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Júri popular condena a 16 anos rapaz que matou ex-namorada a facadas

04 de Março de 2021 às 23:50
Vinicius Camargo [email protected]

Júri popular condena a 16 anos rapaz que matou ex-namorada a facadas Geovanna Crislaine Soares da Silva, de 17 anos, foi morta em 2018. Crédito da foto: Arquivo pessoal

Após 5h30 de julgamento nesta quinta-feira (4), no Fórum de Sorocaba, Jackson Silva dos Santos foi condenado, em júri popular, a 16 anos de prisão por matar a facadas a ex-namorada Geovanna Crislaine Soares da Silva, então com 17 anos. O crime aconteceu na noite do dia 27 de outubro de 2018, em Votorantim.

O julgamento começou às 13h desta quinta-feira (4) e terminou por volta das 18h30. O júri já deveria ter ocorrido anteriormente em duas ocasiões, em 19 de março de 2020 e 10 de setembro do mesmo ano, mas foi suspenso por causa da pandemia de Covid-19.

Jackson aguardava o julgamento em uma cadeia da região desde dezembro de 2018, quando foi preso.

Crime gera polêmica

À época, o crime gerou polêmica. Segundo a Polícia Civil, Santos matou a adolescente na noite do dia 27 de outubro de 2018. Na manhã seguinte, confessou o crime, na Delegacia de Votorantim.

Porém, na ocasião, não foi imediatamente preso e aguardou, por um tempo, o andamento das investigações em liberdade. O assassino não foi para a prisão porque, no período do fato, ocorriam as eleições presidenciais.

Conforme legislação eleitoral, ninguém pode ser preso, sem que seja em flagrante delito, cinco dias antes e até 48 horas depois do encerramento do pleito. Revoltados com a situação, amigos e familiares da vítima chegaram a organizar um protesto.

O mandado de prisão preventiva contra ele só foi expedido mais de um mês depois, no dia 30 de novembro de 2018. Jackson foi capturado após dez dias, em 10 de dezembro.

O caso

O assassinato de Geovanna ocorreu na noite do dia 27 de outubro, um sábado. Um segurança, que trabalhava em uma chácara nas proximidades do local do crime, encontrou o corpo da adolescente com 12 facadas na rua Antônio Paes, no bairro Caputera, em Sorocaba. Ele acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e a equipe constatou o óbito.

Conforme o boletim de ocorrência, a vítima estava de barriga para cima e tinha ferimentos no abdômen, peito e pescoço. Próximo da região, foi achado um veículo Volkswagen Gol, com as portas abertas. Dentro do carro, a Polícia Militar encontrou documentos da vítima e de Jackson.

Ele se apresentou à polícia na manhã do dia seguinte (domingo, 28), sem advogado, e confessou o crime. Na ocasião, o delegado Acácio Aparecido Leite, então titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), disse que Jackson alegou ter matado a ex-namorada por desconfiar dela.

No depoimento, relatou ter namorado Geovanna durante três anos. Dois meses antes do crime, ela teria terminado o relacionamento. Mesmo após o término, o assassino acreditava que era enganado pela jovem. O réu teria matado a adolescente após ela se negar a lhe entregar o celular. Para atrair a vítima, o rapaz a buscou no trabalho, sob o pretexto de querer conversar com ela.

Expectativa

A mãe de Geovanna, a vendedora Cristina Aparecida Soares Barbosa, 36 anos, outros familiares e amigos da jovem aguardavam o resultado do julgamento em frente ao fórum. Eles não puderam entrar, para evitar aglomeração.

Ela estava confiante de que Jackson seria condenado. “Trará ao menos um pouco de alívio para toda a família e amigos”. A mãe conta, inclusive, ter prometido à filha que não mediria esforços para conseguir a prisão do autor do crime. “Para mim, é um dever cumprido, pois eu prometi para minha filha, debruçada sobre o caixão dela, que ela poderia descansar em paz, pois eu iria fazer Justiça por ela”, relata.

Ainda conforme Cristina, o tempo de espera de mais de dois anos pelo julgamento do réu, bem como as anulações do júri, só aumentaram sua angústia. “Cada dia que se passava, cada data que era marcada e, depois, desmarcada, era uma tortura”, desabafa.

Ciúmes

Segundo Cristina, no relacionamento, Jackson era ciumento, possessivo e controlador e tentava impedir a filha de fazer diversas coisas, inclusive, de se aproximar de outras pessoas. “Era um ciúmes muito doentio. Ele a afastava de todos. Era uma relação de posse”, lembra. Cinco dias antes do crime, o rapaz já teria tentado agredir Geovanna. A família soube dessa tentativa por meio de conversas entre os dois no WhatsApp. Os diálogos foram revelados após perícia no celular dela.

Geovanna completaria 20 anos no dia 18 de fevereiro. Na data, a saudade da filha, tão constante na vida de Cristina, tornou-se ainda maior. Nesta quinta-feira (4), por conta do julgamento, o sentimento também estava mais intenso. “Hoje (quinta, dia 4), passa um filme de terror pela minha cabeça, porque lembrar de tudo é muito angustiante”, diz.

Cristina tenta superar a morte da adolescente, descrita por ela como uma menina estudiosa, trabalhadora e bonita. Mas, esse desafio tem sido árduo e doloroso. Ela precisou, inclusive, realizar acompanhamento psicológico e tomar medicamentos controlados, para lidar com o trauma. “Tem dias em que parece que não vou aguentar. (Às vezes), não consigo comer dormir, nem comer direito, mas Deus me dá forças”, comenta. (Vinicius Camargo)

Reportagem atualizada às 23h50 desta quinta-feira (4)