Sorocaba
Casal acusado de torturar crianças em São Roque segue foragido
O casal suspeito de torturar três crianças em São Roque ainda não foi localizado, de acordo com informações da Polícia Civil. Dois meninos, de 11 e 7 anos, e uma menina, de 4 anos, foram resgatados pelo Conselho Tutelar. A tia, de 41 anos, e o tio, de 32 anos, já tiveram prisão temporária decretada. Na data dos fatos, as crianças foram encaminhadas para a Casa de Acolhimento do município onde receberam todos os cuidados e suporte necessários. A reportagem não obteve informações sobre o destino das crianças.
Relembre o caso
Tiro com arma de chumbinho, castigo dentro de geladeira e unha arrancada. Essas foram algumas das agressões que as três crianças de São Roque relatam ter sofrido diariamente. A ocorrência foi registrada no dia 9 de dezembro. As vítimas foram resgatadas pela polícia e pelo Conselho Tutelar. As crianças já teriam sofrido violência doméstica por parte da mãe, o que motivou a retirada da guarda. Desde então, as crianças viviam com os tios e dois primos adolescentes.
As autoridades tomaram conhecimento do caso quando o irmão mais velho, de 11 anos, fugiu em uma madrugada para buscar comida. O menino encontrou o vigia de uma escola e contou que estava com fome e que se voltasse para casa, seu tio o mataria.
Após apurar o endereço da família, o Conselho Tutelar foi até a casa e foi recebido pela tia das crianças. O depoimento da conselheira tutelar relata que a menina de 4 anos estava assustada e sempre olhava para o chão. O irmão de 7 anos, que possui deficiência intelectual, tinha uma lesão no rosto.
Ao verificar a reação do irmão mais velho, a conselheira o chamou para conversar fora da casa e o menino contou que o machucado se deu após o tio, de 32 anos, agredir o irmão com a fivela do cinto. A criança ainda implorou para que os retirassem da residência porque eram agredidos diariamente pelos tios e primos adolescentes. Os conselheiros retiraram, então, as crianças da casa e encaminharam para a sede do Conselho Tutelar, onde elas relataram mais agressões.
Os três contaram que, quando os tios e primos saíam, trancavam as duas crianças mais novas no quarto, sem comida, água ou acesso ao banheiro. O irmão mais velho também ficava nas mesmas condições, porém aprisionado na sala da residência. Eles disseram que, quando os parentes voltavam, caso tivessem urinado no local ou na roupa, eram agredidos com tapas, chutes no rosto, pedaço de pau, ferro e a fivela do cinto. As crianças afirmaram que sofriam as agressões desde que se mudaram para a casa dos tios e que eram ameaçados de morte se gritassem, chorassem ou pedissem ajuda. Eles estariam trancados em casa, sem nunca sair, há um ano e meio.
O menino de 11 anos informou que, em uma ocasião, o tio pisou propositalmente em seu dedo da mão, retirando a unha de lugar. Entretanto, o suspeito não teria permitido que a criança fosse levada ao hospital, utilizando um pregador de roupa para fixar o dedo. A irmã era, rotineiramente, trancada dentro da geladeira, onde passava muito tempo. Ela contou que era agredida todos os dias. A menina, junto ao irmão de 7 anos, ainda passariam boa parte do tempo ajoelhados como forma de castigo. Também como punição, o menino mais velho dormia no chão, com apenas uma coberta. Ele era obrigado a trabalhar fazendo sapatilhas e, quando demorava para concluir o serviço, apanhava e ficava, junto aos irmãos, mais de dois dias sem alimentação.
Conforme os relatos das crianças, o irmão mais velho já teria levado um tiro de uma arma de chumbinho do tio, perfurando a perna. Este, ainda teria proibido novamente de levar o menino ao hospital.
A conselheira ainda afirmou à polícia que os ferimentos dos três foram analisados pelo Instituto Médico Legal (IML) e que todos estavam subnutridos e desidratados. Além disso, as lesões são compatíveis com as agressões denunciadas. (Kally Momesso)