Câmara aprova projeto para salas de cinema adaptadas

Torna obrigatória a realização de ao menos uma sessão especial por mês em cada cinema

Por Wilma Antunes

Sessões adaptadas terão luzes levemente acesas.

As pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) poderão assistir filmes em salas de cinema adaptadas. Um projeto de lei que torna obrigatória a sessão inclusiva foi aprovado na quinta-feira (4), em segunda discussão, na Câmara de Sorocaba.

A iniciativa, do vereador Péricles Régis (Podemos), torna obrigatória a realização de ao menos uma sessão especial por mês em cada cinema. A diferença de uma sala comum para uma sala adaptada é a iluminação, volume do som e flexibilização para entrada e saída durante a exibição do filme.

Com isso as sessões inclusivas não poderão exibir publicidades comerciais ou informes e o volume do som deve ser reduzido, bem como as luzes precisam permanecer levemente acesas. A entrada e saída da família na sala de cinema ainda será autorizada durante toda a exibição.

Além, mesmo no caso das salas adaptadas para autistas, o público, que não tem o transtorno, também poderá acompanhar as sessões. A questão foi levantada por membros do Legislativo sorocabano, que destacaram a importância de ações inclusivas em eventos da cidade.

O alto volume dos filmes, segundo parlamentares, também incomoda algumas pessoas que são mais sensíveis a ruídos. Desta forma, iniciativa também contemplaria parte da população que não se sente confortáveis nesses ambientes. “Não vai atender só pessoas autistas. O volume é muito alto e realmente chega a incomodar”, destacou outro vereador.

Ainda conforme o projeto, as sessões deverão ser identificadas com o símbolo mundial do espectro autista - fita do quebra-cabeça - afixado na entrada da sala de exibição.

Se o projeto for regulamentado pelo executivo, os cinemas que descumprirem a lei serão, inicialmente, advertidos. Após a primeira notificação, poderá ser aplicada multa no valor de 100 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (Ufesp), ou seja, R$ 3.197 mil. O valor ainda será dobrado a cada reincidência. A proposta teve parecer favorável e foi parabenizada por outros parlamentares, sensíveis à causa dos autistas e às ações inclusivas.

Mãe de autista

Aos fundos do plenário, Tagliane Gonçalves, de 38 anos, estava de braços abertos, estendendo uma bandeira com o símbolo mundial do autismo de uma mão a outra. Ela é mãe do Pietro, de 8 anos, que tem TEA nível 1 -- aqueles que têm capacidade de realizar atividades diárias, manter uma conversa normalmente, ler e escrever, além de outras atividades.

Ela conta que o filho, em muitas ocasiões, não conseguiu ficar na sala de cinema até o fim da sessão. A possibilidade de ter uma sala adaptada às necessidades de Pietro deixou a mãe contente. “A gente quer a inclusão de autistas na cultura. Tem mães que nunca levaram seus filhos ao cinema porque, dependendo do grau do autismo, a criança não consegue ficar. Estamos lutando por ainda mais direitos para nossos filhos”, afirmou.

Ela também contou que existem outras questões a serem revistas pelo Poder Público. Entre elas estão a adequação de visitas a museus e vagas de estacionamento reservadas à população com TEA. “O Pietro usa o cordão de identificação, mas não é todo mundo que quer ficar com o acessório. Até a gente sair do carro e explicar que se trata de uma pessoa autista, gera muito constrangimento e até mesmo discussão”, explicou. (Wilma Antunes)