Equidade: Projetos no campo da computação derrubam estereótipo

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Rails Girls é destinado a mulheres de todas as idades. Livre de estereótipos, um dos objetivos é oferecer uma experiência em desenvolvimento de softwares. Crédito da foto: Pixabay

Rails Girls é destinado a mulheres de todas as idades. Livre de estereótipos, um dos objetivos é oferecer uma experiência em desenvolvimento de softwares. Crédito da foto: Pixabay

Qual é a primeira imagem que lhe vem à cabeça quando você pensa em programadores? Se você imaginou um típico homem nerd, de óculos fundos, digitando rapidamente num teclado alfanumérico, ou um magnata do Vale do Silício, é porque diariamente são essas as referências estereotipadas reforçadas pelas mídias. Mas a analista de sistemas Jullia Saad, 23, atualmente mestranda em Ciências da Computação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é mulher, tem cabelos curtos tingidos de azul e já ganhou campeonatos como patinadora.

Talvez ela não seja o ideal de programadora que viria à sua cabeça num primeiro momento. E é exatamente por isso que Jullia, junto a outras mulheres que trabalham com computação, decidiram criar o Rails Girls Sorocaba, um evento anual de dois dias, sem fins lucrativos, inspirado nos eventos desse mesmo projeto que acontece no mundo inteiro.

O Rails Girls é destinado a mulheres de todas as idades, com o objetivo de oferecer uma experiência em desenvolvimento de softwares, inspirar a criatividade e desenvolver a autonomia. Além de Jullia, o projeto conta com mais seis organizadoras e a última edição do evento, realizada em julho deste ano, teve em torno de 30 participantes e 10 mentoras, número que cresceu desde a primeira edição do Rails Girls, em 2017.

“Aqui em Sorocaba, a ideia surgiu com as organizadoras Amanda Vilela e Ana Gabriel, que, no final de 2016, participaram de um Hackathon na IBM e voltaram super inspiradas, com vontade de conduzir algum projeto na região para mulheres, já que aqui nunca tinha acontecido um evento de tecnologia totalmente voltado para o público feminino”, conta Jullia. Ela também relata que, na maioria dos eventos de computação que acontecem por aqui, o público é predominantemente masculino, já que existe uma lacuna de gênero na área, e que isso pode ser um intimidador para muitas mulheres que querem iniciar na computação.

Uma pesquisa mundial conduzida este ano pelo site americano de pesquisas sobre desenvolvimento de softwares, Stack Overflow’s, mostra que aproximadamente 8% dos profissionais que compõem a área da computação no mundo são mulheres. Dessas 1,2% são mulheres trans.

Os Estados Unidos ocupam a primeira posição no ranking de países com mais mulheres na computação, com 11,7%. Já o Brasil está na 13ª posição, com 5,2% em relação ao total de profissionais da área no país. A pesquisa também aponta que, em todos os lugares do mundo, os cargos mais altos são ocupados por homens. Além disso, a pesquisa também mostra que as mulheres têm mais probabilidade de deixar seus empregos na área.

A mestra em ciências da computação Maria Angelica Calixto, que leciona no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Faculdade de Tecnologia de Sorocaba (Fatec) e trabalha há 38 anos na área, conta que, quando começou na computação, havia muitas mulheres trabalhando nesse meio, principalmente como programadoras da linguagem Cobol, que é uma linguagem para fins comerciais. Entretanto, por algum motivo, as mulheres foram levadas a crer que esse não era um lugar para elas. “Eu vi uma diminuição das mulheres envolvidas na programação, mas ultimamente noto que elas estão redescobrindo a Tecnologia da Informação, e que há um esforço muito grande de comunidades femininas da área, assim como de diversas empresas em fazer essa inclusão acontecer. Além disso, noto que há um interesse crescente entre as mulheres. Mas ainda não é o ideal.”

A professora também afirma que não há um fator específico para a evasão das mulheres nos cursos relacionados à computação. “Um fator alarmante é a falta de outras mulheres em sala de aula. Quando há mais mulheres, veteranas principalmente, as novas alunas tem em quem se inspirar. Portanto, é muito importante que o público feminino se ajude, para que haja um apoio de ex-alunas que já estão no mercado de trabalho, dando motivação para as iniciantes”, diz a professora.

Segundo a aluna de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Sthéffane Rodrigues, 21, que participou da edição de 2018 do Rails Girls, em sua sala de 40 pessoas na faculdade, apenas 10 eram mulheres, mas ao longo do curso o número caiu para três. A jovem conta que nunca sofreu qualquer tipo de preconceito em sua turma, contudo admite que o ambiente para uma mulher pode ser bem desconfortável, desde o início da formação. Apesar de tudo, a estudante está motivada a seguir a carreira que escolheu e conta como a sua experiência no evento foi um divisor de águas. “Gostaria de crescer na área, me tornar uma UX designer e ajudar no movimento de inclusão das mulheres no campo de tecnologia, para que um dia essa não seja mais uma questão em aberto”.

Dica de filme para quem quer saber mais

No cinema, o filme “Estrelas Além do Tempo”, baseado em fatos reais e dirigido por Theodore Melfi, ilustra a dificuldade das mulheres nesse meio desde meados do século XX. O longa-metragem é uma adaptação da história de Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, três cientistas negras que trabalharam na NASA durante a década de 1960.

A trama aborda a dedicação do grupo formado por mulheres negras no empenho à programação, o sonho de um cargo reconhecido e a importância da atuação feminina nos bastidores da missão espacial que levou os Estados Unidos a sair à frente da União Soviética na corrida espacial. Tudo isso em um contexto histórico da Guerra Fria, durante a luta pelo fim da segregação racial nos EUA e o início do movimento feminista. (Monique Nunes - Agência Focs / Jornalismo Uniso)

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