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Educação

Os desafios das aulas a distância

Especialistas em educação alertam para as desigualdades e a importância do ensino presencial

25 de Abril de 2021 às 00:01
Kally Momesso [email protected]
Suspensão das aulas presenciais prejudica a interação entre alunos e professores.
Suspensão das aulas presenciais prejudica a interação entre alunos e professores. (Crédito: Divulgação)

O futuro das crianças deve ser afetado com a ausência ou intermitência das aulas presenciais nas escolas. A pedagoga Luciane Durigan considera que a tecnologia se tornou uma aliada para dar continuidade ao ano letivo, entretanto a desigualdade deixa muitos alunos, que não têm acesso à internet, distantes dos conteúdos educacionais, o que prejudica o aprendizado.

De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, a retomada das aulas em 2021 teve início no dia 8 de fevereiro, no formato de Ensino a Distância (EaD), por meio das atividades não presenciais. Dessa maneira, as escolas utilizam ferramentas digitais, como redes sociais, plataformas ou entregam atividades impressas, além de contar com uso de livro didático. O retorno presencial estava previsto para o dia 29 de março, porém, com a situação pandêmica, o recesso escolar foi adiantado para abril.

Luciane Durigan. - FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (28/7/2020)
Crédito: FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (28/7/2020) / Descrição: Luciane Durigan.

Conforme Luciane, a nova realidade de ensino remoto durante a pandemia gerou diversos impactos tanto para os estudantes quanto para as famílias, afetando principalmente a educação básica. “As suspensões das aulas presenciais aumentaram as lacunas na educação já existentes, que poderão levar muitos estudantes a desistir da educação básica, aumentando ainda mais a evasão escolar”, explica ela.

A colocação da pedagoga se confirma em um estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 14. Os números referentes a 2019 apontam que estudantes de escolas particulares têm mais acesso à internet que aqueles da rede pública. Segundo os dados da Pnad, 98,4% dos estudantes da rede privada tiveram acesso à rede. Entre os estudantes da rede pública, este porcentual foi de 83,7%.

“Além de todo problema relacionado ao nível de aprendizagem, que foi e será afetado pelas aulas no formato remoto devido à falta de estrutura, há fatores de difícil mensuração como problemas emocionais, isolamento social, crise de ansiedade, desemprego e os entes queridos podem adoecer e falecer”, diz a pedagoga.

O problema, de acordo com ela, sai dos muros da escola e atinge o País como um todo. “O problema está apenas começando. A recuperação da defasagem dos alunos não será um processo simples e nem fácil. Teremos que ter o engajamento de todos, escola e família, e contar com serviços sociais e de saúde mental para lidar com todos o estresse desenvolvido durante a pandemia”, afirma Luciane.

Barreiras

Para a psicopedagoga Francine Menna, a aprendizagem prevista em cada etapa da educação básica é fundamental, mas se tornou um desafio. “Professores, familiares, responsáveis e estudantes, da noite para o dia tiveram que se adaptar a uma nova realidade, com rupturas e barreiras jamais vivenciadas na educação. Professores que estavam próximos a seus alunos agora estão distantes, do outro lado da tela ou representado por atividades”, relata.

Francine Menna. - MANUEL GARCIA / ARQUIVO JCS (26/12/2018)
Crédito: MANUEL GARCIA / ARQUIVO JCS (26/12/2018) / Descrição: Francine Menna.

Francine observa que professores e alunos não foram preparados para vivenciar esta modalidade educacional. “Uma grande parcela dos estudantes não possui acesso à internet, não tem computador, não possui WhatsApp nem mesmo celular. Se não tem nem esse meio de comunicação, como sanar as dúvidas com o professor neste momento de aulas não presenciais?”, reflete a psicopedagoga.

De acordo com ela, a desigualdade social se acentua a cada dia. “O déficit não é apenas das tecnologias digitais, mas também das antigas, e principalmente da dignidade humana. Há que se efetivar políticas públicas não só de reparação, mas de atuação permanente, que oportunize, oferte, inclua todos nossos estudantes.”

A estilista Mei Miyamoto -- mãe do Yuri Melcop, de 1 ano e 10 meses -- contou sobre as dificuldades do ensino EaD para as crianças e para a família. “Para ensinar um bebê de 1 ano, precisa estar do lado. Se eu não trabalhasse, talvez fosse mais fácil. Mas como já demando um tempo da minha vida, não estou 100% para atender meu filho como eu gostaria”, relata.

Mei explica que, apesar do filho ter acesso aos conteúdos de Ensino a Distância, o desenvolvimento dele foi afetado pela falta do convívio presencial. “Eu não percebia uma mudança muito grande no desenvolvimento dele dentro de casa. Quando ele foi para creche, em um mês eu já vi muita diferença. Na aula presencial, ele desenvolve muito mais”, diz a estilista.

Sobre a retomada das aulas presenciais e a falta de acesso à internet de alunos da rede pública de ensino, a Prefeitura de Sorocaba informou que criou um Comitê Intersetorial para discutir o assunto. Além disso, no caso das escolas que enviam atividades por meios digitais, as mesmas atividades são disponibilizadas de forma impressa aos alunos que não têm acesso ao conteúdo digital.

A administração municipal também reconheceu que o contato presencial na escola fortalece o vínculo entre o professor e o aluno, possibilita a aprendizagem por meio das interações que ocorrem no ambiente escolar, e favorece a intervenção do professor no momento da realização das atividades. Outro fator importante que a pandemia atinge é a socialização dos estudantes, reconheceu a Prefeitura de Sorocaba.

“Diversos estudos estão sendo realizados nesse sentido e todos apontam que apenas o tempo e as avaliações que serão realizadas no retorno das atividades presenciais poderão trazer essas respostas”, e continuou “as atividades não presenciais, além de seus objetivos de ensino, também mantém o vínculo dos alunos com a escola e isso é extremamente importante para que o retorno presencial possa ocorrer da melhor forma para as crianças”, informou a Prefeitura de Sorocaba. (Kally Momesso - programa de estágio / Supervisão: Marcelo Roma)

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