os candidaturas de sua preferência, entregavam para eleitores fora dos locais de votação e pediam para eles lhes trazerem a cédula real em branco.

A transmissão de votos em branco para determinado candidato, outra prática irregular, também tornou-se impossível de ser cometida, de acordo com o advogado.

Em praça pública

José Elias Themer, que também foi juiz eleitoral em Sorocaba durante anos, atuava em Botucatu em 1996. Conforme ele, a cidade realizou, até mesmo, demonstração do funcionamento da urna em praça pública. Para Themer, a segurança é o principal ponto positivo das máquinas, porque elas não têm ligação nenhuma.“São isoladas e emitem um documento impresso, que é o boletim de urna, o que possibilita a recontagem e a conferência a qualquer tempo”, detalha. Até mesmo se o sistema de totalização for colocado em dúvida, a contraprova estará sempre disponível para ser conferida, informa o atual juiz da 7ª Vara Cível do Fórum de Sorocaba.

Começa um novo capítulo eleitoral brasileiro

A eleição municipal de 1996 representou o início de um novo capítulo no processo eleitoral brasileiro. Naquele ano, urnas eletrônicas foram usadas nas 57 cidades com mais de 200 mil eleitores, incluindo Sorocaba, além de Brusque, em Santa Catarina. Cerca de 30% do eleitorado nacional pôde votar nos equipamentos.
Com 260 mil moradores aptos a votar naquela época, Sorocaba recebeu 533 urnas, segundo informou o jornal Cruzeiro do Sul em 3 de outubro, data do primeiro turno. Elas chegaram no dia anterior e ficaram guardadas no então Fórum Criminal até serem enviadas para as seções eleitorais. Mesmo com a tecnologia à disposição, a Justiça Eleitoral optou por se precaver e imprimiu 80 mil cédulas de votação, para utilizá-las caso houvesse problemas nos equipamentos.
Os candidatos a prefeito que disputaram o primeiro pleito informatizado na cidade foram Caldini Crespo (PFL), Iara Bernardi (PT), Nildo Leite (PSB), Renato Amary (PSDB), e Theodoro Mendes (PTB). Crespo, com 57.997 votos (35,52% do total) e Amary, que teve 51.460 (28,25%), seguiram para o segundo turno.
Durante a votação, apenas cinco das mais de 500 unidades apresentaram falhas. Porém, durante a apuração, 30 tiveram erros na emissão dos boletins, detalhou o Cruzeiro em 4 de outubro. Com isso, a verificação do resultado começou com uma hora de atraso. Esse trabalho foi realizado no Clube União Recreativo Campestre, com a presença de público. A Polícia Militar estimou a participação de mais de duas mil pessoas, principalmente, presentes e amigos dos candidatos a vereador. Havia, inclusive, um telão para os presentes acompanharem tudo.
O segundo turno ocorreu mais de um mês após o primeiro, no dia 15 de novembro. Surpreendentemente, o resultado virou, e Amary venceu com 102.139 votos (46,25% do total). Crespo obteve 92.758 (42%). (V.C.)

 

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