Crise hídrica
Técnico explica nova redução da vazão de Itupararanga
Segundo o especialista, a medida foi necessária porque a captação de água é baixa

O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê ((CBH-SMT) e coordenador da Câmara Técnica de Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos , André Cordeiro Alves dos Santos, explicou, na sexta-feira (26), que a vazão da represa de Itupararanga foi reduzida pela quinta vez . A nova diminuição foi noticiada pelo Cruzeiro do Sul na edição de quinta-feira (25). “O volume de captação de água ainda é muito baixo”, disse Santos.
A empresa Votorantim Energia, que faz a gestão da represa, diminuiu novamente a vazão do reservatório, na quarta-feira (24). Foi a quinta redução em três meses. Com a medida, o fluxo passou para 2.500 litros por segundo, e o volume útil do manancial caiu para 20,60%. Atualmente, o nível do reservatório está em 817,40 metros sobre o nível do mar, atingindo praticamente o volume morto, que é de 817,45.
Segundo o especialista, a quantidade de água captada pela represa a partir dos rios afluentes é de três metros cúbicos por segundo. Já a saída é de 2,75 metros cúbicos por segundo para o leito do rio Sorocaba e de 1,95 para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) da cidade. Isto é, o total de água distribuída é de 4,7 metros cúbicos por segundo, maior do que o volume de entrada. “Isso faz com que o volume de água diminua muito rápido no reservatório, prejudicando as captações acima da represa. Com a redução para 2,5, atualmente, a saída é de 4,45”, explica ele.
Mesmo com a redução na vazão, o volume do reservatório ainda continuará a cair. “Chegamos no limite histórico de vazão do rio, (de) 2,5 (metros cúbicos por segundo). A vazão mínima do rio é 2,6. (Com) menos (do) que isso, não sabemos os problemas que podem surgir”, alerta Santos.
Conforme o coordenador do Comitê, caso o volume chegue a ficar abaixo de 817,5 metros sobre o nível do mar, Alumínio e vários condomínios de Ibiúna podem sofrer com problemas de abastecimento. A represa é responsável por abastecer 85% de Sorocaba e diversos municípios da Região Metropolitana. “Nosso esforço é (para) que a redução seja compensada pela chuvas neste fim do mês. Mas, se rebaixar mais 30 centímetros, as captações a montante poderão ser inviabilizadas”, avisa.
Sem garantia quanto à manutenção do volume, o Comitê avalia, junto à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), medidas para evitar o desabastecimento, principalmente, em Alumínio. Mais da metade da população da cidade é abastecida por Itupararanga.
Nova redução
A nova redução na vazão da represa foi definida pelo CBH-SMT, Votorantim Energia e concessionários das cidades que utilizam água do rio Sorocaba em uma reunião na segunda-feira (22). De acordo com Santos, no encontro, também foram debatidas outras ações de economia. “Negociamos uma redução na captação da empresa Votorantim Cimentos e o aumento do lançamento da água acumulada em uma das cavas de mineração da empresa, para permitir um acréscimo no volume de água do rio, após a saída da represa. Estamos disputando cada gota”, contou.
Além disso, foi solicitado aos municípios dependentes do manancial a adoção de medidas de restrição dos consumos não essenciais. Alguns exemplos de uso desnecessário citado por André são lavar ruas, calçadas e automóveis, repor água em piscinas, usar água tratada para irrigar jardins e áreas verdes, dentre outros. "Até agora, tirando Mairinque, que aprovou uma lei neste sentido, não obtivemos respostas dos demais municípios”, afirma Santos.
Além da economia por parte da população, o especialista acredita que as prefeituras devem desenvolver medidas mais eficientes. As ações sugeridas por ele podem incluir regulação da quantidade de água disponibilizada para grandes empreendimentos e industrias e limitação do consumo em áreas de alto consumo, como condomínios de alto padrão. Outras sugestões do vice-presidente do Comitê são reduzir as perdas na rede; incentivo ao reúso de água da chuva, inclusive, em prédios públicos; e moratória de aprovação de novos empreendimentos que utilizam água. “Há um imenso campo de medidas a serem exploradas. O importante é ter em mente que o problema não vai acabar este ano. Na verdade, em função das mudanças climáticas, teremos que conviver cada vez mais com estes períodos de estiagem e restrição da disponibilidade de água”, explica.
Conforme o especialista, a seca é causada, sobretudo, pelo fenômeno La Ninã, que deve perdurar até o próximo ano. Ele "normalmente leva à redução de chuvas no Sudeste, e não podemos ignorar a redução da umidade que vem do Norte, em função do desmatamento”, pontuou Santos. A baixa frequência de chuvas também contribui para agravar o cenário. “A tendência mensal de chuva este ano é de 30% da média histórica e, até o momento, não há nenhum indicativo de melhora neste final de ano”, informou ele.