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Dia de Finados tem movimentação intensa nos seis cemitérios de Sorocaba

02 de Novembro de 2019 às 14:20

 

40 mil pessoas eram esperadas nos cemitérios da cidade, neste sábado (2). Crédito da foto: Fábio Rogério (2/11/2019)

 

A tradição de homenagear os mortos no Dia de Finados voltou a levar muita gente aos cemitérios de Sorocaba neste sábado de calor acima de 30 graus. Fazer orações, acender velas, depositar flores nos túmulos, render-se à saudade de parentes e amigos que se foram, compartilhar as sensações de perdas e se consolar nos abraços das pessoas que ainda estão próximas e muito presentes.

Todas essas emoções moveram pessoas que saíram de casa pela manhã e, solitárias ou em grupos, dirigiram-se aos cemitérios de Aparecidinha, Consolação, Saudade, Santo Antônio, administrados pelo município, e aos dois cemitérios particulares, Pax e Memorial Park.

A Prefeitura de Sorocaba projetou um público de 40 mil pessoas para os cemitérios municipais. Em meio aos pensamentos voltados para os mortos, o público teve que paciência com o trânsito na aproximação das portarias de entrada dos cemitérios. Vendedores de flores, de velas, de água e de serviços de reformas de túmulos procuravam atrair a atenção dos clientes.

Houve restrição ao trânsito nos espaços de ruas próximos às entradas dos cemitérios, com movimentação delimitada por cones e coordenada por agentes da Urbes. O calor de mais de 30 graus fez com que muita gente recorresse aos guardas-chuvas como forma de proteção.

Repetiram-se as cenas de locais de atração de maior número de pessoas, como a réplica da capela do religioso João de Camargo no cemitério da Saudade. Nesse local, a aposentada Maria Ester Faria, de 60 anos, parou para fazer orações. “Desde pequena eu venho aqui, morava perto. Recebi muitas graças. Tenho muita fé, principalmente em Deus e depois em João de Camargo”, descreveu Maria Ester.

Goleiro do São Paulo

Perto a capela do religioso, o aposentado Ademar Isac Ferreira, de 65 anos, procurava o túmulo do sobrinho, o goleiro Alexandre Escobar Ferreira. Nascido em Sorocaba em 1972, Alexandre jogou no São Paulo e despontava para uma carreira promissora no futebol, mas os sonhos dele e da família foram interrompidos em num acidente de carro na área do Cebolão, na entrada de São Paulo, em 18 de julho de 1992. Ele tinha apenas 20 anos.

Talentoso tanto como goleiro como meia-esquerda, era cotado para substituir o goleiro titular da época no São Paulo, Armelino Donizetti Quagliato, o Zetti. Com sua morte, o sucessor de Zetti foi Rogério Ceni.

Ademar viu o sobrinho crescer e prosperar na carreira de atleta interrompida precocemente. Ele falou da saudade: “Até hoje dói, ele era muito bom, gente boa mesmo.” Ainda descreveu como as emoções são processadas pela família: “A gente acha que ele está vivo, a gente não acredita que ele morreu da forma que morreu.”

Saudades e perdas

Outros visitantes tinham vários mortos para homenagear de uma só vez. No cemitério da Consolação, a aposentada Gracinda Galheira Caitano, de 65 anos, parou diante do túmulo da família e contou: “Aqui eu tenho meu irmão, um sobrinho-neto, meu cunhado e minha irmã.” Admitiu sentir “muita saudade, até tristeza, não adianta falar que não”. E administra a dor das perdas com a lembrança dos bons momentos que compartilhou com os que se foram: “E de certa forma eles estão vivos dentro da gente.” Sonha com eles e nos encontros de família a presença deles é “muito viva na nossa lembrança.”

Enquanto Gracinda se emocionava com as recordações diante do túmulo, próximo dali, no espaço da entrada do cemitério, dezenas de pessoas se reuniram para assistir a uma missa. O movimento de pessoas que caminhavam nos corredores e entre os túmulos era constante. Flores na mão, outros de mãos dadas, conversas em voz baixa, como se estivessem em comunhão. Gracinda comentou esse clima: “Você vê que cada pessoa traz sentimento parecido com o seu: saudade.” Também disse que entre as perdas está a de uma filha, que morreu aos 32 anos.

Na praça Pedro de Toledo, em frente ao cemitério da Saudade, local que se tornou um mercado aberto de venda de flores, a professora Guiomar Nascimento, de 54 anos, tinha um botão de rosa na mão e ainda procurava outras espécies para adornar o túmulo dos parentes: “Aqui eu tenho meu pai e meus avós, paternos e maternos.” Quando perguntada como administra a saudade, respondeu: “É difícil falar de saudade. O que a gente guarda são os momentos que estivemos juntos.”

O graniteiro Carlos Edenilson de Moraes, de 50 anos, foi ao cemitério Santo Antônio com a mulher, Angela Cristina, e a sogra. As perdas dos dois também são acentuadas. Moraes tem sepultados ali dois irmãos, uma cunhada, uma prima e uma sobrinha. Angela Cristina disse que somente neste ano perdeu uma prima, o pai e a avó.

Para ela, uma forma de tentar exorcizar a saudade é com a rotina de trabalho: “E não se pode deixar abater, porque a gente tem filho, tem família.” O casal tem quatro filhos. Sobre as perdas referentes aos que partiram, Moraes também disse: “Tem que viver, que ficar na saudade deles, lembrando as coisas boas deles.”

Oportunidades

Enquanto para os visitantes o Finados foi oportunidade de homenagear os mortos, para vendedores de flores e serviços foi dia de trabalho. A auxiliar de produção Roseli dos Santos Silva, de 48 anos, disponibilizou 700 vasos de flores em dois pontos próximos ao cemitério da Consolação. Ela faz isso há 15 anos, em todo Dia de Finados.

Em um dos pontos, que tinha 500 vasos, vendeu 100 unidades na primeira hora de abertura do portão. Foi um volume menor do que o do ano passado, quando nesse mesmo período já tinha vendido 150 a 160 vasos. Atribuiu a variação negativa à mudança de local do ponto. Otimista, ainda tinha expectativa de vender todos os vasos até o fim da tarde: “Ainda é cedo, tem que ter paciência.”

Os preços dos vasos variavam entre R$ 10,00, R$ 14,00 e R$ 15,00. Uma mulher perguntou se Roseli fazia promoção para levar três vasos e a resposta foi de que as três unidades poderiam custar R$ 27,00. No cemitério Santo Antonio, Ana Cristina comprou vaso de flores por R$ 9,00 e achou o preço “regular, acessível”.

O ajudante de pedreiro Marcelo Soares, de 33 anos, entregou cartões de visitas ao público em frente ao cemitério da Consolação. “A gente faz isso para pegar algum serviço a mais”, disse. Trabalha o ano inteiro no cemitério na reforma de túmulos e o Finados é oportunidade para novas chances de trabalho. (Carlos Araújo)

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