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Faculdade de Medicina carece de doação de corpos para estudos em Sorocaba

19 de Março de 2019 às 07:41

Faculdade de Medicina carece de doação de corpos para estudos Faculdade de Medicina de Sorocaba - Foto: Emídio Marques

O encaminhamento de corpos para estudos de medicina diminuiu bastante em Sorocaba nas últimas décadas. Em contraste com as décadas de 1960 e 1970, quando havia a destinação de 40 a 50 corpos por ano para estudos em cursos de medicina na cidade, agora esse volume é de apenas 4 ou 5 ao ano.

Isso é motivo de preocupação, segundo o médico José Francisco Moron Morad, professor-coordenador da disciplina de Anatomia da Faculdade de Medicina da PUC São Paulo, porque “a formação de profissionais na área médica depende fundamentalmente desses corpos”. Ele também é presidente da Unimed Sorocaba.

Segundo Moron, em meio à escassez de corpos para o ensino da medicina, atualmente são muito utilizados moldes plásticos com formatos de corpos, mas essa técnica não oferece a mesma dimensão de manuseio com peças anatômicas: “Dissecar ou manipular uma peça é uma prática que se faz necessário na formação destes profissionais da saúde.”

O médico acrescenta que “estudos demonstram de maneira muito sólida que a utilização de peças anatômicas sintéticas trazem uma formação deficiente”. Na sua análise, até mesmo partes de um corpo -- um membro amputado, por exemplo -- podem ser usadas, desde que devidamente preparadas para estudo e pesquisa cientifica.

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Moron orienta que quem quiser fazer doação de seu corpo, orienta o médico, tem que manifestar essa decisão em vida com registro em cartório. E fica por conta da família quando do falecimento respeitar essa decisão, embora algumas vezes ela não seja cumprida.

Como era

Nas décadas de 1960 e 1970 havia um aporte grande de corpos de indigentes que eram encontrados sem vida e acabavam sendo encaminhados para estudos. Entre esses casos eram encontradas também pessoas menos favorecidas que faleciam em hospitais públicos e não eram procuradas pelos familiares. Além disso, era uma época em que a legislação não era tão rigorosa quanto à utilização e manipulação destes corpos.

Naqueles períodos, não faltavam corpos para estudos na Faculdade de Medicina e as cubas com formol para abrigá-los com frequência necessitavam de ampliação. Com a legislação mais rigorosa e com o auxílio do poder público, que passou a pagar por sepultamentos de pessoas muito pobres, a prática dessa forma de utilização de corpos diminuiu muito.

“A questão que fica é se pessoas que nunca em vida tiveram relacionamento familiar, vivendo à margem da sociedade, deixadas de lado a seu próprio destino sem um lar ou um familiar, quando de seu falecimento têm seus corpos reclamados para sepultamento por questões sociais, sendo que poderiam ter um destino nobre servindo de estudo para diversas gerações”, analisa Moron. Segundo ele, um corpo devidamente preparado pode servir para estudos por mais de vinte anos, e sempre terá um sepultamento quando não puder mais ser utilizado.