Mulheres de diferentes idades, cor, grau de instrução e classe social unidas por um problema em comum, a violência doméstica. Na tarde desta quinta-feira (29) a Vara do Juizado Especial Criminal (Jecrim) e da Violência Doméstica e Familiar contra Mulher de Sorocaba realizou palestra para falar sobre a rede de apoio existente na cidade. Foram convidadas 90 mulheres que possuem medida protetiva contra seus agressores e entre os palestrantes, vítimas de violência que superaram o medo e deixaram para trás relacionamentos abusivos.
Segundo o juiz Hugo Leandro Maranzano, responsável pela Vara, apenas no primeiro semestre deste ano 516 inquéritos foram baseados na Lei Maria da Penha e a média mensal de concessão de medidas protetivas é de 40. “Diariamente temos casas de violência doméstica e a medida protetiva é uma ação emergencial, mas para que a mulher consiga de fato se fortalecer para recuperar a sua independência, é necessário buscar a rede de apoio”, afirma o magistrado.
Também participaram do evento integrantes do Centro de Referência da Mulher (Cerem), Centro Especializado de Reabilitação do Autor em Violência Doméstica (Cerav), Coordenadoria da Mulher e do Centro de Integração da Mulher (CIM-Mulher), responsável pela gestão da Casa Abrigo Valquíria Rocha, membros da Polícia Militar, que realiza a Patrulha da Paz, e também da Guarda Civil Municipal, responsável pelo gerenciamento do Botão do Pânico. O evento é anual, destaca Maranzano, e objetiva o cumprimento de uma orientação do Supremo Tribunal Federal (STF) para que exista uma agenda focada na conscientização contra a violência doméstica.
Elas relatam o sofrimento e a superação
“Fiz o pedido de separação após dez anos de abusos e humilhações, mas ainda me sinto ameaçada e temo pelos meus filhos”, desabafou Carolina*, 36, que tem um menino e uma menina de 7 e 10 anos. Ela foi uma das mulheres que falou para a plateia do evento promovido pela Vara do Juizado Especial Criminal (Jecrim) e da Violência Doméstica e Familiar contra Mulher de Sorocaba e após três anos do divórcio, Carolina segue com a medida protetiva ativa, já que o ex-companheiro ainda faz ameaças.
O relacionamento começou quando ela tinha 22 anos e após o casamento, relembra que o então marido começou a demonstrar um ciúme extremo. Além de se tornar financeiramente dependente do ex-companheiro, cita que várias vezes sofreu abusos sexuais e foi agredida. A gota d’água para que decidisse se separar foi por temer que a violência se estendesse aos filhos e mesmo depois de deixar de viver sob o mesmo teto, o medo não cessou. Carolina conta que hoje conseguiu retomar sua carreira e acredita que a medida protetiva é determinante para sua sobrevivência. “Eu sei que ele seria capaz de me matar. Só não faz isso por medo de ser preso”, desabafa.
Rosana, 46, também compartilhou sua história e contou que após um casamento estável de 24 anos, que lhe rendeu dois filhos e acabou por desgaste, se viu envolvida, aos 40 anos, com um homem mais jovem. “Foi uma relação muito acelerada. Em um ano eu estava grávida e casada.” Durante a gestação, que era de risco por conta da idade, ela conta que começou a perceber comportamentos dominadores do ex-marido. Assim que deu à luz, Rosana recorda que as ameaças ficaram mais evidentes e que o ex-companheiro chegou a ameaçá-la com arma de fogo e até chegou a planejar seu assassinato. “Fui vítima de todos os tipos de violência, desde a emocional, financeira e física, mas eu quero que as mulheres saibam que é possível sair dessa situação e recomeçar”, finaliza.
*Os nomes das mulheres entrevistadas foram preservados por conta dos filhos