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Crise hídrica

Volume da represa de Itupararanga atinge 28%

É o menor de 2021 e muito próximo do "volume morto". Cidades da RMS já racionam água. Situação preocupa

14 de Agosto de 2021 às 00:01
Ana Claudia Martins [email protected]
Araçoiaba da Serra bombeia água de uma pedreira localizada em Salto de Pirapora.
Araçoiaba da Serra bombeia água de uma pedreira localizada em Salto de Pirapora. (Crédito: ALDO V. SILVA / ARQUIVO (4/2/2014))

Após a Votorantim Energia implantar medidas de redução da vazão da represa de Itupararanga, na última terça-feira (10), por determinação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê, o índice de volume útil do reservatório continua caindo. Ontem (13), segundo a empresa, o índice chegou a 28,18%, menor do que o registrado na semana passada: 29,60% e o menor de 2021.

Já o nível nominal do reservatório, ontem, era de 818,56 msnm (altitude acima do nível do mar). Muito próximo do atingimento do nível mínimo do reservatório, que é de 817,5 msnm, o chamado “volume morto”.

Araçoiaba da Serra, por conta da crise hídrica, já está sendo bombeada água de uma pedreira localizada em Salto de Pirapora, para complementar a vazão do rio Piraporão. A concessionária Águas de Araçoiaba, responsável pelo saneamento básico no município, anunciou na quinta-feira (12) o racionamento periódico de água.

“O município vem trabalhando para minimizar os problemas ocasionados pela crise hídrica com diversas medidas como a construção de uma Estação de Tratamento de Água no bairro do Cercado. As obras envolvem ainda quatro boosters e redes de adução e distribuição, num investimento de cerca de R$ 4,5 milhões”, informa a Prefeitura.

A situação de Sorocaba e demais municípios que captam água de Itupararanga preocupa o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê e o Ministério Público do Estado, que acompanham a situação.

Segundo o vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê e coordenador da Câmara Técnica de Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos, André Cordeiro Alves dos Santos, na segunda-feira (15), às 14h, deverá ocorrer uma avaliação da primeira semana das medidas acatadas pela Votorantim Energia, por conta do baixo nível da represa de Itupararanga, devido a estiagem.

Na última reunião, no dia 6, feita pelo Comitê, foi produzido um documento, com nove páginas, contendo todas as regras necessárias sobre a vazão defluente do reservatório de Itupararanga e o monitoramento de lançamentos de afluentes nos municípios de Sorocaba e Votorantim.

O Comitê informa que as medidas foram implantadas por conta da estiagem que atinge a região, e que os registros de precipitação na bacia hidrográfica do rio Sorocaba em 2021 indicam volume precipitado de 60% abaixo do volume médio histórico da região. Além disso, os dados mostram um cenário preocupante de déficit hídrico que atinge também o reservatório de Itupararanga.

“Assim, foi instituído o grupo de trabalho da crise hídrica com as seguintes competências: acompanhar os dados de vazão afluente, vazão defluente e o volume útil do reservatório de Itupararanga, elaborar o plano de contingência para captação de água do rio Sorocaba, com revisão de volumes em razão da variação da vazão em até 15 dias após o início da redução da vazão defluente do reservatório de Itupararanga, elaborar também um plano de metas para o incentivo de reúso de água nos municípios da bacia do rio Sorocaba, em um prazo de 30 dias após o início da redução da vazão defluente da represa, além de avaliar e acompanhar as medidas definidas nas determinações do Comitê relacionadas à crise hídrica, dentre várias outras medidas.

O promotor de Justiça do Grupo Especial de Proteção ao Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público, Antonio Domingues Farto Neto, acompanha a situação de perto e que já fez diversos encontros com a Votorantim Energia para tratar da questão. “A regulação da vazão de água da represa é muito delicada. Menos água no rio Sorocaba pode provocar desde a mortandade de peixes até uma dificuldade sanitária, visto que algumas cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) ainda jogam esgoto no rio e a lavagem desse esgoto depende da quantidade de água”, alerta.

Rio Sorocaba preocupa

As medidas adotadas na represa de Itupararanga, que diminuem a vazão de água para o rio Sorocaba, também preocupam o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê e o Ministério Público do Estado.

Com a redução da vazão do reservatório de Itupararanga e a estiagem, já é possível perceber vários pontos de assoreamento no rio Sorocaba. Outra preocupação é com a qualidade da água, com a diminuição da vazão da represa para o rio.

Ontem (13), mais pontos de assoreamento foram constatados no leito do rio Sorocaba pelo Cruzeiro do Sul. Questionado a respeito, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba informa que está no aguardo de publicação da deliberação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê para, então, poder comentar sobre o assunto.

“No momento, não há previsão de nenhum tipo de restrição no sistema de abastecimento de Sorocaba, mesmo com a expectativa de chuvas abaixo da média para os próximos meses.

A entrada em operação da ETA Vitória Régia, que faz a captação de água diretamente do rio Sorocaba, trouxe mais segurança hídrica para o processo de captação, tratamento e distribuição, inclusive atendendo outras regiões da cidade. O Saae, porém, reforça que é preciso que a população também faça a sua parte, mesmo Sorocaba tendo um excelente sistema de abastecimento e estrutura para atender a população. A colaboração dos usuários no uso consciente da água é imprescindível, motivo pelo qual a autarquia realiza uma campanha para enfatizar a importância disso”, informa.

Cidades já racionam água

Pelo menos quatro cidades da RMS já estão fazendo rodízio no fornecimento de água para a população: Araçoiaba da Serra, Itu, Salto e Tietê. Além disso, os municípios de Itapetininga, Porto Feliz e Cerquilho adotaram medidas de controle no abastecimento de água.

Cerquilho determinou condições mínimas para realização de racionamentos em situações emergenciais de abastecimento de água, por meio de seu Plano Emergencial de Racionamento. “É importante destacar que o plano de racionamento será executado em função das condições apresentadas no manancial de abastecimento de Cerquilho”, informou o Saae de Cerquilho. (Ana Cláudia Martins)