Polícia Civil prende casal acusado de torturar criança de 8 anos por 6 horas

Caso começou na Vila Barão e terminou em um matagal no bairro Nova Esperança; criança seria autista

Por Marcel Scinocca

Momento em que policiais vasculham matagal em que criança foi deixada

A Polícia Civil de Sorocaba deu detalhes sobre o caso em que uma criança de 8 anos foi torturada no domingo (14), no bairro Vila Barão. A vítima, que seria autista, chegou a ficar pelo menos 6 horas em uma residência, onde passou por parte dos atos criminosos. Uma ripa, um caibro e um alicate foram usados na agressão. Os detalhes foram apresentados em coletiva de imprensa na Delegacia Seccional de Sorocaba nesta quinta-feira (18). Um casal, de 67 e 69 anos, foi preso, acusado do crime.

Conforme a investigação, a criança foi vista pela última vez por volta das 19h45 do domingo (14). O garotinho tentava mexer em câmeras de segurança da casa dos acusados, provavelmente para ajustar o equipamento. Em outra situação, ele aparece observando outro equipamento de segurança, mas do outro lado da rua.

A imagem mostra a criança deixando o imóvel e, na sequência, o homem de 67 anos, indo atrás. Tempo depois, o homem aparece em uma calçada, arrastando a criança. O menino é levado para dentro da residência, que fica na Vila Barão, onde fica por cerca de 6 horas, tendo apanhado, inclusive com uma ripa. O homem, então, dá medicamento, fazendo a criança dormir. Meio comprimido foi usado na ação. Ele ainda colocou o celular para despertar à 1h30.

A criança ainda teve decepada um pedaço da orelha, ferimento feito com alicate. Antes de tudo, a esposa do homem chegou a conversar com a criança. “Ele não vai te matar. Ele vai te dar uma lição”, disse, segundo as palavras da delegada Ana Luiza de Carvalho.

Por volta das 2h, a criança é retirada da casa -- na picape de trabalho do acusado -- e levada para um matagal, onde a sessão de tortura continua, agora com um caibro. A tortura só parou com a chegada no local de uma pessoa em situação de rua. Com a presença do homem, o acusado, que faz fretes, foi trabalhar por volta das 2h30, deixando a criança no local, no bairro Nova Esperança, que fica a cerca de um quilômetro do local da residência do acusado. Para os profissionais da Polícia Civil que atuaram no caso, trata-se de um dos momentos mais chocantes de suas carreiras.

Em vários pontos da residência foram encontrados vestígios de sangue, usando o produto chamado luminol. O material apontou ainda a presença de sangue em várias partes do veículo, incluindo no volante, tapete e assoalho. Também foram encontrados vestígios de sangue no tênis que o acusado usava no dia crime.

Arsenal criminoso

A casa onde o casal vivia era um verdadeiro arsenal do crime. Além de ser o cativeiro da tortura, ainda tinha ao menos 30 botijões de gás, sem qualquer cuidado, colocando toda a vizinhança em risco. Animais também foram encontrados em situação degradante. Não bastasse isso, o local ainda possuía duas máquinas caça-níquel.

Um revolver também foi encontrado no local, assim como 11 projéteis. Ele o possuía desde 2012. O homem não tinha porte e a arma não tinha registro. Ele confessou aos investigadores que pretendia usá-la, caso fosse importunado por pessoas depois que a agressão se tornou pública. Ele também confessou as agressões. A Polícia Ambiental foi acionada em função dos animais, assim como a Prefeitura de Sorocaba, na questão dos botijões.

Conselho Tutelar acompanha o caso

O Conselho Tutelar de Sorocaba já acompanhava a situação da criança, antes de o crime ocorrer no domingo e na segunda-feira. Tanto que a criança não deverá retornar para sua casa, mas deverá ser encaminhada para um abrigo. O irmão mais velho da criança, de 13 anos, também já se encontra em um abrigo.

Outros crimes

O acusado de torturar a criança tem uma extensa lista de acusações de outros crimes. Um deles, se refere a abuso sexual, contra a própria filha. Agressões contra a mulher também aparecem nos registros. Os policiais o definiram com um perfil bastante violento. Contra ele, inclusive, há ao menos oito chamados na Polícia Militar.

Ele e a mulher, que tem 69 anos, estão recolhidos ao sistema prisional por pelo menos 30 dias. De acordo com o delegado Fabrício Ballarini, o homem é acusado de tentativa de homicídio qualificado. Entre os agravantes, uso de tortura e motivo torpe. Ainda pesa o fato de a vítima ser criança, além da possibilidade do transtorno.

O acusado está na cadeia de São Roque, chamada de unidade de trânsito. A mulher está em um centro de detenção provisória de Cesário Lange. Ela é acusada de participação na tentativa de homicídio. No caso dele, somente com relação à tentativa de homicídio e o depósito ilegal de botijões de gás, somados, podem resultar na pena de 3 a 12 de prisão. Vale lembrar que o crime de tortura está classificado como hediondo.

Segundo a Polícia Civil, a criança ainda está bastante machucada, mas segue estável e com possibilidade alta nos próximos dias. O delegado seccional Mauro Guimarães Soares também participou da coletiva de imprensa.

 

Atualizado às 21h27, com a denominação do autismo como transtorno e não como doença, como estava anteriormente.