Encontro debate práticas de comunicação não-violenta em Sorocaba

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O encontro reuniu 23 participantes, que debateram sobre formas de lidar com os conflitos nas relações humanas - Foto: Erick Pinheiro

O encontro reuniu 23 participantes, que debateram sobre formas de lidar com os conflitos nas relações humanas - Foto: Erick Pinheiro

Um lugar diferente -- espaço de chão batido debaixo de mangueiras -- foi o local escolhido para uma roda de conversa sobre comunicação não-violenta, realizada ontem à tarde no filão com vegetação de mata atlântica e cerrado no Parque Três Meninos, em Sorocaba. A iniciativa foi da Floresta Cultural, entidade sem fins lucrativos, e o encontro atraiu 23 pessoas que formaram um círculo e, acomodadas em forrações, dispuseram-se a conversar sobre as formas de lidar com os conflitos nas relações humanas.

A professora do ensino médio Andréia Franco, de 34 anos, formada em sociologia, convidada pela Floresta Cultural para orientar a conversa, deparou na abertura do evento com a questão de uma estudante, que disse: “Violência pode estar em discursos sutis, não só no grito.” Andréia disse que a proposta da conversa é justamente treinar a capacidade de ser compassivo -- referência à compaixão natural -- para o indivíduo ter condições de lidar com os conflitos de forma a que possa cuidar de si e dos outros na família, no trabalho, na escola, no trânsito, entre outros tipos e locais de relacionamentos.

Ser compassivo

A discussão recebe influência dos valores discutidos pelo líder indiano Mahatma Gandhi, que também inspirou o psicólogo americano Marshall Rosenberg, autor do livro “Comunicação não-violenta”. Marsall trabalha a ideia da não-violência para com isso gerar componentes que possam desenvolver a capacidade de ser compassivo -- o que é um desafio se for considerado que o mundo é um cenário dominado pela violência.

Na vida prática, segundo Andréia, às vezes uma mãe pode se comunicar com o filho sobre uma situação doméstica com o uso de uma palavra que não é a mais adequada. Isso pode acontecer numa relação de motoristas no trânsito, de colegas de trabalho e se repetir inclusive nas relações afetivas. O desafio é saber usar uma linguagem para se comunicar que contenha a proposta da não-violência, nem mesmo na forma sutil como a citada pela estudante.

Enxergar o outro

Andréia falou sobre a escolha de uma mata como palco de debates sobre esse tema e mostrou que isso tem tudo a ver: “É muito mais fácil a gente se conectar em nós mesmos quando está em contato com a natureza, e é a partir daí que a gente consegue ver o outro.” O acesso ao local é feito em menos de dez minutos por uma trilha que é uma atração à parte, com vários cenários, incluindo pequenas pontes de madeira e transposição de arbustos.

A professora Sandra Regina Martins, de 51 anos, uma das participantes da conversa, refletiu: “Esse encontro pode ajudar a colocar luz no caminho. Às vezes a gente está numa vida tão corrida, que, colocando holofote no problema futuro, vai se lembrar do que passou aqui.”

O fundador da Floresta Cultural, Helder Floresta, de 32 anos, informou que o filão de mata atlântica tem 400 mil metros quadrados, dos quais 80 mil são área pública, e manifestou preocupação com a preservação daquela área como cenário importante para o meio ambiente da cidade. Ele também se definiu como defensor da ideia de empreendedorismo ambiental sintonizado com o desenvolvimento econômico e social.