Região Metropolitana tem histórico de falsos médicos
O caso do falso médico que socorreu vítimas de um acidente na rodovia Presidente Dutra e determinou que a perna de um dos feridos, um caminhoneiro, fosse amputada, ganhou repercussão nesta semana. Natural do Paraná, Gerson Lavisio mora em Sorocaba e também atuou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Votorantim no dia 3 de março. Mas esse não é o primeiro caso de falso médico na região.
Em dezembro de 2012, aconteceu a prisão de Fernando Henrique Guerrero que atuava como médico na Santa Casa de Sorocaba usando indevidamente o nome e o número do registro profissional de outro médico. A prisão de Guerrero ocorreu após o homem atender e prescrever medicamentos em pacientes. A polícia apreendeu o carimbo usado pelo golpista, além de documentos que foram utilizados na investigação do caso. Na época, a Santa Casa informou ao Cruzeiro do Sul que não sabia que se tratava de um falso médico e que trabalhava com empresas terceirizadas.
Nesse mesmo ano, cerca de 20 dias antes da prisão de Fernando, já havia ocorrido a prisão de Camila Aline da Silva Matias da Rocha. Ela exerceu ilegalmente a profissão de médica no ambulatório municipal de Piedade e também na Santa Casa de Sorocaba. Durante o seu interrogatório na delegacia da cidade, ela disse que para conseguir o emprego não preencheu ficha e não precisou apresentar documentos que comprovassem que era médica. A mulher também era procurada por participação em crime de roubo seguido de morte na zona leste de São Paulo. Camila teria dirigido o carro usado para a prática do crime.
Sobre o caso de Fernando, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ) informou que em março de 2021 a ação foi julgada procedente em parte e atualmente o processo está em grau de recurso, porém em segredo de Justiça. Durante consultas processuais no site do TJ foi possível constatar que Camila cumpriu pena privativa de liberdade durante seis meses de detenção e ao pagamento de dez dias/multa, calculando-se a unidade no patamar de um sálario mínimo. Também consta no processo que a pena privativa de liberdade foi substituída por uma pena restritiva de direitos para prestar serviços à comunidade, podendo recorrer em liberdade.
Operação Placebo
Em 2015, outro caso ganhou repercussão na região. As investigações haviam começado em agosto daquele ano e a polícia conseguiu identificar o esquema de falsos médicos. Os envolvidos usavam identidades e registros profissionais regulares da área para atuarem em Alumínio, Mairinque e São Roque. O caso começou a ser descoberto quando uma mulher, Vilka de Souza Nobre, contratada como médica se ausentou do Pronto Atendimento de Alumínio durante o horário que deveria estar na unidade. Assim, responsáveis pelo PA acessaram o site do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) para saber o que poderia ser feito em relação à ausência da profissional. Ao digitar o número do CRM, apareceu no sistema uma foto com o rosto de outra pessoa, mas com o mesmo nome.
Após esse caso, outros falsos médicos foram descobertos. Ao todo, pelo menos 12 pessoas estavam envolvidas no esquema, entre elas, os dois donos da empresa Innova, responsável na época pelas contratações dos profissionais, os médicos Pedro Renato Guazelli e Tarquínio Lúcio Alves de Lima. Além dos falsos médicos, uma funcionária da empresa também precisou prestar esclarecimentos, pois cuidava das escalas de plantão dos médicos. As prisões dos envolvidos foram ocorrendo de forma gradativa. Vilka de Souza Nobre, a primeira pessoa a ser descoberta no esquema ficou um período foragida. Atualmente, nenhum dos réus está foragido. De acordo com o TJ o processo está em fase de alegações finais e todos os envolvidos respondem em liberdade.
Gerson Lavisio
Gerson Lavisio trabalhava como socorrista em uma empresa tercerizada que presta serviço para a concessionária CCR RioSP, no município de Lavrinhas (SP). O homem, de 32 anos, foi descoberto após socorrer vítimas de um acidente envolvendo três caminhões na rodovia Presidente Dutra e determinou que a perna de um dos feridos, um caminhoneiro, fosse amputada. A vítima foi socorrida para a Santa Casa de Lorena, onde ocorreu o procedimento.
A falta de conhecimento médico chamou a atenção dos colegas de trabalho e durante uma consulta realizada pela Polícia Rodoviária Federal no site do Conselho Regional de Medicina, foi constatado que Gerson não era médico. O diploma era falsificado e ele utilizava um número de registro profissional de um médico que já morreu. Além da concessionária, Lavisio atuou na Prefeitura de São Paulo e na Unidade de Pronto-Atendimento de Votorantim. No município ele atendeu pacientes no dia 3 de março.
Após a identificação de Gerson, a Prefeitura de Votorantim afirma que ele foi prontamente denunciado aos órgãos competentes. Ele deixou a UPA e não retornou. Os pacientes atendidos por ele foram reavaliados. Os representantes da unidade e da Secretaria de Saúde de Votorantim notificaram oficialmente o Conselho Regional de Medicina do Estado São Paulo (Cremesp) e encaminharam as fichas de atendimento e as receitas médicas ao órgão. Paralelamente, a entidade também recebeu uma notificação extrajudicial de um assessor jurídico da Secretaria de Saúde.
O Cruzeiro do Sul entrou em contato por e-mail com a empresa que Gerson trabalhava e com a CCR RioSP, mas não teve retorno. A reportagem também tentou contato por telefone com a Santa Casa de Lorena, mas as ligações não foram atendidas.
Por meio de nota, o Cremesp informou que Gerson protocolou, em fevereiro de 2022, um pedido de inscrição. No entanto, após checagem da documentação junto aos órgãos competentes, o Cremesp identificou que o diploma apresentado era falso e protocolou denúncia ao Ministério Público Federal. O Cremesp informa que vai investigar a contratação do falso médico por parte da Enseg e de outras instituições onde o mesmo atuou e que adotará as providências cabíveis. (Vanessa Ferranti)