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Trem Sorocaba-São Paulo segue indefinido

19 de Dezembro de 2021 às 00:01
Vinicius Camargo [email protected]
Projeto é discutido há anos. Nos últimos tempos, houve pouco progresso para viabilizar a iniciativa.
Projeto é discutido há anos. Nos últimos tempos, houve pouco progresso para viabilizar a iniciativa. (Crédito: RICARDO BOTELHO / MINFRA)

 

Discutido há anos, o projeto de instalação de uma ligação ferroviária para passageiros entre Sorocaba e capital paulista segue indefinido. Nos últimos tempos, houve pouco progresso para viabilizar a iniciativa. A concessão de duas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) à iniciativa privada reacendeu as esperanças. Até o momento, porém, nada saiu do papel.

Em abril deste ano, o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), publicou decreto que autorizava a abertura de licitação para a concessão das linhas 8 - Diamante e 9 - Esmeralda da CPTM. No mesmo mês, a Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM) divulgou edital que previa a possibilidade de extensão do serviço para a região Metropolitana de Sorocaba (RMS).

À época, o consórcio ViaMobilidade, formado pelo grupo CCR e Ruas Investimentos, venceu a concorrência por R$ 980 milhões. Na ocasião, a concessionária confirmou a possível expansão do transporte para Sorocaba. Contudo, não houve novas atualizações sobre o projeto. Em nota, a STM informou que o consórcio começa a operar as duas linhas a partir de janeiro de 2022.

A pasta também destacou ainda constar, no contrato com o consórcio, a abertura de possíveis prolongamentos das linhas para a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). No entanto, a ideia está paralisada. “No momento, não existe nenhum estudo em andamento para extensão das linhas”, afirmou.

Em nota, a ViaMobilidade disse ser do Estado a definição quanto à ampliação do serviço, cabendo à ela apenas a parte de execução do projeto. “É prerrogativa do poder concedente a decisão de realizar ou não a expansão da operação até a Região Metropolitana de Sorocaba, mediante realização de estudos e adequações econômico-financeiras conforme termos previstos no contrato”, alega. “Caso o trem intercidades seja aprovado, estaremos preparados para implementar”, completa.

Já a Secretaria de Transportes Metropolitanos disse ser de responsabilidade da empresa a operação, conservação, manutenção e modernização das instalações existentes. A pasta estadual igualmente afirma ficar a cargo da concessionária a construção de novas estações e compra de novos trens das duas linhas.

Como seria a ligação

Os sistemas Diamante e Esmeralda interligam, em um trecho, a estação Júlio Prestes, no centro de São Paulo, a Amador Bueno, em Itapevi, na divisa com São Roque. São 41,6 quilômetros de ligação e 22 estações. O outro itinerário compreende a estação de Osasco a Grajaú, no extremo sul da capital, com 32,5 quilômetros e 18 estações.

A ampliação até a RMS é possível por meio da continuação da linha 8 a partir de Amador Bueno, onde há trecho de 25 quilômetros inativo desde 1998. Desde então, toda essa extensão pertence à CPTM, por sucessão da antiga DRM-Fepasa, até a estação de Mairinque. A partir de Mairinque, a ferrovia é federal, de propriedade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Concessionado à empresa Rumo Malha Oeste, o trecho é usado para o transporte de carga.

Conforme João Felipe Rodrigues Lanza, administrador de empresas especializado em transporte ferroviário, a interligação poderia, inclusive, utilizar a Estrada de Ferro Sorocaba, no trecho de Amador Bueno até Sorocaba. Para tanto, seriam necessários reparos e mudanças estruturais. “Os requisitos necessários para a implantação do trem são o restauro da via entre Amador Bueno e Sorocaba, retificações do traçado onde for possível, para a obtenção de maiores velocidades operacionais, e a capacitação da atual linha 8 - Diamante da CPTM para que possa comportar, além dos trens de subúrbios, trens expressos de passageiros”, detalha.

Trem Intercidades

Uma alternativa para a ligação, amplamente discutida, foi a criação do Trem Intercidades (TIC) Sorocaba-São Paulo. No entanto, o sistema, anunciado em 2012, nunca foi colocado em prática.

Em março do ano passado, quando a STM anunciou o projeto de concessão das linhas 8 - Diamante e 9 - Esmeralda, o TIC ficou de fora. Na época, a CPTM realizou audiência pública na capital para detalhar a iniciativa e esclarecer dúvidas da sociedade e do empresariado. Havia a expectativa de oferecimento do trem para Sorocaba aos investidores, em conjunto com as duas linhas, o que não ocorreu.

Especialistas apontam vantagens do sistema

Especialistas apontam que a instalação de um trem entre Sorocaba e São Paulo, além de facilitar o deslocamento, geraria benefícios econômicos, ambientais e de segurança. Conforme João Felipe, uma viagem da cidade à capital demoraria 45 minutos, em uma velocidade a cerca de 100 a 130 quilômetros por hora. “O trem de passageiros para Sorocaba é um meio de transporte importante para o desenvolvimento de diversas pequenas cidades entre São Paulo e Sorocaba e o incremento do transporte rápido de passageiros entre essas duas cidades”, afirmou.

Já Renato Campestrini, advogado especialista em trânsito, mobilidade e segurança viária, cita o desafogamento do trânsito como mais um ponto positivo. “Uma das maiores dificuldades que as pessoas encontram hoje para ir para a capital é o transito congestionado, lento. Com a existência de um trem intercidades, certamente muitas pessoas migrariam dos automóveis, ônibus para os trens”, disse.

“Neste sentido, a menor quantidade de veículos contribuiria para diminuir a poluição, pois haveria menos emissão de gases. Isso influencia diretamente na qualidade do ar que respiramos”, afirmou Campestrini. “Os motoristas também enfrentariam menos transtornos durante o tráfego, em comparação com o deslocamento viário. Além disso, economizariam mais. Seria uma nova opção de realizar o deslocamento sem os inconvenientes conhecidos do uso das rodovias e seus gargalos. Pela possibilidade de transportar mais pessoas, o valor da tarifa pode ser reduzido”, disse o especialista.

O economista e professor universitário Geraldo Almeida acredita que a implementação deste meio de transporte movimentaria a economia local. “Conseguiria atrair mais empresas, melhorar o fluxo de pessoas daqui para São Paulo e de lá para cá, essa questão do deslocamento dos trabalhadores melhoria bastante, e transformaria Sorocaba em polo de atração também”, disse.

Almeida menciona a Estrada de Ferro Sorocaba (EFS) como exemplo do favorecimento das ferrovias à economia. Segundo ele, a instalação da malha na cidade impactou diretamente na geração de receita. Por isso, crê na mesma possibilidade, a partir do investimento de um trem de passageiros. “Seria uma ‘nova estrada de ferro sorocabana, para uma nova economia’”. (Vinicius Camargo)