Proliferação
Fatores climáticos e reinfecção podem explicar o aumento de casos
O Estado de São Paulo, sobretudo a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), tem vivido dias de muito calor desde o início do ano. Os dias quentes, umidade e água parada são ideais para a proliferação da dengue. A opinião é do infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), do Hospital Modelo e Notrecare Sorocaba, Eduardo Crocco, que conversou com o Cruzeiro do Sul sobre os números elevados de casos e mortes registrados neste ano.
“Não existe nenhuma comprovação de que o mosquito ou os quatro sorotipos da dengue sofreram mutações. O que pega mesmo é a questão da proliferação, que acontece muito dentro de casa. O mosquito tem um ciclo de vida curto, relativamente de 45 dias, porém nesse período podem produzir até 450 ovos. E o Aedes tem um raio de até 350 metros. Pode parecer que não, às vezes, mas causa um grande estrago”, explicou o médico.
Até ontem (9), Sorocaba registrava 13 óbitos e mais de 16 mil positivados. Juntando com a região, são mais de 20 mortes. O número assusta, ainda mais se comparando com dados de 2023. Segundo a Vigilância em Saúde sorocabana, no ano passado foram pouco mais de 4.6 mil casos e três falecimentos.
De acordo com Daniela Silva, gestora de Vigilância em Saúde de Sorocaba, a letalidade deste ano está em 0,06%, a mesma de 2023. O coeficiente leva em conta o número de casos e mortes. Por isso, “a transmissão de dengue em Sorocaba está seguindo a transmissão do Estado e do Brasil, portanto, sendo esperado ter o pico de transmissão da doença entre os meses de março e abril, mais comumente no final de abril”, explicou.
Apesar dos números absolutos, o especialista indica que, de modo geral, a reinfecção também pode aumentar a intensividade da resposta inflamatória. “A gravidade da dengue, que pode ter os casos que levam a óbito, está relacionada com respostas imunológicas ou inflamatórias mais intensas. Então, aquelas pessoas que têm essa resposta e, obviamente, aqueles com alguma outra fragilidade, como diabetes, corre o risco de ter uma dengue com manifestação mais agressiva”, comentou. “Por isso que se comenta que os casos complicados, normalmente, não são o primeiro caso. Então, é óbvio, a pessoa pode ter o primeiro caso e ser grave, mas é mais comum e mais esperado que os graves se desenvolvam em quem já teve contato”, complementou.
Independente de o paciente apresentar um quadro grave ou não, é importante a colaboração da população na tentativa de frear a proliferação. “70% dos reservatórios de Aedes aegypti são dentro de casa. Tinha aquela história de só se reproduzir em água limpa e não é verdade. Na água suja também!”, disse o especialista. “A gente vê uma ‘fragilidade social’ que é da própria família cuidar do seu quintal, das suas coisas. A colaboração é essencial”, finalizou Crocco.