Buscar no Cruzeiro

Buscar

Moradores convivem com rotina de roubos e furtos no jardim Santa Marta

20 de Abril de 2019 às 09:15

As casas da região estão se transformando em fortalezas, com grades e câmeras - Foto: Fábio Rogério (22/03/2019)

Após ter a casa invadida por ladrões, em 13 de janeiro passado, o casal Bruno Augusto de Lima, 32 anos, e Débora Cristina Farias de Oliveira Lima, 30 anos, instalou uma câmera na casa onde mora, no Jardim Santa Marta, bairro vizinho do Parque São Bento e do Jardim Carandá, zona norte de Sorocaba. Agora, vão instalar mais três, para ampliar o alcance da vigilância na casa. O portão de grade não foi suficiente para conter os ladrões, que estouraram o cadeado.

O problema é que este não foi um caso isolado. Uma rotina de furtos e roubos de casas e de veículos nos últimos dois anos, no Jardim Santa Marta, foi relatada por um grupo de cerca de 15 moradores que convocaram a reportagem para pedir socorro. Alguns reclamam de falta de policiamento, outros dizem que os patrulhamentos, embora sejam feitos, não são suficientes para inibir a ação dos ladrões. E, ao menos parte das vítimas, diz que registrou as ocorrências na polícia.

Casa como fortaleza

“Aqui, para um morador viver em segurança e em paz dentro de sua própria casa, ele tem que fazer dela uma fortaleza, uma cadeia, para ladrão não entrar”, diz o técnico Alexandre Henrique Bueno, 30 anos, que teve a moto furtada em fevereiro em frente à casa onde mora. Dias depois, outra moto foi furtada numa casa no lado oposto da rua. As duas motos foram recuperadas em locais diferentes do bairro. Alexandre acredita que a sua foi abandonada porque os ladrões não conseguiram ligá-la.

[irp posts="109647" ]

 

Da casa de Bruno e Débora, os bandidos levaram uma tevê, um notebook e uma bolsa. Débora teve sorte - seus documentos estavam em outra bolsa. O dia do furto foi um domingo. O casal saiu às 13h e, quando retornou, às 17h, encontrou o cadeado estourado. Ficaram com medo que os ladrões voltassem para pegar mais coisas. “Foram muitos dias com medo, eu fiquei uma semana sem dormir à noite”, descreve Débora. Com a instalação da câmera e seu monitoramento via celular, tiveram despesa de R$ 500,00.

A comerciária Regina Cláudia de Almeida Rodrigues, 40 anos, conta que dia 21 de março completou um ano que entrou na residência e surpreendeu dois ladrões: “Não fizeram nada comigo, mas levaram o que puderam da minha casa.” Levaram televisão, tablet, dinheiro, celular. “Eram dois moleques armados de revólveres, me renderam, disseram que não queriam fazer nada comigo, só queriam levar as coisas”, recorda Regina.

Nem no Dia das Mães

Moradores são obrigados a investir em equipamentos de segurança - Foto: Fábio Rogério (22/03/2019)

Há dois anos, os ladrões invadiram a casa de Ivonete Maria de Oliveira, 66 anos, no Dia das Mães, quando ela foi a São Paulo visitar as filhas para comemorar a data. “A vizinha ligou falando que a casa estava toda aberta, as lâmpadas ligadas, e levaram tudo” - roupas, DVD, televisão, calçados, joias. “Morei 40 anos em São Paulo, ninguém nunca me roubou lá, cheguei aqui achando que o lugar era tranquilo, e não é”, ela lamenta. “Ladrão tem demais, a gente está presa dentro de casa.”

O medo interfere no comportamento dos moradores. Muitos evitam deixar a casa sozinha com medo de entrar na relação das vítimas. Ivonete, por exemplo, ficou sem sair de casa para passear por dois anos e, no primeiro dia em que viajou a São Paulo, naquele Dia das Mães, teve a casa invadida pelos bandidos.

Os moradores compartilham informações em dois grupos de WhatsApp, sendo um de alerta e um de vizinhança solidária. Quando pode, o operador de empilhadeira Edson Fróes, 41 anos, circula de carro pelo bairro, atento aos movimentos suspeitos. Foi assim que presenciou o roubo a um motorista de Uber, que estava deixando uma passageira. Levaram o carro e o motorista ficou a pé. Com medo, a passageira se mudou do bairro.

Bandidos se adiantaram

Entre tantas vítimas, o pedreiro Lucas Souza, 38 anos, comemora: “Graças a Deus eu moro aqui há quatro anos e ninguém mexeu lá em casa.” Porém, conta que no ano passado dois vizinhos tiveram suas casas furtadas. Numa delas, a família mobiliou a casa e programou a mudança para uma sexta-feira. Um dia antes, na quinta-feira, os ladrões entraram e levaram parte dos objetos e móveis. “É só Jesus lá em cima”, disse Lucas, referindo-se ao apelo de proteção.

[irp posts="109675" ]

 

A assistente de departamento de pessoal Adriana Alves, 40 anos, também disse que nunca foi vítima de ladrões, mas se solidariza com as vítimas e reclama porque quer que o bairro onde mora seja “bom”. O bairro tem todas as ruas asfaltadas e muitas casas novas, que estão sendo oferecidas à venda. Os moradores gostam do local e querem solução para a rotina de medo e falta de sossego.

Prefeitura responde, mas não resolve problemas

Além das questão da segurança, o Jardim Santa Marta tem um bar, um mercado, uma padaria e um mini-hortifruti, e mais nada em termos de serviços ou melhorias. Nem o serviço dos Correios passa no bairro, e as ligações via celular são precárias. Os moradores dizem que a linha de ônibus do Caguaçu não atende à demanda de transporte, e gostariam que a linha do Parque São Bento também servisse o bairro. As ruas do lugar receberam nomes de famílias tradicionais da cidade: Família Guarda, Verlangieri, Matielli, Betti, Moron, etc.

O bairro não tem nenhuma escola ou creche e isso traz preocupação aos pais. O casal Tiago de Oliveira Suniga Prestes e Juliana Andréia Suniga Prestes tem um filho de sete anos que estuda no Jardim Botucatu e a filha, de três anos, deixou de ir à creche desde setembro do ano passado, quando a família se mudou e a distância inviabilizou a permanência da criança na do Jardim Vergueiro, área próxima ao centro da cidade. “Ela não frequenta a creche por causa da distância”, diz Juliana.

Prefeitura informa

Em nota, a Prefeitura de Sorocaba, por meio da Urbes - Trânsito e Transportes, informa que o bairro Santa Marta é atendido pela linha 69-Caguaçu em todas as viagens da linha. Não há registros de lotação nessa linha que, contudo, “será imediatamente monitorada”. Com relação à linha 62 São Bento, não será possível alterar seu itinerário, em função do tempo de percurso da linha.

Secretaria afirma que há policiamento no bairro - Foto: Fábio Rogério (22/03/2019)

A Secretaria de Educação (Sedu) também informa que, devido à demanda do bairro, os estudantes são atendidos em unidades próximas já existentes. Neste momento a Sedu não tem um plano de obras para o local. A pasta faz um mapeamento para avaliar a necessidade da criação de unidades escolares nos bairros da cidade anualmente conforme a demanda.

Segundo a Secretaria da Saúde, o Jardim Santa Marta está inserido no território de abrangência da Unidade Básica de Saúde (UBS) São Bento. Esta unidade faz parte da Estratégia Saúde da Família (ESF) e tem recursos suficientes para atender os moradores dessa área, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde. A UBS conta com nove médicos, duas equipes de Estratégia Saúde da Família e oferece os serviços de acolhimento, acompanhamento da gestante e do bebê (pré-natal e puericultura), consulta odontológica, curativo, entre outros atendimentos. Para os atendimentos de urgência e emergência, esses moradores possuem três unidades próximas: UPH Zona Norte, PA São Guilherme e PA Laranjeiras.

Secretaria da Segurança diz que há policiamento no bairro

A reportagem, feita em 22 de março, recebeu da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por meio de sua assessoria de comunicação, a informação de que a Polícia Civil de Sorocaba não localizou ocorrências citadas pela reportagem, mas fará diligências por meio do 8º DP do município: “As Polícias Civil e Militar realizam operações constantes para coibir a criminalidade. Como resultado, houve queda de 35,59% nos roubos em geral e 14,13% nos furtos. Em janeiro deste ano, 26 pessoas foram presas na região e 10 armas de fogo apreendidas.”

De acordo com a Secretaria, o policiamento no bairro é feito por meio do 7º BPM/I: “A Polícia Militar desenvolve atividades de polícia ostensiva e preventiva, tendo por base a análise dos índices criminais, que embasam o emprego do efetivo de modo estratégico em cada região por meio dos Programas de Policiamento de Rádio Patrulhamento, de Força Tática, de Ronda Escolar, ROCAM (Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas) e Policiamento Comunitário.”

Galeria

Confira a galeria de fotos