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Casado com brasileira, médico cubano decide ficar em Sorocaba

24 de Novembro de 2018 às 06:30

‘Não sabemos como vamos pagar as contas’ O médico Yonel Cruz decidiu ficar no Brasil. Crédito da foto: Erick Pinheiro

O anúncio do fim da cooperação entre Brasil e Cuba, por meio do programa Mais Médicos, deixou Yonel Cruz, de 35 anos, 11 de profissão, em uma situação incerta. O médico cubano, que atua em Sorocaba desde 2014, acabou constituindo família com uma brasileira e construindo nova vida no município.

Ele conta que, assim como outros aproximadamente dez profissionais cubanos que trabalhavam em Sorocaba e se casaram no Brasil, possui permissão para ficar no país. O problema é que agora encontram-se, repentinamente, sem emprego.

“Agora estamos sem salário, não sabemos como vamos pagar nossas contas”, lamenta. A esperança do médico é de que as autoridades possibilitem uma maneira destes profissionais continuarem atuando até realizarem o exame de revalidação dos diplomas estrangeiros, o Revalida. “Se a gente clinicou por quase cinco anos qual seria a dificuldade de continuarmos medicando pelo menos até que chegue o exame de Revalida?”, diz. Cruz ressalta que não é contrário à realização do exame e que sempre agiu de acordo com o exigido pela lei, a qual pretende continuar cumprindo.

Até o início do mês, 18 médicos cubanos participavam do programa no município. Cruz estima que cerca de dez tenham se casado por aqui, sendo que alguns tiveram filhos. Ele conheceu a esposa, que é uma enfermeira de Votorantim, por meio do trabalho no Mais Médicos e a união foi oficializada há aproximadamente quatro anos.

O profissional conta que atuou na Venezuela por aproximadamente três anos em um programa de estratégia de saúde da família. “Foi também um trabalho de inclusão das pessoas mais pobres, mais necessitadas. Foi um impacto social muito grande”, diz. Recebeu, então, a informação sobre o Mais Médicos.

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Sobre os planos para os próximos dias, define: “no momento esperar pacientemente. Esperar em Deus”. O médico destaca a fé como um suporte nesse período. Os pais -- que permanecem em Cuba e com quem mantém contato pela internet -- seriam pastores evangélicos. “A posição deles é de que devo fazer o que é mais correto e está no meu coração”, diz.

Ele destaca que a seleção trazia diversas exigências, como ter mais de cinco anos de medicina, especialidade em saúde da família e experiência internacional. Cruz conta que os profissionais ainda passaram, no Ceará, por treinamento de língua portuguesa e conceitos médicos em português sendo, posteriormente, avaliados. Os aprovados foram distribuídos para os municípios, onde passaram por outros cursos preparatórios. “No meu caso, felizmente, foi aqui para Sorocaba. Em um município metropolitano, maravilhoso, no qual fui acolhido com muito carinho e muito amor”.

Atuou inicialmente na Unidade Básica de Saúde (UBS) Ulysses Guimarães, na zona norte. “Foi uma experiência muito boa. Achei que a gente contribuiu muito na atenção básica dos pacientes da região que mais precisavam -- e que são muitos”, conta. “Fizemos um trabalho à altura do que nos foi pedido e do que os médicos cubanos estão acostumados a trabalhar em mais de 66 países do mundo”, avalia. Posteriormente, Cruz passou a atender no bairro Nova Esperança, também na região norte.

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O médico já deu entrevista para alguns veículos de comunicação, enquanto outros profissionais cubanos demonstram receio em se expor. Para alguns profissionais o ritmo é de adeus, com até despedidas ocorrendo em unidades de saúde. Ao menos uma médica deveria embarcar para Cuba já no fim de semana.

Ele lamentou a insegurança provocada -- os profissionais já constituíram sua vida no país e precisam, agora, descobrir como pagar aluguel e carro, por exemplo. Cruz avalia o fim da cooperação como “precipitado” por todas as partes e que poderia ter ocorrido mais diálogo. (Priscila Fernandes)

Vagas estão quase preenchidas

No terceiro dia de inscrição para o Mais Médicos, 92% das vagas disponíveis já foram ocupadas. Balanço divulgado no fim do dia mostra que 25.901 pessoas preencheram os dados para participar do programa. Desse total, 17.519 apresentavam registro profissional válido. Nesse grupo, 7.871 já escolheram o local de trabalho e 27 já se apresentaram ontem para trabalhar.

O site para inscrições, que por dois dias apresentou problemas, esta estável desde o início da manhã. As inscrições para médicos com diploma válido no Pais vão até dia 7. (Estadão Conteúdo)