Saúde pública
Médicos alertam para riscos de volta da poliomielite ao Brasil
Caminho para prevenir é a imunização, porém, cobertura vacinal está abaixo do esperado
Há 32 anos, o vírus da poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, não circula no País, mas a baixa cobertura vacinal nos municípios acendeu o alerta nas autoridades e órgãos de saúde. A campanha de vacinação contra a doença ocorreu entre agosto e outubro deste ano em todo o Brasil, porém, durante a ação menos de 70% do público alvo, composto por crianças de zero a cinco anos, foi vacinado. De acordo com o Ministério da Saúde, a meta é imunizar pelo menos 95% das crianças dessa faixa etária em todo o País. Em Sorocaba, a situação não é diferente e a cidade também está abaixo da expectativa da cobertura vacinal. Das 35.090 crianças que deveriam receber as doses, 24.331 foram imunizadas no município, o que representa cerca de 70% do público-alvo.
Diante do atual cenário, o jornal Cruzeiro do Sul ouviu especialistas da área para saber se existe o risco da doença retornar ao Brasil. De acordo com o infectologista Marcos Vinícius da Silva, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Campus Sorocaba e médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, a resposta é sim, existe o risco. O professor explica que a poliomielite é uma doença causada por um vírus humano presente no intestino e é eliminado através das fezes. Dessa forma, ele se prolifera no meio ambiente e é capaz de acometer crianças e adultos que tiverem contato com água e alimentos contaminados, por exemplo. Porém, a doença só infecta pessoas não vacinadas.
O médico lembra ainda que a poliomielite continua presente em alguns países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão e, se não houver prevenção, o vírus também pode voltar a circular no Brasil. “Muitas pessoas não têm noção do que é a gravidade dessa doença. Inclusive, para você viajar para esses países precisa de uma certificação internacional de vacinação para poliomielite, porque são países que há risco de transmissão. Muitas vezes, o indivíduo não adoece e trás o vírus do país de origem, porque não é vacinado, e dissemina para a população e essa população não vacinada tem um risco de adoecer muito grande, ainda mais hoje em que as viagens ocorrem a longas distâncias muito rápido”, relata.
Já o médico Paulo Kudo, presidente da Subcomissão Polio Distrito 4621 do Rotary Brasil - entidade que realiza campanhas de conscientização contra a doença - relembra como era em meados de 1985, quando havia uma pandemia de paralisia infantil. O profissional conta que o vírus da poliomielite estava disseminado em diversos países e nessa época cerca de mil crianças ficavam paralíticas no mundo todos os dias. Kudo explica também que a saída para evitar o retorno do vírus é a vacinação e por isso, a população precisa se conscientizar. “Nós sabemos que o Brasil não está preparado ainda para grandes pandemias. As nossas Apaes já estão muito limitadas em termos de atendimentos e se tivermos um novo surto de paralisia infantil no Brasil, em questão de dez anos, novamente, mil casos de crianças paralíticas serão registrados no mundo”, informa.
Doença causa paralisia infantil
A poliomielite é uma doença contagiosa que se inicia com um quadro febril, mal-estar e dores no corpo. As pessoas infectadas também podem ter vômitos, diarreia, prisão de ventre, espasmos, rigidez na nuca e até mesmo meningite. O médico infectologista Marcos Vinícius da Silva explica que a poliomielite pode ainda acometer o cérebro e, principalmente, causar a paralisia flácida, mais conhecida como paralisia infantil.
A doença não tem cura e acompanha o paciente para o resto da vida. “Toda paralisia flácida em menores de 15 anos é notificada ao Centro de Vigilância Epidemiológica para investigação de poliomielite para verificar se não há de novo introdução de vírus selvagem ou de vírus modificado no nosso meio ambiente e se há risco de contaminação de outras pessoas e de desenvolvimento da doença. Quem conheceu, quem atendia pacientes com pólio, sabe que são sequelas gravíssimas”, relata o médico.
Vacinação
Apesar da campanha de vacinação já ter sido encerrada, quem ainda não recebeu a imunização ainda pode tomar as doses. Em Sorocaba, a vacinação continua nas 33 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), das 8h às 16h, conforme Calendário Nacional, da seguinte forma: 1º dose com dois meses de idade; 2ª dose com quatro meses; 3ª dose com seis meses. A 1ª dose de reforço deverá ser aplicada com 15 meses de idade e a 2ª dose de reforço deverá ser aplicada em crianças de quatro anos de idade.
O professor da Puc reitera que apesar das campanhas de vacinação serem voltadas para crianças, adultos que não tomaram as doses contra a poliomielite na infância também podem atualizar a carteirinha. “O adulto deve procurar um posto de saúde onde faz a vacinação e ele vai receber as doses necessárias para estar imunizado”, explica Marcos Vinicius da Silva. “Vamos fazer a nossa parte. Vamos fazer com que todas as crianças de Sorocaba sejam vacinadas e atualizem a carteira de vacinação, principalmente, para essa doença brutal, a poliomielite. Contra o arrependimento, não há vacina”, finaliza o médico do Rotary Paulo Kudo. (Vanessa Ferranti)
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