Empresas da região de Sorocaba usam nitrato de amônio
Explosão em Beirute formou uma coluna de fumaça. Crédito da foto: Anwar Amro (4/8/2020)
Duas cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) movimentam por ano 290 toneladas de nitrato de amônio. É o mesmo material, a princípio, identificado até o momento como causador da explosão em Beirute, no Líbano, no início da semana. O levantamento é com base na área de responsabilidade da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), em Sorocaba.
O material é usado em duas empresas da região. A primeira utiliza uma quantidade bastante reduzida por ano, sendo na área de fabricação de fertilizantes, na cidade Piedade. São apenas duas toneladas. O material ajuda na produção média anual de 200.000 litros de adubos químicos para uso agrícola e doméstico.
Quase 300 toneladas
Já a segunda trabalha com quantidade mais volumosa. São 288 toneladas por ano. O material é usado para a elaboração não contínua de explosivos. E é feita a partir da mistura realizada no local e sem manutenção de estoque das matérias primas. A empresa está localizada em Salto de Pirapora. Ela “recebe os caminhões e elabora de imediato os explosivos necessários para as detonações a serem realizadas na semana”, diz a Cetesb.
As duas empresas estão com as licenças válidas. A fiscalização é realizada pela Cetesb, com relação as condicionantes ambientais, o controle sobre o produto cabe ao Comando do Exército, incluindo a avaliação sobre os aspectos de risco.
Ainda sobre os riscos, a Cetesb salienta que o volume máximo anual utilizado do produto na região “não é significativo, considerando a diluição do estoque ao longo do ano”. Ou seja, as 290 toneladas não são estocadas de uma vez em um único lugar, mas transportadas e usadas de forma gradativa, minimizando eventuais riscos.
Não inflamável e necessário
De acordo com Hector Alexandre, professor de química e coordenador do Ciclo Básico do Curso de Engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), nitrato de amônio, que não é inflamável, para se manter estável durante o transporte não pode ser fortemente aquecido (temperaturas próximas de 300ºC).
“Se isso ocorrer liberará gases tóxicos (óxidos de nitrogênio) e detonará se for aquecido em confinamento (local fechado). Os maiores cuidados devem ser no armazenamento, assim, deve ser armazenado em local arejado e, por ser um material oxidante, nunca próximo de combustíveis, como feno, palha e grãos. Isso porque, no caso da inflamação desses combustíveis, poderá potencializar o incêndio e explodir como ocorreu no Líbano”, afirma.
Ele destaca a importância do produto na agricultura. “É essencial a fertilização do solo com uma fonte de nitrogênio como o nitrato de amônio, que é sólido e pode ser misturado a outros componente fertilizantes. Não teríamos alimento sem ele. Já na mineração, é utilizado como explosivo para detonar as rochas e permitir a extração do minério de interesse”, explica.
A Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército garantiu que o nitrato de amônio é um produto que, armazenado de maneira adequada, tem comportamento estável.
O órgão ressaltou que “cumpre sua missão institucional, fiscalizando os produtos controlados, entre eles o nitrato de amônio”. (Marcel Scinocca)