Volume útil de Itupararanga está baixo e Votorantim altera manejo

O volume esperado para o período era de 64,83% do reservatório, dentro da chamada Média de Longo Termo

Por Marcel Scinocca

A situação ainda não afeta o abastecimento, mas já provocou a Votorantim Energia

A represa de Itupararanga está com volume útil de 32,82% de sua capacidade, bem abaixo do esperado para o período. A situação ainda não afeta o abastecimento, mas já provocou a Votorantim Energia (VE), que faz a gestão do local, para reduzir de quatro para uma a utilização de suas unidades geradoras de energia. A informação foi confirmada pela empresa, ao Cruzeiro do Sul, nesta segunda-feira (19).

O volume esperado para o período era de 64,83% do reservatório, dentro da chamada Média de Longo Termo (MLT). “O nível hoje está abaixo do ideal, do histórico”, diz Jorge Barbosa, gerente de planejamento da Votorantim Energia.

“Esse cenário, de estar abaixo da MLT, já foi observado pela Votorantim, desde dezembro do ano passado”, explica. Ainda, conforme ele, desde outubro do ano passado, com o monitoramento de rotina praticado pela empresa, foi observada a redução no volume. “Começamos a observar esse descolamento de nível da média. Em dezembro, iniciamos a redução da geração”, conta.

“A Usina e Itupararanga possui quatro unidades geradoras. Nós permanecemos com apenas uma unidade geradora ligada. E, defluindo, deixando passar, em volume suficiente para manter a vazão sanitária, a defluente mínima do rio Sorocaba, que é de seis metros cúbicos por segundo. Então, desde 15 de dezembro, estamos operando o mínimo possível da usina para garantir a defluência mínima do rio Sorocaba e mantê-lo vivo”, garante.

Questionado se há impactos para a empresa, Barbosa responde de forma enfática. “Sem dúvida, alguma. Porém, a Votorantim sempre preza pelo uso múltiplo do reservatório. A parte ambiental é muito forte na Votorantim. E, quando se fala em uso múltiplo do reservatório, temos o perfeito entendimento quanto às prioridades no uso da água, a necessidade do abastecimento e da necessidade também do meio ambiente".

Ele continua: "Em consonância com a estratégia principal da empresa, nós fazemos o uso consciente desse recurso. Visando a preservação, a manutenção e recuperação do nível, nós tomamos a decisão de, mesmo com os impactos decorrentes dessa redução de geração, absorvermos esse custo e buscamos outras estratégias de compensação interna, dentro do portifólio de geração da VE e, consequentemente, priorizar a recuperação do nível do reservatório”.

Ou seja, toda a situação, impactou na capacidade de geração de energia da empresa. Mas, operacionalmente, não houve impactos técnicos. A série histórica da represa de Itupararanga começou em 1914.

Pensamento coletivo

Thiago Nogueira, coordenador de sustentabilidade da Votorantim Energia, afirma que a empresa está há 40 dias promovendo agenda proativa. “Além dos meios de comunicação, temos mantido agenda com o Saae -- Serviço Autonômo de Água e Esgoto --, com o Daae -- Departamento de Águas e Energia Elétrica --, com a Cetesb -- Companhia Ambiental do Estado de São Paulo -- e com o comitê de bacia, no sentido de envolver todos os stakeholders -- partes interessadas --, usuários desse recurso hídrico e pensar coletivamente num plano de atuação”, afirma.

“Precisa haver um alinhamento da situação, principalmente o envolvimento dos órgãos reguladores, que determinam, por exemplo, os níveis de vazão, quantidade de água de efluentes, para que haja um alinhamento do discurso e não tenha uma sobreposição de interesses num cenário de coletividade”, explica.

Ele lembrou ainda que são feitas campanhas trimestrais para avaliar a qualidade da água do local. Atualmente, são cinco pontos amostrais. O primeiro ponto é no chamado remanso -- antes da barragem. O segundo é perto da barragem. Há ainda dois pontos de vazão reduzida, onde ocorre a captação do Saae. O quinto ponto é onde ocorre a restituição da água, na casa de força. O índice de Qualidade da Água (IQA), nesses pontos, é considerado satisfatório. “A gente tem tido resultados favoráveis”, conta. A empresa ressalta que não tem interferência na qualidade da água. (Marcel Scinocca)