Eleições 2022
Começa agora uma nova disputa
Bolsonaro e Lula vão para o segundo turno em busca de mais votos
A eleição presidencial será decidida em um segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Um universo de mais de 121 milhões de eleitores compareceu ontem (2) às urnas em todo o País. Na disputa pelo Palácio do Planalto triunfou o voto polarizado no atual e no ex-presidente.
Com 99,38% das urnas apuradas, Lula obteve 56,6 milhões de votos válidos, ou 48,26% do contabilizado pela Justiça Eleitoral. Foi seguido de perto por Bolsonaro, candidato à reeleição, que recebeu 50,9 milhões de votos, ou 43,34% do total. O segundo turno ocorre quando nenhum candidato consegue atingir a maioria da soma total dos votos.
O resultado mostra uma divisão no eleitorado nacional. A soma das votações do petista e do presidente chegava a 91,6% dos votos totais. Para se ter uma ideia, há quatro anos, mesmo numa disputa também polarizada, a soma dos desempenhos de Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) atingiu 75% do total de válidos.
Na votação de ontem, o bolsonarismo demonstrou mais força eleitoral do que as pesquisas previam. Além do índice de votos alcançado pelo próprio presidente -- Lula aparecia com 51% das intenções de voto e Bolsonaro, 36% na maioria da pesquisas --, candidatos associados ao chefe do Executivo federal obtiveram melhores desempenhos em grandes colégios eleitorais e na eleição para o Congresso Nacional.
Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, terminou na frente de Haddad, com quem irá disputar segundo turno. Também em São Paulo, Marcos Pontes (PL), outro ex-ministro do atual governo, venceu a disputa pelo Senado. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL) venceu no primeiro turno Marcelo Freixo (PSB). No Rio Grande do Sul, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) liderava a maioria das pesquisas, mas, ao final da apuração, ficou 10 pontos porcentuais abaixo de Onyx Lorenzoni (PL), também ex-ministro e aliado de Bolsonaro. Ainda com os votos dos gaúchos, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), se elegeu senador.
A abstenção de votos se manteve na casa dos 20% (mais de 156 milhões de brasileiros estavam aptos a votar). O encontro entre os dois principais rivais está marcado para o último domingo deste mês. A realização da segunda etapa do pleito frustra principalmente a campanha do petista, que, na reta final do primeiro turno, investiu na defesa pelo voto útil na intenção de encerrar a disputa ontem.
Em pronunciamento na noite de ontem após o resultado do primeiro turno, Lula afirmou que a chance de debater diretamente com o presidente Bolsonaro é benéfica. ‘Podemos fazer comparações entre o Brasil que ele construiu e o que eu construí‘, disse o candidato petista. ‘Nós vamos ganhar essas eleições. Isso para nós é apenas uma prorrogação‘, afirmou. Ele também fez um aceno a alianças no segundo turno e indicou que a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, poderá iniciar os trabalhos para buscar apoio de candidatos derrotados.
Na campanha do PT, contudo, as discussões programáticas foram tratadas como coadjuvantes. Apesar da promessa, a equipe de Lula não apresentou um plano detalhado de governo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A omissão, segundo petistas, tinha por objetivo também evitar a resistência de nomes que ainda poderiam manifestar apoio a Lula na reta final. A campanha do ex-presidente deixou sem respostas principalmente na economia.
Eleitorado alvo das atenções dos dois candidatos finalistas, o centro político não logrou êxito no primeiro turno. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) -- representante da chamada terceira via, em coligação com PSDB e Cidadania -- e Ciro Gomes (PDT) terminaram com um saldo menor de votos do que o esperado. Após disputar sua quarta disputa presidencial, o pedetista falou em deixar a cena política.
Omissão
Simone, que terminou com cerca de 4% dos votos válidos, prometeu se posicionar e disse que não irá pecar por omissão. ‘Foi difícil chegar onde nós chegamos. Apesar de tudo, saímos do zero e conseguimos provar que nossa candidatura era para valer. Foi uma caminhada muito feliz. Estou satisfeita com o resultado. Agora é hora dos presidentes dos nossos partidos se posicionarem Precisamos analisar os resultados das urnas para nos posicionar Não esperem de mim omissão.‘
Nos debates em que os candidatos estiveram frente a frente, Lula acenou a Ciro e a Simone -- ainda que ambos tivessem feito duros ataques às gestões petistas, inclusive com denúncias de corrupção e crítica à recessão registrada no governo Dilma Rousseff (PT), alvo de impeachment em 2016. Nos bastidores, interlocutores do PT também conversam com nomes do PDT e do MDB.
Antes da apuração, Bolsonaro se mostrou confiante e voltou a dizer que seria reeleito. ‘Tenho certeza de que, em uma eleição limpa, ganharemos com no mínimo 60% dos votos‘, afirmou o presidente ao votar no Rio. Ele também afirmou que a eleição representa uma ‘luta do bem contra o mal‘ e disse que, ‘com eleições limpas, tudo bem, que vença o melhor‘.
Nesse contexto, além do clima tenso nas ruas e nas redes sociais, os embates assumiram o protagonismo, o que colocou de lado os projetos de País dos candidatos. Lula, por exemplo, não apresentou versão final do programa de governo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a justificativa de não criar desconforto com aliados.
Esse espectro de apoios é fundamental para definir o segundo turno e a formação de um eventual governo Lula. Anteontem, o petista já sinalizava a necessidade de ampliar o leque de apoio, até agora majoritariamente formado por partidos de esquerda e líderes do centro. ‘A gente não tem de ficar com melindre de conversar com quem quer que seja. Nosso barco é que nem a Arca de Noé. Basta querer viver para entrar lá dentro e nós iremos salvar todo mundo‘, disse Lula, em entrevista coletiva.
Após o resultado do primeiro turno da eleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou no final da noite de domingo os institutos de pesquisa e disse que ‘venceu a mentira‘. O chefe do Executivo também afirmou que entra na segunda rodada da disputa com ‘confiança total‘ e atribuiu o fato de ter ficado atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à percepção de perda de poder de compra por parte da população.
‘Entendo que é uma vontade de mudar por parte da população, mas têm certas mudanças que podem vir para pior. E a gente tentou durante a campanha mostrar esse outro lado, mas parece que não atingiu a camada mais importante da sociedade‘, declarou o presidente, em pronunciamento à imprensa. ‘Nós vencemos a mentira no dia de hoje. Estava o Datafolha aí dando 51% a 30 e poucos. Vencemos a mentira‘, emendou.
Bolsonaro ressaltou que no segundo turno o tempo de TV passa a ser igual para os dois candidatos. ‘Nós vamos agora mostrar melhor para a população brasileira, em especial a classe mais afetada, que (a crise econômica) é consequência da política do ‘fique em casa‘, é consequência de uma guerra lá fora, de uma crise ideológica também‘, afirmou o candidato à reeleição.
Bolsonaro também disse que vai conversar com o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema, para obter o apoio do político do Novo no segundo turno das eleições contra Lula. O presidente afirmou, ainda, que recebeu uma ligação do governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que é seu correligionário. De acordo com o chefe do Executivo, a campanha vai focar agora nos três maiores colégios eleitorais do País: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. (Da Redação com Estadão Conteúdo)
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