Comerciantes de Sorocaba já estão se adaptando à proibição do canudo plástico

Por Ana Claudia Martins

Maria Nazareth e sua amiga aprovaram o produto: “É muito melhor que o outro, é uma mudança necessária”. Foto: Erick Pinheiro

Os canudos de sêmola duram até uma hora mergulhados num líquido, antes de se desfazerem. Foto: Erick Pinheiro

 

Os comerciantes de Sorocaba já estão se adaptando à proibição do uso de canudos de plástico. Donos de bares, restaurantes, lanchonetes, hotéis e outros estabelecimentos, já oferecem aos clientes os canudos biodegradáveis, que não agridem o meio ambiente. A lei que proíbe os famosos canudinhos foi aprovada pela Câmara em outubro do ano passado e sancionada pelo prefeito José Crespo (DEM) em 1º de novembro.

Os comerciantes têm até agosto próximo para se adaptar às novas regras e não serem multados. Agora, os canudos alternativos devem ser fornecidos somente se houver solicitação do cliente, sendo proibida a entrega expontânea e a exposição pública. Os infratores estão sujeitos à advertência e intimação, na 1ª autuação. Em caso de reincidência, a multa pode chegar a mais de R$ 3 mil (120 Ufesps), podendo o valor ser dobrado nas demais autuações. O autor da lei é o vereador Fernando Dini (MDB).

O proprietário de uma cafeteria na avenida Juscelino Kubitschek, Edmar Mello, já adotou canudos biodegradáveis feitos de sêmola de trigo, que se parecem com um macarrão, e afirma que os clientes aprovaram. Para ele, a lei deve ser cumprida pelos comerciantes, apesar de os canudos ecológicos serem um pouco mais caro que os de plástico. “Não vamos repassar o custo para os clientes em função do ganho ambiental. É uma medida ótima para a cidade, esperamos que tanto os clientes quando os empresários façam a sua parte e deixem de vez de usar os canudos de plásticos”, diz.

Para Edmar Mello, “É uma medida ótima para a cidade, não repassaremos o custo”. Foto: Erick Pinhheiro

Na cafeteria, a consumidora Maria Nazareth Vial Rosa tomou suco com o canudo biodegradável e disse que achou melhor do que o de plástico. “É muito melhor que o outro, principalmente porque colabora com o meio ambiente. É uma mudança necessária”, afirma.

Os hotéis Novotel e Ibis Budget Sorocaba também já estão incentivando o desuso do canudo de plástico desde o ano passado, e oferecem opções alternativas como os canudos de papel e os de sêmola. Segundo o gerente-geral dos hotéis, Edmar Thomas, o canudo sempre foi apontado como um dos maiores poluentes do mundo, e agora, com o assunto em evidência, é a hora de abraçar a campanha. “Os nossos hotéis, aqui em Sorocaba, abraçaram a ideia com o objetivo de promover a qualidade de vida e não comprometer as gerações futuras”, diz. “No que depender das nossas ações por aqui, estimularemos essa mudança sustentável junto aos hóspedes, ao público em geral, colaboradores e parceiros que frequentam o Novotel e Ibis budget”, disse.

Em 2017, os hotéis do grupo AccorHotels consumiram cerca de 54 milhões de canudos plásticos na América do Sul. Até junho de 2018, a redução foi de 20%.

Maria Nazareth e sua amiga aprovaram o produto: “É muito melhor que o outro, é uma mudança necessária”. Foto: Erick Pinheiro

 

Já há canudos de sêmola de trigo e de papel

 

O mercado começa a receber canudos biodegradáveis de vários tipos. Foto: Emídio Marques

Pode parecer algo de pouca importância, inofensiva, mas você já parou para pensar que os canudos de plástico podem levar até 500 anos para se decompor? E que, descartáveis, os canudinhos feitos de polipropileno e poliestireno correspondem a 4% do lixo plástico mundial?

Segundo estimativa do Fórum Econômico Mundial, existem 150 milhões de toneladas de plásticos nos oceanos e, caso o consumo siga no mesmo ritmo atual, os cientistas preveem que haverá mais plásticos do que peixes até 2050. Diante desse cenário, empresas, estabelecimentos comerciais, prefeituras e governos estaduais de todo o mundo estão propondo e aderindo à retirada dos canudos plásticos de circulação.

De acordo com levantamento feito pelo Movimento Cidades Inteligentes em novembro do ano passado, no Brasil cidades de pelo menos 16 Estados já estão discutindo e aprovando leis para proibir o uso dos canudinhos.

O Rio de Janeiro foi a cidade pioneira em proibir o uso e, desde setembro de 2018, já multa os estabelecimentos que não cumprem a legislação. Em seguida, Santos também aderiu à causa e proibiu a comercialização e distribuição dos canudos desde janeiro de 2019. Depois disso, várias outras cidades começaram a colocar a pauta em discussão nas câmaras de vereadores, como ocorreu em Sorocaba no ano passado.

Canudos biodegradáveis

De olho nesse mercado, a empresa de embalagens Wyda, que fica no bairro do Éden, em Sorocaba, comercializou em apenas um mês cerca de mil caixas do canudo biodegradável, o que corresponde a 500 mil canudinhos feitos de sêmola de trigo. Semelhante ao macarrão, o canudo é, segundo a empresa, feito de sêmola de trigo premium, preparado com água mineral e secado em equipamentos que não usam combustíveis fósseis, ou seja, que não emitem poluentes na atmosfera.

Segundo o responsável pelo marketing da Wyda, Cadu Migliorini, o canudo se decompõe com facilidade, podendo ser usado até como alimento. “É ideal para bebidas geladas, drinks, refrigerantes, sucos, águas aromatizadas, entre outros; ele dura até uma hora, em seguida ele começa a se desfazer”, diz.

Há outros modelos no mercado, como os canudos biodegradáveis de papel, que podem até ser comidos. Também em Sorocaba, a LGE Soluções, que fica no Alto da Boa Vista, oferece canudos comestíveis e aromatizados, com oito sabores. Segundo Paulo Roberto Lopes, representante da empresa, o canudo não altera o sabor nem a cor da bebida e dura, imerso em líquido, em média 25 minutos.